Conheça o Amapiano, música dançante que é febre na África e já começa a se espalhar pelo mundo
Uma nova dance music é sucesso popular massivo na Africa do Sul e já viaja para outros países do continente e também da Europa. O Amapiano – o piano para o quadril – tem atmosfera deep e os dois pés fincados na house music.
A África do Sul é conhecida o bastante por sua biodiversidade, multiplicidade de culturas e idiomas.
Musicalmente não é diferente, a variedade sonora originalmente sul-africana contagia o mundo todo à décadas e na dance music suas marcas estão registradas desde os anos 90. Assim, não seria uma surpresa escutar música eletrônica durante um passeio de táxi por Pretória e embora muitos declarem diferentes origens, possivelmente foi desta maneira que o Amapiano rodou por toda a cidade. Popular entre os motoristas da capital, o gênero se espalhou rapidamente por meio de compartilhamentos via o aplicativo de mensagens Whatsapp e tem espaço garantido nos primeiros lugares do top 100 da Apple Music entre as músicas mais tocadas na África do Sul.
Sob a influência dos antecessores estilos da House Music sul-africana, o Amapiano herda as linhas de baixo e harmonia do Kwaito, baterias e percussões do Bacardi e claro, faz jus ao nome considerando o piano como o instrumento predominante. “Piano para o quadril” como é apelidado, envolve mais do que o corpo, teclados e synths jazzy trazem o tom do Deep House tornando-o extremamente envolvente e cheio de alma, fazendo desta a sua característica original. O duo JazziDisciples formado pelos DJs JazziQ e Josiah Makoela, exemplificam muito bem essa fusão com o Jazz, assim como DJ Stokie que descreve sua música como “quieta e madura”. Isso explica o motivo da febre não ser tratada apenas como uma onda passageira e local, e sim um universo inteiro que se estende por toda cultura de música. Manifestada no comportamento, moda e dança com muita sensualidade envolvida, é nesse ritmo naturalmente quente, contínuo e atemporal que o Amapiano se instalou, transmitindo a emoção de liberdade de toda uma sociedade que à menos de três décadas se livrou do apartheid.
Ainda que os primeiros sons tenham surgido em 2012, foi nos últimos dois anos que passou a ter a presença massiva em todas as plataformas digitais e é hoje o movimento de música eletrônica que mais cresce em todo continente africano. Isso fez com que uma mutação natural ocorresse ao cair nas graças do mainstream e as músicas que antes eram lideradas por seu conteúdo lírico, produzidas por pianistas e DJs de hip-hop, atualmente sofrem também com a forte influência da dance music pop como a vertente Gqom, entrado de vez no mercado comercial. Artistas como Kabza De Small, Vigro Deep e Kwiish SA transformam músicas populares em grandes hits, o que cria um debate recorrente sobre essa ambigüidade em relação às suas origens e posicionamento mas evidencia o dinamismo desta indústria musical.
Rafael Moraes, músico, DJ e produtor paulistano, tem as influências afro-latinas estampadas em seu trabalho e afirmou durante um bate-papo que o movimento é gigante e que se alimentou de diversas fontes. “Há 15 anos atrás já era possível escutar dance music nas rádios de Joanesburgo, sendo assim, é importante compreender o quanto os africanos são orgulhosos do impacto da afro house no mundo todo. Já as discussões sobre o Amapiano se tornam controversas por se tratar de um movimento de galera mais jovem e muitas vezes mais comercial que se propagou rapidamente pelas redes sociais com vídeos de jovens dançando.”
Despertando amor e ódio, o público continua em expansão e não se apega às rixas que envolvem artistas na maioria das vezes brancos e de outras nacionalidades, ou melhor, quem não tem nada a ver com isso. Em meio a esse grande e velho debate entre a música underground e o pop, o Amapiano é o som africano mais representativo da atualidade em todos os aspectos culturais diante da sua diversidade de composições, assumindo o controle das festas e rádios, garantindo assim o apoio de grandes artistas como Black Coffee, Kid Fonque e Zakes Bantwiki, que defendem a liberdade de expressão que o estilo puramente sul-africano carrega, reivindicando respeito, principalmente por erguer a bandeira do país pelo globo em forma de um movimento único e genuíno.
Separamos cinco faixas para você entender o Amapiano! Divirta-se.