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Chiquinha Gonzaga e a 1ª marchinha de Carnaval da história

Chiquinha Gonzaga é a autora da primeira marchinha de Carnaval

Chiquinha Gonzaga. Foto: Arcervo Edinha Diniz/Divulgação

Conhecida até hoje, Ó Abre Alas! foi feita pela compositora para o cordão Rosa de Ouro, ainda no século XIX

Em 1880, Andaraí era uma região tranquila, rodeada por belas matas e uma juventude animada, a ponto de se tornar um dos poucos bairros cariocas a ter seu próprio cordão carnavalesco, o Rosa de Ouro. Na época, nem mesmo o nome “cordão” era usado. Os grupos de amigos e vizinhos que se organizavam para festejar eram chamados de “sociedades carnavalescas”. Na época, o Rosa de Ouro dividia o Carnaval com “rivais” como o Congresso das Sumidades Carnavalescas e os Tenentes do Diabo. O Cordão do Bola Preta, mais famoso bloco do Rio de Janeiro ainda em atividade, só iria surgir nas ruas 30 anos mais tarde.

Os cordões eram uma espécie de resposta punk aos ranchos carnavalescos, uma tropicalização da tradição veneziana. Os ranchos, vovós das escolas de samba, eram dissidências satíricas das procissões religiosas. Tinha rei, rainha, porta-estandarte, tema e mestres. Uma banda (sem percussão, olha que doideira) acompanha o cortejo com violão, flalta, ganzá e outros instrumentos de sopro. O tipo de música tocada nos cortejos passou a ser chamado de “marcha-rancho”.

Achando que o rolê estava careta demais, jovens começaram a se organizar em cordões. Bem mais anarquistas, os grupos também procuravam se distanciar dos ranchos na música. Trouxeram a percussão da fanfarra para o rolê, aceleravam a marcha-rancho e traziam temas mais animados. Era comum também que os cordões criassem alguns bordões próprios, que eram cantados em coro quando passavam pela multidão. E o pessoal do Rosa de Ouro levava o bagulho a sério, a ponto de decidir criar uma música-tema para o cordão no Carnaval de 1899.

“Ô dona Chiquinha, faz um som ai pra nóis!” Chiquinha Gonzaga morava no Andaraí, era amiga da galera do Rosa de Ouro e, na época com 52 anos, já era um compositora consagrada. A genial compositora aceitou o desafio e, sem saber, estava criando a primeira marchinha de Carnaval da história.

 

Ó Abre Alas! é uma delícia de marchinha, cantada até hoje pelas ruas no Carnaval brasileiro. Seus poucos versos dizem muito sobre o jeito carioca de festejar no século XIX. “Ó, abre alas, que eu quero passar!”, feito sob medida para que a multidão abrisse um corredor para o cordão desfilar pelas ruas. “Eu sou da lira, não posso negar” era uma declaração de amor à música feita pela própria compositora. A expressão “ser da lira”, um instrumento musical parecido com a harpa, significava viver de música. Ou, pelo menos, viver para a música. Finalizando o hit simples e grudento, uma provocação aos outros cordões concorrentes, com o simples “Roda de Ouro é quem vai ganhar”.

O Rosa de Ouro foi desaparecendo aos poucos, assim como vários outros cordões, no final de década de 1920, com a criação das primeiras escolas de samba. Sua música-tema, porém, é eterna. A partir dela, ter seu próprio hino era obrigatório para qualquer cordão.

Quando a marchinha caiu no gosto da população, a partir de 1910, os temas começaram a ser renovados ano após ano, chegando ao ponto de se tornarem um movimento cultural tão forte que, às vésperas do Carnaval, centenas de compositores lançavam novas canções, na expectativa de fazer o grande hit da festa.

Abram alas para Chiquinha Gonzaga!

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