Coletivo brasileiro de VJs lança programa de projeção em fulldome elogiado pela NASA

Claudia Assef
Por Claudia Assef

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Lembra quando a palavra videomapping surgiu e todo mundo achou que havíamos chegado ao futuro, pelo menos no que se refere ao universo de VJing? Então, se você curte esse mundo de projeções e imagens, chegou a hora de aprender outra palavra: fulldome.

Trocando em miúdos, o fulldome é um VJ set realizado num domo. Sabe o planetário? Então é mais ou menos isso. Em festivais como o Mutek, em Montreal, o fulldome vem encantando o público há algum tempo já.

Daí que um dos mais importantes coletivos de VJs brasileiro, o United VJs, criou o Blendy Dome VJ, um software que está sendo considerado como o mais moderno do mundo no universo fulldome. Lançado recentemente no Simpósio Internacional de Criatividade Imersiva, em Montreal, Canadá, o software deixou de queixo caído até um bigode grosso da NASA.

Se a gente considerar que o fulldome é o futuro dos clubes, como muita gente tem falado, então o Brasil está na ponta.

O novo colaborador do Todo DJ Já Sambou Daniel Cozta foi falar com o VJ Spetto, do United VJs, pra entender melhor essa parada. Leia a esclarecedora entrevista a seguir e aprenda com o mestre.

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Todo DJ Já Sambou – Como surgiu a ideia de fazer o Blendy Dome VJ?

Spetto – Durante o desenvolvimento do MadMapper, software para mapeamento da GarageCube, nós, dos United VJs, fizemos parte da equipe de teste. Nesse período, Pedro Zaz, que é um profundo conhecedor e estudioso da tecnologia de projeção em planetários digitais (ou Fulldome Projection), criou o conceito de uma ferramenta para mapeamento de esferas e superfícies curvas.

O Roger (Sodré, também integrante do United VJs) então pesquisou a teoria de dômos de Paul Bourke (ubermastergênio da nossa época), e juntamos tudo em mais alguns conceitos com a finalidade de podermos fazer um live VJ Set dentro de um planetário digital.

Mais tarde conhecemos a meca dos planetários: o Planetário de Jena, desenhado por ninguém menos que o Carl-Zeiss. E foi lá que definitivamente nos apaixonamos pela ideia de poder ser VJ num ambiente imersivo como esse.

Todo DJ Já Sambou – Vocês são referência quando se fala em videomapping no Brasil e no mundo como artistas e também como propagadores da tecnologia e conhecimento através da VJ University, e agora são responsáveis por esse software. Só falta a casa própria, no caso, um domo?

Spetto – Rsrsrsrs, sim, nos falta a casa própria, talvez uma escola-dome, ou um domelab, um local onde possamos ter o ambiente de ensino, experimentação, festa e performance. Enquanto isso não acontece, ficamos como nômades levando o conhecimento onde possa interessar.

Todo DJ Já Sambou – Qual a principal diferença entre o VJing em tela plana e o fulldome, falando de conteúdo?

Spetto – A diferença é a imersão. Numa tela fulldome, o espectador está literalmente dentro da projeção. Então tudo muda; o jeito de pensar o roteiro, a ação e a técnica de produção. O timing também é outro, pois uma informação que cruza o dômo deve respeitar o tempo de observação, não dá pra fazer tudo tão rápido, pois não há tempo hábil para acompanhar a informação trafegando no espaço. Temos que respeitar o espaço. É uma evolução do que fazemos no videomapping – respeitar a forma para expressar melhor o conteúdo.

Todo DJ Já Sambou – O fulldome é o futuro dos clubes?

Spetto – Essa é uma pergunta interessante. Na verdade já houve um clube em Nova York, no início dos anos 80, que era dentro de um dômo, o club The Saint. Eu conheço algumas pessoas que chegaram a frequentar esse clube – e que ainda estão vivas para contar a história. Todas elas são categóricas em dizer que igual ao The Saint nada existiu. Seja pelos DJs, seja pela festa, soundsystem ou pela arquitetura do local. E olha que não existiam projetores no clube!! Tudo era feito com efeitos de luz e estrobos.

Todo DJ Já Sambou – Quando os marketeiros conheceram o mapping, todas as marcas queriam (e ainda querem) fazer um, de alguma forma. Você acha que isso vai acontecer com o fulldome?

Spetto – Eu acho que quando os educadores e comunicadores descobrirem o que é o fulldome será uma revolução no método de ensino e comunicação. Sobre os marketeiros, a gente sabe que eles vêm atrás de toda e qualquer coisa boa.

Todo DJ Já Sambou – Qualquer pessoa pode comprar o Blendy Dome VJ ou precisa de um certo conhecimento?

Spetto – Justamente, é preciso algum conhecimento, porém, eu diria que qualquer um pode comprar e começar a operar. Nosso intuito é trazer ao artista de vídeo uma forma fácil de entrar nesse universo que é tão fechado e difícil de operar.

Veja só: hoje em dia para operar um Fulldome você precisa de vários servidores, fazer o mapeamento e o slicing da sua mídia, sincronizar, renderizar em formatos específicos, não há possibilidade de fazer um VJ set ao vivo, enfim, é difícil, fechado, complexo, custoso.

O que o Blendy Dome VJ faz é: esqueça isso tudo, mapeie facilmente e, através de simples visualização, faça tudo a partir de um laptop só, sem necessidades de vários servidores, não faça mais renders e renders e renders. Toque sua mídia diretamente em programa de VJ e deixe todo o resto com o Blendy Dome VJ. Tudo isso por um décimo do preço atual.

Queremos acabar com o blábláblá da técnica e deixar muito mais espaço para o discurso do artista. Afinal somos VJs e queremos é criar superambientes.

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Todo DJ Já Sambou – Qual é o impacto causado no mercado de softwares com a entrada do  Blendy Dome VJ?

Spetto – Eu diria que é no mínimo revolucionário. Acabei de voltar de Montreal, Canadá, onde fui lançar o BDVJ no Simpósio Internacional de Criatividade Imersiva. Vi os olhos de gente com mais de 40 anos na praça brilhar, outros rindo de felicidade em saber que acabou o render time. Vi o Embaixador Chefe de Astrobiologia da NASA dizer que o BDVJ é a coisa mais revolucionária que já viu em anos: disse que finalmente poderá levar os artistas para o seu planetário. Esse é o impacto que estamos trazendo, afinal o céu já não é mais o limite dentro de um Fulldome.

 

 

 

 

Claudia Assef

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Autora do único livro escrito no Brasil sobre a história do DJ e da cena eletrônica nacional, a jornalista e DJ Claudia Assef tomou contato com a música de pista ainda criança, por influência dos pais, um casal festeiro que não perdia noitadas nas discotecas que fervilhavam na São Paulo dos anos 70.

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