Bruo Bruo – foto: divulgação

Conheça o Bruo, duo brasileiro que usa samples, picotes e processamento para fazer o cérebro viajar pelo espaço

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Craca e Rodrigo Bragança, figuras conhecidas na música e no audiovisual brasileiro, formam dupla de música experimental Bruo e divulgam vídeo para promover o primeiro álbum, que está prestes a ser lançado.

A música ambiente está entre nós há um tempo considerável, a ponto de estar plenamente integrada ao universo cultural de muita gente. Brian Eno, em 1978 com seu seminal disco Ambient 1: Music For Airports, sintetizou conceitos da música concreta e do minimalismo para criar algo que fosse, ao mesmo tempo, “interessante e fácil de ignorar”.

Talvez o temo “paisagem sonora” seja o mais assimilável quando temos de descrever o que é esta variante eletrônica e experimental da música instrumental. Cada bom artista desenha um mundo inexistente, fantástico, que pode ser “visto” apenas pelos ouvidos.  Alguns levam para parques industriais impossíveis, outros para florestas e campos, e até mesmo as fendas oceânicas mais profundas.

O duo Bruo, formado pelos já escolados artistas Craca e Rodrigo Bragança, ambos com diversos projetos pregressos no munda da experimentação, trilhas sonoras e dança, lança em breve seu primeiro álbum. Tivemos acesso ao primeiro single que apresenta o álbum, lançado somente em vídeo através do Youtube. Assista Insekto em primeira mão agora!

A grande experiência da dupla na música e no cenário audiovisual brasileiro é perceptível já nos primeiros minutos da audição.  O trabalho do Bruo extrapola a construção de paisagens, como descrevemos acima, e vai além. Craca e Bragança, ao organizar sua música das criações, desconstruções e camadas, propõem a busca de uma espécie de deus quântico. A dupla convida a uma meditação contemplativa em busca de algo que não está aqui no plano terreno.

O vídeo, captado e dirigido pelo próprio Craca, traz imagens de uma São Paulo estranha, vazia e sincronizada. É como se a cidade, que por percepção temos como um ambiente externo estivesse, na verdade, dentro da nossa cabeça.

O lançamento demonstra bem o que esperar do álbum. Tecnicamente é de altíssimo nível. O material sonoro foi captado em jam sessions (Bragança é um baita dum guitarrista) e depois dissolvido a níveis tão severos que não se reconhece nada de música acústica. Há uma movimentação no fluxo sonoro das faixas. Música de vento. Como nossa imaginação não tem massa, levitamos e somos levados por esta corrente, ao sabor do Bruo.

“O Craca trouxe algo depois que já tínhamos gravado as improvisações. Ele disse ‘vamos tentar fazer com que a guitarra não seja reconhecida como guitarra’, para gerar uma outra escuta. É interessante, uma guitarra tirada de contexto”, nos conta Bragança. “A estética dos glitchs, que já estão no som do Craca, e o processamento do som, que vem da minha história e pesquisa com a guitarra. Algo que eu venho procurando desde o meu primeiro disco. Ali tem uma pergunta: como uma guitarra pode soar diferente da guitarra tradicional?”

Craca e Bragança se conheceram ainda na faculdade e desde então se envolveram em vários projetos juntos, caso da banda Axial, que excursionou pela Europa e se apresentou em bons festivais aqui, como o Tim Festival. O que os uniu musicalmente foi o deslumbre por Björk, artista que definem como uma das influências do Bruo, além de outros artistas citados pela dupla de origens totalmente díspares.  Vão de Clube da Esquina a Alva Noto & Sakamoto.

Bruo

Bruo – foto: divulgação

Não se percebe, obviamente, nada óbvio do que a dupla cita como referência musical, a não ser através de uma aura, de um conceito proposto para esta turma no que diz respeito à liberdade criativa. Bruo, em esperanto, significa Barulho. Aliás, o idioma criado pelo médico Ludwik Zamenhof no final do século do XVIII com o objetivo de unir todos os povos é o usado para batizar todas as músicas do disco prestes a nascer.

Propício. Bruo usa uma linguagem de samples, picotes e processamento para unir diferentes mundos musicais em uma nova língua, onde todo mundo caminha de mãos dadas.

O mundo audiovisual, dos videomappings e projeções, acompanha a dupla desde o gênese. A primeira vez que o mundo ouviu o Bruo foi na performance Fish Eye, no festival Immersphere, que rolou no planetário de Brasília em dezembro.  É assim que a dupla vai promover sua música após o lançamento do álbum, propondo experiências sensoriais por aí. “A proposta da nossa música é gerar prazer em quem ouve” — resume Craca, provavelmente se referindo a uma deliciosa audição de olhos fechados em uma sala confortável e pouca iluminada. “Eu acho que nosso som propõe uma experiência meditativa e contemplativa” — completa Bragança, sugerindo uma noite no planetário viajando com as projeções da dupla.

Eis o Yin & Yang do Bruo.

 

 

 

 

 

 

 

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.