Charlotte Matou Um Cara Foto: Tati Silvestroni/Music Non Stop

Charlotte Matou Um Cara resgata a essência do Lollapalooza

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Banda de mulheres trouxe tudo o que o festival de Perry Farrell oferecia em seus primórdios

Se você queria saber como nasceu o Lollapalooza, bastava estar no show da Charlotte Matou Um Cara no Palco Mike’s Ice neste domingo. Formada só por mulheres, a expoente do punk-rock brasileiro trouxe tudo o que o festival oferecia em seus primórdios, quando foi criado por Perry Farrell como uma turnê de promoção de sua banda, Jane’s Addiction.

Punk-rock cru e incisivo de primeira linha, meteção de pau na Polícia Militar, nos políticos, nos machistas e homofóbicos, em um show com cara de festa em estacionamento (como foi o primeiro Lolla). O mundo precisa de bandas como a Charlotte e festivais como o Lolla, ainda que no velho e clássico horário safado, no começo do rolê, ainda com o público chegando. Atrapalhou? Não.

Charlotte Matou Um Cara já foi limada de um festival paulistano (patrocinado por uma marca de skate, acreditem) por ter um nome muito “provocativo”. Por isso, palmas para o Lollapalooza Brasil, que bancou as garotas em um evento que, estranhamente, está fraquíssimo de manifestações de protesto vinda dos artistas maiores, brasileiros e internacionais. Um festival de gene alternativo feito em um ano em que o mundo está afundado em massacres chega a incomodar de tão chapa branca. Afinal, aqui está o futuro da nação.

Não bastasse tal preza, as meninas da banda ainda trouxeram outras delícias botinentas para o Lollapalooza 2025. A banda tocou uma versão da clássica Festa Punk, dos Replicantes, trocando os nomes das várias bandas citadas na letra por representantes femininas e queer do cenário punk. Sensacional. Finda a catarse, a Charlotte ainda honrou a história da música brasileira convidando a lenda Sandra Coutinho para cantar três músicas na última parte do show.

Charlotte Matou Um Cara

Foto: Tati Silvestroni/Music Non Stop

O Lolla cresceu, virou megacorporação da indústria do entretenimento e hoje, de seu formato original, mantém pouco mais que o nome. Devem às meninas da Charlotte Matou Um Cara a execução de um verdadeiro documentário ao vivo sobre os valores e missão do festival de Farrell.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.