Ca7riel & Paco Amoroso Foto: Tati Silvestroni/Music Non Stop

Como Ca7riel & Paco Amoroso tiram onda do conceito de masculinidade

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Dupla argentina explica ao The Guardian como vem desconstruindo estereótipos

Poucos artistas materializam a gíria “explodir” no meio artístico quanto nossos vizinhos Ca7riel & Paco Amoroso. De uma hora para outra, só se fala nos garotos (assim parecem, apesar de já estarem ambos com 31 anos). Estão em todos os festivais. Passaram pelo Brasil no último Lollapalooza, voltam ao país em setembro para duas apresentações, subiram ao palco do último Glastonbury, do Fuji Rock, no Japão, e se alastram pela Europa em uma turnê interminável, parte dela acompanhada pela mãe de Ca7riel, com 73 anos de idade. “É esquisito para mim, mas é muito mais esquisito para ela”, disse o filho fofo ao jornal The Guardian, mais um importante veículo cultural que dedicou extensas e elogiosas palavras sobre os caras (A Rolling Stone gringa os chamou de “o futuro da música”).

A bomba explodiu no escritório de um cultuado programa de rádio, transmitido pelo YouTube: o Tiny Desk. A ele, os dois argentinos devem muito. Foi sua aparição no programa, com uma baita banda e se juntando a convidados anteriores que vão de Milton Nascimento a BTS e Dua Lipa, que os projetou e chamou atenção de curadores de festival do mundo tudo, além do público. Até agora, 36 milhões de pessoas já viram essa apresentação, e recomendamos fortemente que você também o faça. Certamente vai se render ao som dos argentinos.

Bons de palco, simpáticos e muito inteligentes (começaram seu show com um samba instrumental no Lollapalooza brasileiro, interromperam o som e disseram: “esquece, vocês fazem muito melhor do que a gente”), Ca7riel e Paco Amoroso se conheceram na escola, montaram banda de metal, partiram em carreira solo e se reuniram para conquistar o mundo, apresentando o tal som do futuro: uma fusão de funk, soul, reggaeton, rock, rap e o que mais pingar em suas talentosas cabeças cabeludas.

Quem assiste aos shows dos dois percebe (impossível não notar, aliás) uma deliciosa antitude antimacho em cima do palco, tornando bem difícil rotular os dois em um gênero. São pintosos, sexys, ora fazendo tipo para as meninas, ora se beijando, com a proposital estratégia de confundir. Ou melhor, destruir os rótulos, os padrões de comportamenteo.

“Existe uma pressão sobre os homens latinos, especialmente os artistas, para se parecerem como action figures. Nós não somos anticorpo. Somos anticaixinhas. A música pop às vezes é tão polida, com tanto medo de ofender, mas nós queremos zoar as expectativas: de masculinidade, de gênero, de como um artista latino deveria parecer ou soar”, contaram ao The Guardian os caras que, ora se apresentam quase pelados, ora vestidos com uma roupa com músculos pintados.

O público do país de Ney Matogrosso já conhece essa fórmula, e qualquer um que efetivamente viva com a cabeça em 2025 celebra a desconstrução de Ca7riel e Paco Amoroso. De quando em quando, e para alegria da humanidade, surgem artistas que juntam atitude, ruptura e muito boa música. É isso o que os caras fazem: seu som é pop, mas não é fácil. Traz camadas e proposições que vão além do esquema “festa, diversão e birita”. Espertamente em seu plano de destruir o macho man, também incluem em sua música muitos elementos sonoros que fazem com que o moleque da quebrada se reconheça e, admirando-os, mude sua forma de pensar e agir com as mulheres. Parece que estão no caminho certo!

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.