Como a música pode ser aliada no tratamento de pessoas que convivem com o Alzheimer 

Amanda Sousa
Por Amanda Sousa

Que a música é uma das formas de expressão humana mais sensíveis e significativas na vida das pessoas, a gente já sabe, não é mesmo? Além disso, ela também tem um papel importantíssimo e poderoso para a nossa saúde mental, sendo muito utilizada nos tratamentos para autismo e Alzheimer. Aliás, recentemente falamos sobre a relação da música com o autismo, veja aqui. Agora vamos explorar os ganhos significativos que a música pode trazer para a prevenção e tratamento da demência. 

A Doença de Alzheimer atinge, em geral, pessoas mais idosas e provoca a degeneração das células cerebrais, resultando na perda de memória e das funções cognitivas. Apenas 7,13% dos casos mundiais de Alzheimer se dão abaixo dos 65 anos. Entre os que estão na casa dos 85 anos ou mais, 35% têm Doença de Alzheimer.

Em relatório mundial da Doença de Alzheimer, divulgado pela Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz), destaca-se estudo da Escola de Economia e Ciências Políticas de Londres com cerca de 70 mil pessoas de mais de 100 países diferentes. Ele constata que a desinformação da população em relação à demência de forma geral é alarmante: dois terços dos entrevistados acreditam que a demência é normal e faz parte da velhice. A falta de orientação sobre o tema prejudica o diagnóstico precoce e tratamento adequado.

Conversamos com a Musicoterapeuta Luisiana B. França Passarini para entender um pouco mais sobre o benefício da música no tratamento de Alzheimer. Luisiana tem um currículo extenso e é dedicada à pesquisa sobre musicoterapia na primeira infância. Além disso, é fundadora e diretora do Centro de Musicoterapia Benenzon Brasil (CMBB), que é um espaço de atendimento musicoterapêutico e capacitação profissional em musicoterapia e assuntos correlacionados, fundado em 2006 e é referência nacional na área.

Antes, é importante ressaltar que música é diferente de musicoterapia, afinal, o uso da música por si só, como autocuidado ou por outros profissionais, não é musicoterapia. Musicoterapia, como você vai poder perceber ao longo deste texto,  é o uso da música como terapia por um profissional que tem formação superior em musicoterapia. O profissional utiliza técnicas específicas para engajar o paciente em experiências musicais para alcançar determinados objetivos terapêuticos. Outro ponto importante a ser frisado é que o tratamento farmacológico precisa ser mantido, pois são tratamentos que se complementam. Um não substitui o outro, cada um tem suas especificidades que, somadas, visam uma melhor qualidade de vida do paciente. 

foto: Unsplash

Música, memórias e emoções 

A música ativa várias áreas cerebrais e, entre elas, áreas diretamente relacionadas às emoções, às memórias e às sensações de prazer e recompensa. Tem o potencial de resgatar memórias autobiográficas, que dizem respeito a situações, fatos e pessoas importantes na história de vida das pessoas. Para Luisiana 

“A utilização da música como terapia (o que denominamos musicoterapia) tem o potencial de trabalhar a expressão dessas emoções e evocar memórias de vida, ajudando a pessoa a sentir-se novamente inserida em um contexto social e familiar. Por mais avançada que esteja a doença, mesmo em situações de grande desorientação, a experiência musical pode ser norteadora, apaziguadora e trazer mais tranquilidade e melhores possibilidades de comunicação para o paciente e para a família o que, consequentemente, influencia positivamente na qualidade de vida de ambos.”

Luisiana explica, ainda, que a experiência musical está fortemente atrelada às memórias de vida e às emoções. “Através de uma canção, por exemplo, o paciente pode expressar seus  amores, desamores, medos, afetos, etc.” Além disso, estudos demonstram que a música pode modular o humor e estimular a liberação de substâncias químicas relacionadas ao prazer e bem estar.

 Mais qualidade de vida

Estudos científicos demonstram uma diminuição na agitação psicomotora, na irritabilidade, na ansiedade durante o tratamento com musicoterapia. Além disso, há também comprovada melhora na qualidade do sono, melhora na comunicação entre paciente e familiares e/ou cuidadores e, portanto, melhora na qualidade de vida das pessoas. “Cada pessoa responde de uma maneira, cada pessoa apresenta dificuldades diferentes. No entanto, de modo geral, nossa constatação clínica coincide com esses resultados”, diz Luisiana. 

foto: Unsplash

Prevenção 

A música é, sem dúvida, uma aliada na prevenção do Alzheimer. Luisiana explica que alguns hábitos saudáveis, incluindo atividades que estimulam a cognição, são apontados como importantes fatores protetivos para retardar o aparecimento da doença de Alzheimer. 

“Considerando que a música tem um grande poder de engajamento e gera satisfação nas pessoas, a musicoterapia tem valiosos recursos para a estimulação cognitiva. O  musicoterapeuta  utilizará estratégias e técnicas específicas para engajar a pessoa em experiências musicais com intenção de trabalhar atenção, memória, planejamento e execução de ações, linguagem, coordenação motora, entre outros.”

Portanto, cuidemos de nós e da nossa mente. Vamos fazer e ouvir músicas juntos sempre! 

foto: Unsplash

Amanda Sousa

Amanda Sousa é mãe, feminista, tem 30 anos e é formada em Comunicação Social. Natural de São Paulo, atualmente mora em Jundiaí. É apaixonada por música desde que se entende por gente. Vai do punk ao pop, gosta de descobrir sons em todas as vertentes.

× Curta Music Non Stop no Facebook