Com festas de dub a techno, SP na Rua comprovou que São Paulo pode ser a cidade mais legal do mundo
Fotos Claudia Assef e Renata Simões
Faz frio em São Paulo, pra mim tá sempre bom. Eu tô na rua de bombeta e moletom.
O sábio Mano Brown já sabia que friozinho nenhum é problema pra galera que curte a noite de São Paulo. E que noite foi a do último sábado (10), com os 25 soudsystems do SP Na Rua espalhados pelo Centro Histórico, que compreende as regiões da Sé, Anhangabaú e Largo São Bento.
O SP na Rua Impressionou pela organização, impressionou pela pluralidade, impressionou pela amor das pessoas pela cidade.
Conforme já tínhamos reportado aqui, este ano os coletivos foram agrupados em duplas nos 25 palcos espalhados pelas ruas do centro. Pra quem chegava de metrô, o início do rolê era bem convidativo, já que a Praça da Sé estava defumada pelas benções de Jah com a galera do dub/reggae tranquilona curtindo um som. Resolvi desencanar de seguir o mapa com a programação e sair andando pelas ruas a esmo.
Foi bem legal ir descobrindo que a programação explorou a proximidade sonora dos núcleos de festas também na geolocalização dos palcos. A turma do dub/reggae formou uma triangulação bem interessante com seus palcos (Dubversão Sistema de Som, Quilombo Hi-Fi & Djanguru Sistema de Som e o SP Dub Club: Leggo Violence Sistema de Som e JZ Sound System Roots Phavella), paredões coloridos de som e esquadrilhas de fumaça.
Também na região da Sé, o palco Vampire Haus + Tela Bruta era perfeito pra quem buscava os BPMs do techno aliados a muita performance em cima das caixas de som. Causação e techneira era o mote da noite por ali, já que o tema do palco organizado pelo casal Belalugosi era Vale das Vampiras, Putas, Fadas, Duendes e Zombies.
Chegando à Praça do Patriarca, um lugar que por si só já causa um belo impacto, com o maravilhoso pórtico desenhado pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha, o palco reunindo as festas ODD e Selvagem foi emoldurado pela potência laranja das caixas de som Pure Groove. O público misturava a galera montada da ODD com os fiéis devotos da festa Selvagem.
FALAMOS COM OS MENINOS DA FESTA SELVAGEM, QUE LANÇA NOVO VINIL
Enquanto fiquei por ali, vi Márcio Vermelho mostrar com quantos beats se faz um set de techno sexy e cerebral ao mesmo tempo. Pra mim, um dos melhores DJs atuantes em São Paulo há algum tempo já, brilhou mais uma vez numa noite inspirada.
Na seara do techno, aliás, a representação estava de altíssimo nível. Palcos como Metanol FM + Caldo (vi trechos de um belo set de Thiago Salvioni) e as poderosas Andrea Gram e Amanda Mussi, dos núcleos Dsviante e Dûsk, atraíram multidões de gente a fim de dançar sob seus poderosos grooves do som de Detroit e vertentes.
Bem no meio do Vale do Anhangabaú, as festas irmãs Capslock e Mamba Negra amealhavam seus ardorosos seguidores num palco onde a programação ía do techno à música brasileira com batidas eletrônica do projeto Teto Preto.
MAMBA NEGRA ESTRÉIA SELO COM VINIL DO TETO PRETO
No som, vi a chilena Valesuchi simplesmente botar a casa abaixo, misturando faixas clássicas de house, como Move Your Body do Marshall Jefferson, com produções atuais, diante de uma galera que se espremia na grade para estar mais perto do crew.
Entre as várias intervenções espalhadas pelas ruas do centro, parei pra curtir o palco Canvas, com três nomões do universo VJ: Spetto, Pedro Zaz e Elka Andrello. Dentro de um cercadinho, os três se revezaram em projeções lindas e também no comando do som.
Minha noitada encerrou com muitas risadas na frente da intervenção Cabaret Voltaire + Feira das Vaidades, um palco de shows burlescos/bizarros que tinha uma drag queen bem locona como apresentadora das atrações. Uma das performances era simples assim: entrava um cara barrigudinho, vestindo uma penca de bananas no lugar da sunga e nada mais. Ele foi jogando as bananas e dançando todo sensual até não restar nada. Ficou peladão, virou a bunda pra platéia e desenrolou uma bandeirola (não tenho certeza de onde ele tirou, mas imagino) com os dizeres: FORA TEMER. Pra mim, não teve jeito melhor de me despedir dessa festa linda.
Saldo da noite: encontrei e me perdi de trocentos amigos e conhecidos, consegui dançar sets muito bons, conheci prédios lindos que nunca tinha visto antes, usei o banheiro químico várias vezes em diversos pontos diferentes (e não encontrei nenhum alien lá dentro), fiquei na vontade de passar por vários palcos e voltei pra casa exausta, mas feliz. Parabéns aos envolvidos e até 2017, se a política deixar. Abaixo mais fotos dessa festa que representa a resistência democrática do amor pela cidade e pela música underground.