
Festa essencial do techno brasileiro, Circuito retorna depois de 17 anos
Circuito no Lago rola neste sábado, às margens da Represa Billings, em São Bernardo do Campo/SP
Neste sábado, 07 de junho, 800 pessoas vão se unir no Espaço Dieters, às margens da Represa Billings, para celebrar, cheios de saudade, a festa que ajudou a solidificar o cenário techno brasileiro na virada do milênio, construindo uma rodovia que trouxe ao Brasil DJs desejados pelos amantes da “lenha” — gíria usada na época para o hard-techno —, e levou à Europa talentos daqui. Falamos da Circuito, encabeçada pelo jornalista Andre Barcisnki, ao lado de Gabriel Gaiarsa e Sergio Godoy.

Em formato day rave (das 12 às 22h), o rolê, de volta depois de 17 anos, recebe Manu Villas, Renato Cohen, Valentino Kanzyani (Eslovênia) e Camilo Rocha. Sim, nenhum DJ toca menos do que duas horas, uma raridade em tempos de festivais lotados de atrações fazendo sets de absurdos 45 minutos.
Em um país fraquinho para registrar sua história (o Music Non Stop é uma exceção), muitos garotos que hoje idolatram, merecidamente, ídolos mundiais, não sabem que a DJ ANNA, internacionalmente conhecida, batia ponto nas Circuito. Hoje, até festivais como Tomorrowland estão recheados de DJs de techno. Marcas gringas como Time Warp e DGTL realizam eventos no país todos os anos, cheias de felizes festeiros. Mas nem sempre foi assim.
Quando a Circuito começou, a cena paulistana era pequenina, mesmo na cidade que tinha nomes como DJ Mau Mau, Andrea Gram e Renato Lopes.

Imagem: Reprodução
“A Circuito começou com uma festa para tentarmos trazer os DJs que a gente ouvia e gostava. Como tudo, começa como uma diversão e depois adquiriu uma dimensão mais… bem, não vou dizer séria porque a gente nunca viveu dela [risos], mas foi ganhando corpo porque o techno era uma das menores cenas da cidade, comparando com o trance e o drum’n’bass, por exemplo”, conta Barcinski, em entrevista ao Music Non Stop.
À aurora da cena eletrônica, tocava-se de tudo em uma noite só. Era normal ver line-ups com DJs de vários estilos. Com o seu amadurecimento, na virada do milênio, tudo começou a se segmentar. Foi nesse momento que a Circuito nasceu.
“A coisa cresceu quando começamos a criar uma sinergia com o público. As pessoas entenderam que não era um festa excessivamente comercial. Trazíamos artistas muito underground, muito alternativos.”

Lembra da história da rodovia, aqui no começo da matéria? Pois é, o Brasil tinha um belo balaio de ótimos DJs, atualizados e técnicos, batalhando por aqui, tocando os discos dos caras que vinham para a Circuito. Quando os artistas de ambos os continentes se encontraram, deu match.
“O que acabou acontecendo, e que nem era uma ideia nossa, é que as festas viraram pontes para conectar DJs europeus e brasileiros. Quando o DJ Rush veio à Circuito pela primeira vez, em 2002, viu o PETDuo tocar. Eu me lembro de levá-los a um almoço para apresentar Rush, que os levou para tocar pela primeira vez na Europa. O mesmo aconteceu com o Space DJs, que ajudou o [brasileiro] DJ Murphy a fazer sua primeira turnê internacional. Todos DJs, que lá no começo, tocaram com a gente. Não foi um objetivo, mas foi uma consequência, e isso é emocionante.”
A relação de amor estabelecida entre os techneiros de São Paulo e a festa não ficou restrita ao público. Encontrar-se com a insana trupe de techno brasileiro, para os gringos vindos da congelândia, era tão especial que alguns produtores chegaram a lançar disco em homenagem à festa. Stanny Franssen, o G-Force, fez o Circuito EP, e Ade Fenton, o Circuito é Vida EP.
Mas a história mais divertida dentre as 50 edições da Circuito foi na primeira, e envolve um dos maiores hits da história do techno: Pontapé, composta pelo nosso patrimônio Renato Cohen.
“Em outubro de 2001, o Cohen se apresentou antes do Chris Liebing, da Alemanha, e encerrou o set com um white label da Pontapé. Ele fez isso para ver se o Chris se empolgava com a música para lançar por sua gravadora, a CLR, mas o Liebing não falou nada, não se ligou muito, e o Renato acabou lançado pela gravadora [muito maior] Intec, do Carl Cox. A música se tornou um puta sucesso mundial, como todo mundo sabe, e alguns dias depois o Renato estava em Frankfurt, na casa do Liebing, e contou essa história. O alemão respondeu: ‘peraí. Você está dizendo que tocou Pontapé para ver se eu notava a música e a lançava e eu não lancei? Para de falar disso para eu não ficar mais deprimido do que já estou.”
Camilo Rocha — “um cara que nos ajudou bastante no começo, indicando DJs. Ele já conhecia todo mundo” — e Renato Cohen tocaram na primeira Circuito. Valentino Kanzyani vem para mostrar o set que vem fazendo em festivais na Europa, com três toca-discos tocando clássicos do techno. Em conversas nos últimos festivais de SP, o público da época já avisou que vai, em massa. Se você correr, consegue ser um dos 800 sortudos presentes.