5 blocos de Carnaval para quem não curte samba em SP
Fenômeno dos bloquinhos (ou blocões) passou o Brasil a rodo, levando para a rua também quem não gosta de samba ou marchinhas
Até poucos anos atrás, era dura a vida de quem não gostava de Carnaval. O pobre desajustado tinha de acompanhar, no canto do sofá, a movimentação dos primos e amigos, animadíssimos, discutindo sobre a fantasia ideal. A trilha sonora, durante todo o mês de janeiro, vai se ensambeando, e os refrões grudentos vão tomando conta da casa, passeando pelas suas prateleiras, por baixo do sofá, entremeando-se na bagunça do quintal.
Todo mundo feliz, ansioso, radiante. E o não-carnavalesco, ali de canto, dividido. Metade rancoroso, metade invejoso. Ao mesmo tempo que se pergunta “meu Deus, o que é que esse povo vê nessa chatice?”, sua outra parte arde em recalque. Queria sentir a mesma empolgação, o não controlar-se típico. Queria, pobre parente triste, um Carnaval pra chamar de seu.
Então, tomou forma de gigante o movimento dos bloquinhos, em todas as médias e grandes cidades brasileiras. Lá pela virada dos anos 2000, o povo foi deixando os carnavais em salões, parou de assistir aos desfiles de escolas de samba e viu a rua recuperar a festa para si, através de blocos amadores. Seu público foi aumentando, as agremiações se multiplicando, e hoje, em pleno 2024, mais de 500 blocos (só na cidade de São Paulo) serpentearão por suas ruas.
Quando a moda (re)explodiu — afinal, os blocos, cordões e cortejos eram a sensação até a primeira metade do século XX —, a vida de quem não gostava da folia complicou-se. Já não se podia, nem mesmo, botar o pé na rua, porque fatalmente se cruzaria com uma tropa de pessoas felizes, expirando glitter e sorriros. Na TV, no rádio e, principalmente, em redes sociais, a felicidade alheia lhe alcançava, por mais que se pusesse fuga.
No entanto, o complacente Dionísio deu seu jeito para arrastar em seu cortejo até mesmo o mais rabugento, antes obrigado a passar quatro dias em negação. Injetou, na mente de alguns produtores e músicos, a ideia de criar blocos com temas que transcendem o clássico samba, axé e marchinha. Uma arapuca perfeita para não deixar ninguém dentro de casa no mais hedonista dos feriados.
“Ei, você gosta de carnaval?” “Não, mas vou!” Com a oferta de outros gêneros musicais (ainda que em versões adaptadas aos instrumentos tradicionais da bateria), ninguém mais precisa ficar triste.
Conheça alguns blocos criados para tirar você, não carnavaleiro, de casa. Não estão listados aqui, os dedicados aos DJs e música eletrônica. Essa lista, você confere na semana que vem, aqui no Music Non Stop.
Sargento Pimenta
18/02 – 15h – Praça da República
Ao dar início ao seu plano dominação nacional, é óbvio que o Carnaval deveria começar pelos Beatles, a banda mais popular e influente da história da música nos últimos cem anos. Criado no Rio de Janeiro e com posterior filial estabelecida em São Paulo, o Sargento Pimenta, nome sacado da clássica Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, abrasileira canções dos quatro fabulosos e, hoje, é um dos blocos mais disputados de São Paulo.
Bloco 77 – Os Originais do Punk
03/02 e 10/02 – 14h – Av. Barra Funda, 1071
Para o punk folião, a cidade presenteia o Bloco 77, com versões de clássicos dos primórdios do gênero, de Ramones a Garotos Podres. O 77 é a essência do que o fenômeno dos blocos fez com os outsiders, trazendo o pogo para o meio da rua!
Bloco Emo
11/02 – 13h – Av. Paulo II, 112 – Lapa
Fresno, NX Zero, Paramore, My Chemical Romance e outros clássicos do rock emocional nos mostram que, no Carnaval, dá para ser triste e feliz ao mesmo tempo. Que o sol ajude e a maquiagem do olho não derreta!
Ritaleena
3/2 – 12h – Praça Márcia Aliberti Mammana (Sumaré)
O Ritaleena surgiu para homenagear São Paulo e as mulheres. Como todo bom matemático facilmente calcularia, mulher + Sampa = Rita Lee. O bloco cruza as ruas da cidade cantando os hinos das diversas fases da carreira de Rita, que em algumas edições até participou (por telefone, ligado ao sistema de som do trio elétrico) da folia, mandando mensagens aos que seguiam o cortejo.
A Madonna tá aqui
03/02 – 11h – Praça da Sé
Dedicado à Madonna e ao universo de divas que orbitam em suas galáxias. Hora de bater cabelo com os grandes hits de pista do pop, devidamente tropicalizados pelos músicos do bloco.