Cem anos de comédias românticas: em mês de dia dos namorados, apaixone-se pela história do gênero
Fim de semana de Dia dos Namorados, no Brasil, e alguns encontros e comemorações com certeza serão em frente à TV assistindo a alguma Comédia Romântica.
Comédias românticas, subgênero que mescla o romance e a comédia faz bastante sucesso e alavancou a carreira de atrizes e atores como Sandra Bullock, Julia Roberts e Hugh Grant.
Mas, seria ele uma moda do cinema dos anos 1980 para cá? Quais seriam os filmes mas conhecidos do gênero? Que tal descobrir as respostas para essas e outras perguntas? Pois cheguem mais que a conversa de hoje é sobre a história da Comédia Romântica ou Rom-Coms no cinema.
Definindo a Comédia Romântica
Antes de mais nada a investigação sobre o gênero se inicia na literatura. Segundo Bill Johnson, no artigo The Art of the Comedy Romantic, de 1996, as comédias românticas são dramas sobre romances apresentados de maneira leve e descontraída.
Dessa forma, as narrativas do gênero têm três elementos com comum. Um deles é a certeza de que existe um amor verdadeiro. Outra certeza é a de o seu par está te esperando em algum lugar lá fora. Da mesma maneira o terceiro elemento é a ideia de que o amor supera todo e qualquer obstáculo.
Da mesma forma o plot dessas narrativas consiste em um encontro (meet cute) casual e cativante seguido de algum empecilho. Assim ocorrerá uma separação que se desdobrará em uma série de situações confusas e cômicas, se encerrando em um reencontro e no final feliz. Entretanto existem aquelas comédias em que os casais não ficam juntos ao fim, mas que nem sempre significam ser um fim triste. Comédias Platônicas é o nome dado para filmes com essa finalização.
Antes do cinema, a literatura
Pois bem, agora que conhecemos os aspectos que caracterizam a Comédia Romântica é importante saber que o gênero antecede o cinema, pois suas características existem há séculos na literatura. O maior exemplo disso é William Shakespeare. Algumas de suas obras, como Sonhos de Uma Noite de Verão e A Megera Domada possuem características citadas acima.
Assim como Shakespeare, a também britânica Jane Austen dominava a estrutura da comédia romântica e as usava em suas obras. Inúmeras vezes clássicos de sua autoria viraram em produtos audiovisuais desse gênero. Como exemplo podemos citar como Emma e Orgulho e Preconceito.
Comédias romântica do início do cinema
Para alguns pode parecer que as comédias românticas surgiram ali por volta dos anos 1980 com os filmes para adolescentes de John Hughes ou com aquela mocinha loira simulando um orgasmo em uma lanchonete. Mas não se enganem, pois na década de 1920 já podíamos encontrar os temas e as dinâmicas das Rom-Coms em filmes de Charles Chaplin e Buster Keaton.
Em Luzes da Cidade o vagabundo se apaixona pela florista cega e a ajuda a recuperar a visão. Já em Sherlock Jr. o projetista que quer ser detetive é acusado de roubar o relógio de seu sogro e precisa provar sua inocência. Para acontecer a consumação do amor em ambos os filmes há obstáculos.
Anos de ouro de Hollywood
De maneira semelhante nos anos 1930/40 eram comuns as screwball comedies (comédias malucas). Nesses filmes, situações irreais são exploradas e envolvem segredos, além de diálogos rápidos que provocam situações cômicas. Alguns filmes que marcam o período são Aconteceu Naquela Noite (1934), Levada da Breca (1938) e As Três Noites de Eva (1941).
A atriz Katherine Hepburn e o ator Cary Grant foram dois dos mais antigos ‘Queridinhos da América’. Os interpretes que conquistam o público e passam a ser ‘a cara’ das comédias românticas ganham esse título. Dessa maneira encontramos a dupla em Núpcias de Escândalo (1940) novamente fazendo par.
Queridinhos da América dos anos 1950
Nas décadas seguintes algumas outras divas se destacam em clássicos que são lembrados até hoje. Em A Princesa e o Plebeu (1953), a princesa Ann (Audrey Hepburn) decide viver um dia de anonimato e caminhar pelas ruas de Roma quando conhece Joe (Gregory Peck), um repórter que finge não reconhecê-la para obter um furo de notícia. Conforme dita a regra os dois se apaixonam. Logo depois Audrey imortalizaria Holly Golightly em Bonequinha de Luxo, baseada em um livro de Truman Capote.
Além disso, outra queridinha da América foi Norma Jean Mortenson, conhecida por suas personagens inocentes e frágeis que se metiam em confusões em nome do amor. Essa era Marylin Monroe, que esteve ao lado de Tony Curtis e Jack Lemmon em Quanto Mais Quente Melhor (1959), de Billy Wilder.
God bless you, please, Mrs. Robinson
Os anos 1960 e 1970 representam o renascimento de Hollywood. Seus filmes são marcados por questionarem as regras, apresentarem novas visões do mundo e dialogar com a juventude que clamava por mudanças. As mudanças de pensamento da época afetaram também o cinema de comédia romântica e, talvez, o mais conhecido dos filmes do período seja A Primeira Noite de um Homem.
