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Bring Me the Horizon: entre o metalcore e o futuro pós-humano

Bring Me the Horizon

Foto: Divulgação

Com shows lotados no Brasil e um álbum que desafia convenções, grupo britânico se firma como ícone contemporâneo

Uma banda lança um álbum novo. Expectativas a mil, tanto por parte de quem produziu, quanto por quem vai ouvir. E logo após o primeiro play, já surgem as primeiras impressões. O que a maioria faz? Corre às redes sociais comentar. Mas nem sempre essa expressão imediata quer dizer coisa boa. Tem muito fã que parece estar preso no passado, e um riff da guitarra destoante daquele som que os caras lançaram há dez anos atras já é motivo pra xingar muito no Twitter. E algo parecido aconteceu com o Bring Me the Horizon no passado. Agora, com POST HUMAN: NeX GEn, lançado em maio de 2024, as coisas parecem ter mudado.

Com uma intro e 15 faixas, o álbum entrega um metalcore da melhor qualidade, carregado de influências do pop e da música eletrônica. Ainda distante de Suicide Season (2004), ele se aproxima da atmosfera de Sempiternal (2013) — um dos favoritos dos fãs — e tem nuances de amo (2019), um dos menos queridinhos.

O Bring Me the Horizon mostra como tem evoluído com sua sonoridade, tendo a coragem de desafiar o status quo do metal. Sem dúvidas, é um dos nomes mais reconhecidos e discutidos do cenário, com 13 milhões de ouvintes mensais no Spotify e dois bilhões de visualizações no YouTube, além de indicações ao Grammy e ao BRIT Awards. Na mesma semana do lançamento de NeX GEn, tornou-se a banda de rock com mais streams do mundo: foram mais de 70 milhões, ocupando oito das dez posições do Top 10 do Spotify.

No Brasil, estão prestes a marcar sua história, fazendo sua primeira apresentação como headliner em um estádio. O show acontece no Allianz Parque, no dia 30 de novembro, com realização da 30e e últimos ingressos à venda pela Eventim, contando ainda com Motionless In WhiteSpiritbox The Plot In You. O grupo já esgotou uma data extra no país, 28 de novembro, na Audio, numa performance mais intimista.

Imagem: Divulgação

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O nome do show principal em solo verde e amarelo (com o qual Oliver Sykes, vocalista, já tem familiaridade, pois é casado com uma brasileira, tem uma casa no país e até mesmo CPF) deixa claro que trata-se da turnê do novo álbum: NeX GEn presents [Dreamseeker variant]. A post human study (phase II). Sendo assim, espera-se um setlist cheio dos sons mais recentes.

Ainda sobre NeX GEn, percebe-se uma relação com a Geração Z e, mais que isso, um estreitamento com a tecnologia. As faixas são todas escritas alternando letras maiúsculas e minúsculas, numa referência à maneira como as pessoas escrevem na internet. Além disso, a estética visual está totalmente ligada à cultura pop japonesa, baseada em anime/mangá, mas numa ótica cyberpunk. O álbum também contém muitos sons eletrônicos, que lembram interações com máquinas, seja como a escolha de um personagem e jogo no videogame, na troca de canais na televisão, na busca por sinal de transmissão…

Vale dizer que o projeto POST HUMAN, no qual o disco está inserido, tem como ideia criar álbuns e EPs temáticos em torno de como a humanidade está totalmente em declínio. Tal conceito teve início em 2020, com o álbum POST HUMAN: SURVIVAL HORROR, aclamado pela crítica — chegando ao primeiro lugar nas paradas do Reino Unido — e que fala muito sobre a pandemia. Produzido e lançado na época da quarentena, carrega essa temática em suas letras, e tem um som que reflete a raiva e a angústia sobre o momento em que a sociedade vivia, seja falando sobre o vírus ou sobre governos corruptos. É um retrato muito reflexivo de uma passagem marcante na história.

É curioso o fato do nome do projeto ser “post human”, “pós-humano” em português. Esse conceito faz parte de um cenário contemporâneo no qual relata a junção do homem à máquina, numa espécie de ser híbrido. É como se a tecnologia fosse uma extensão do corpo cada vez mais imperceptível, e estivesse tão presente e imersa que já não seria mais notada por ser natural.

O “pós-humano”, então, vai além do título do projeto, e vem sendo adotado pelo BMTH nas diversas esferas de seu trabalho. Não é algo explícito, mas está lá. A banda sempre experimentou sons e estilos, mas cada vez mais vem adicionando a música eletrônica em seu repertório. Seja usando softwares de produção ou hardwares analógicos, a máquina está lá.

Entre as faixas de NeX GEn, há ainda duas que começam com a sigla “OST”, que significa “original soundtrack”, algo bastante presente nos dramas coreanos, que contêm trilha sonora original em cenas importantes. E como a estética do disco tem se aproximado muito dessa cultura pop, mas mais especialmente da gamer, está aí outra prova de que o Bring Me the Horizon está mais ligado à tecnologia do que nunca.

É possível ver nas edições no Instagram e nos lyric-videos uma relação muito forte com a criação de um jogo. Personagens criados, ora parecidos com Final Fantasy, ora com Silent Hill, trazem essa mistura dos animes com um cenário pós-apocalíptico meio cyberpunk (presente também no clipe de Top 10 staTues tHat CriEd bloOd). Até mesmo nos shows é apresentada uma inteligência artificial chamada E.V.E, que inicia e comanda a performance da banda, avisando ao público que eles farão parte de um estudo de gerações, mas que estão em uma missão: a de salvar a humanidade.

Eles estão criando diversas histórias nos videoclipes. Há referências a seres mitológicos e a rituais religiosos, como nos clipes de Kool-Aid, AmEN! e DiE4u, e a relação entre medicina e testes laboratoriais, como em LosT e sTraNgeRs. O Bring Me the Horizon vem batendo na temática da sobrevivência, seja em álbuns anteriores focados em superação da depressão e vício em drogas, seja nos trabalhos baseados em POST HUMAN sobre pandemia e tecnologia… Então, o que será abordado no próximo álbum?

Como eles mesmos deixam claro, trata-se de um estudo pós-humano. Ou seja: o cenário híbrido entre homem e máquina cada vez mais próximo. Desta forma, há uma grande possibilidade da música eletrônica estar cada vez mais inserida, possibilitando uma mistura do metalcore com sintetizadores ainda mais forte nos próximos trabalhos que são embasados nesse conceito. Além disso, pensando em todos os videoclipes e artes relacionadas a POST HUMAN, podemos arriscar em dizer que a banda terá alguma experiência gamer? Cada vez mais vemos experiências gameficadas no marketing, que podem muito bem também ser aplicadas à música.

Com letras que retratam realidades sociais, o grupo tem uma conexão muito forte com os fãs, e isso é algo que não vai mudar. Independentemente de fase, quebrar paradigmas e apostar em diversidade fazem parte do DNA do BMTH, bem como falar abertamente sobre temas complexos.

É de se admirar como, desta forma, eles mantêm um público fiel desde sua estreia em 2004 e, 20 anos depois, conquistam novas gerações, trabalhando elementos presentes na cultura contemporânea. Eles não são nostálgicos, e miram exatamente no futuro. A próxima geração, a Alpha, dos nascidos a partir de 2010, está completamente ligada à tecnologia. E essa é a provável aposta da banda daqui pra frente.

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