Nesse longa um homem recém formado, Benjamin Braddock (Dustin Hoffman) retorna à casa dos pais em meio a uma crise sobre o que fazer de sua vida. De volta ao lar ele se apaixona por Elaine Robinson (Katharine Ross), entretanto a mãe da moça (Anne Bancroft) está disposta a seduzi-lo e afasta o jovem casal. Assim o gatilho para aventura é dado e Ben percorre várias cidades disposto a encontrar sua amada Elaine.
Da mesma forma, Jack atuou em mais dois filmes de Wilder, também comédias românticas, fazendo par romântico com Shirley MacLaine. Em Se Meu Apartamento Falasse (1960) ele se apaixona pela amante do chefe. Já em Irma La Douce (1961), se apaixona por uma prostituta e com ciúmes de seus clientes inventa uma farsa para que ela não precise mais trabalhar. Observem que os casais antes formados por solteiros em busca de amor adquirem um tempero a mais ao serem compostos por pessoas insatisfeitas com seus relacionamentos e amantes.
Já nos anos 1970 os dois títulos mais marcantes são Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977) e Manhattan (1979), ambos de Woody Allen. Os dois filmes mostram as dificuldades de se manter um relacionamento saudável em meio a crises conjugais e de identidade de um homem de meia idade.
John Hughes e a fórmula mágica
O cineasta, produtor e roteirista estadunidenste John Hughes foi o nome mais prolífico do cinema para a juventude dos anos 1980/90. Seus filmes falavam dos conflitos da adolescência, da transição para a vida adulta, de medos, vontades, mudanças e de amizade e família.
Como consequência alguns de seus títulos de comédia romântica são emblemáticos até hoje, entre eles Garota de Rosa Shocking (1986), no qual a mocinha de Molly Ringwald demora para perceber que o amor de sua vida está ao seu lado ou Mulher Nota 1000 (1985), que mistura ficção-científica ao trazer dois amigos que criam no computador uma mulher idealizada que cria vida após uma pane.
Daqui em diante são tantas as comédias românticas que…
… cometeremos o pecado de sequer citar algumas. Mas tudo bem, vamos lembrar daqueles ícones de uma geração e usar a imaginação para pensar em quantos filmes do gênero fizeram parte de nossa vida. E começamos com a loirinha do orgasmo, ela mesma, Meg Ryan. Em Harry e Sally – Feitos Um Para o Outro o par Meg e Billy Crystal se encontra esporadicamente no decorrer de uma década e essa relação levanta a questão, homens e mulheres podem ser apenas amigos?
Um ano antes John Landis tinha presenteado o público com a versão afroamericana de A Princesa e o Plebeu. Um Príncipe em Nova York levou o herdeiro do trono de Zamunda ao Queens, para que ele decidisse com quem se casaria. Em 1990, vimos a diva Cher em busca de um relacionamento que desse certo em Minha Mãe é uma Sereia e em 1994, rimos e nos emocionamos com Quatro Casamentos e Um Funeral.
Vimos a Emma, de Jane Austen, ir para o ensino médio em As Patricinhas de Beverly Hills (1995) e a Megera Domada, de Shakespeare, em 10 Coisas Que Eu Odeio em Você (1999). Fomos encantados por Julia Roberts em Uma Linda Mulher (1990), O Casamento do Meu Melhor Amigo (1997) e Um Lugar Chamado Notting Hill (1999).
Mais amor e maior representatividade
Ainda que amemos vários dos filmes citados não podemos deixar de perceber o quanto eles estão centrados em relacionamentos heteronormativos e protagonizados por pessoas brancas. Entretanto com o passar dos anos a representatividade tem sido cada vez maior e a diversidade dos personagens também.
A cantora e atriz Queen Latifah protagoniza Jogada Certa (2010) e As Férias da Minha Vida (2006). Já Issa Rae está em Um Crime Para Dois (2020) e Jessica Williams em A Incrível Jessica James (2017). A nigeriana Dakoren Adoken protagoniza Isoken (2017) e vive o dilema de ter ou não um relacionamento interracial. Em contraponto, Zainab Balogun é Ope, uma chef que volta à sua terra natal para salvar o hotel dos pais e acaba se interessando pelo possível comprador da propriedade, emThe Royal Hibiscus Hotel (2017).
De maneira semelhante temos a orientação sexual ganhando outros contornos em filmes de comédia romântica. Num não tão longínquo 1994, homossexualidade e bissexualidade era tratada em Três Formas de Amar. Em 2005 pudemos ver Lena Headey e Piper Perabo se apaixonando em Imagine Eu e Você. Dez anos depois Katherine Heigl e Alexis Bledel se casam em Casamento de Verdade. Em contraponto, no cinema sul-coreano de 2012 um amigo gay e sua amiga lésbica se casam em uma cerimônia falsa no filme Dois Casamentos e Um Funeral, de Kim-Jho Gwangsoo , cineasta que questiona os tabus e preconceitos de sua cultura em filmes de temática LGBTQIA+ e em 2018 um adolescente gay falou abertamente sobre sua orientação sexual em Com Amor, Simon.
A cada ano que passa os filmes de comédia romântica vão se alterando e ajustando as realidades românticas de seus espectadores. E esperamos que cada vez mais eles possam trazes aquele quentinho no coração de quem está vivendo ou procurando seu grande amor.
Assista à lista de comédias românticas que Yasmine Evaristo indica clicando aqui!