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Bowie fez até techno e trabalhou com Nile Rodgers e Moroder. Conheça sua faceta eletrônica

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David Bowie não ganhou o apelido de Camaleão à toa. Desde que surgiu para o mundo, na década de 60, o homem das estrelas encarnou diversos personagens e sua música ao longo desses tantos anos foi tão mutante quanto ele.

Psicodelia, hard rock, glam, protopunk, experimental, soul, funk, pop. Foram muitas as faces musicais de Bowie, e já nos anos 70 uma delas se mostraria tão marcante e influente quanto as demais, embora nem sempre tão lembrada: a eletrônica.

O namoro começou discreto com Station to Station, de 1976, mas já no ano seguinte se tornaria explícito em Low, o primeiro álbum da trilogia Berlim. O lado B do disco, totalmente instrumental, é regido por sintetizadores e traz, entre outras, A New Career in a New Town e sua introdução com ecos nítidos de Kraftwerk.

A New Career in a New Town (Station To Station, 1976)

Na mesma linha, com batida cadenciada e um pé (meio travado, mas ainda lá) na disco music, Beauty and The Beast abre Heroes, de 78, mostrando que Bowie – muito graças a seu parceiro Brian Eno – se rendera à música criada com a ajuda da parafernália eletrônica. Tanto esses dois discos quanto o seguinte, Lodger, fizeram – e fazem – a cabeça de muita gente que nos anos seguintes produziria música eletrônica, dos mais obscuros, como Neon Judgment e outros grupos dos anos 80 a nomões do techno, como o genial Matthew Dear.

Beauty and The Beast (Heroes, 78)  

Na década seguinte, Bowie mergulhou fundo no pop, se juntou a Nile Rodgers e pela primeira vez experimentou o sabor do sucesso massivo com o álbum Let’s Dance.

Nile Rodgers e Bowie em foto tirada por Peter Gabriel. Acho chic

O videoclipe, todo gravado no outback australiano, mostrava um casal de origem aborígene enfrentando situações de preconceito racial por parte dos australianos brancos. Dirigido por David Mallet, o clipe ganhou um documentário, Let’s Dance: Bowie Down Under, lançado poucos dias antes da morte do cantor, assim como seu derradeiro álbum, o já clássico Black Star.

Let’s Dance (Let’s Dance, 1983)

Em 1995, ele retomou a antiga parceria com Brian Eno para voltar à eletrônica. A ideia era gravar uma série de álbuns conceituais sobre assassinato, arte e ciberespaço, resgatando as maluquices eletrônicas dos anos 70 e dando a elas nova roupagem para criar um trabalho futurista e distópico.

https://play.spotify.com/album/2ulI4YbNOuFK2jXB2EGgWf

Assim nasceu “Outside”, um disco absurdamente influenciado pelo peso de bandas como Nine Inch Nails; tem pianinhos à house music (The Hearts Filthy Lesson), tem batidas que lembram a Björk da fase Debut (A Small Plot Of Land), tem remix pra pista do Pet Shop Boys (Hello Spaceboy), tem jungle (We Prick You). O disco é puro industrial, sombrio e cortado por riffs nervosos de guitarra. Para acompanhá-lo na turnê do álbum, Bowie escolheu o já citado Nine Inch Nails; o criador era influenciado pela criatura, e essa influência iria adiante nos anos seguintes.

Bowie com Trent Reznor, do Nine Inch Nails, na turnê de Outside

Curiosamente após entrar para o Rock and Roll Hall of Fame o camaleão mergulhou ainda mais fundo no universo da música eletrônica: techno e principalmente jungle e drum’n’bass foram os combustíveis para Earthling, lançado em 1997. Sucesso de crítica, o disco deu a ele o reconhecimento entre o público jovem, coisa que ele buscava desde Outside; as músicas Little Wonder, Battle for Britain (The Letter) e Telling Lies são sua versão drumba.

Little Wonder (Earthling, 1997)

Seven Years In Tibet tem as batidas descaradamente iguais às de Closer, música do Nine Inch Nails do vocalista Trent Reznor, que por sua vez produziu e remixou I’m Afraid Of Americans, maior sucesso do álbum e de todo o relacionamento entre Bowie e a eletrônica.

I’m Afraid Of Americans (Earthling, 1997)

Dali em diante, David Robert Jones adotaria uma postura musical mais clássica e comportada. A proximidade com a música das máquinas só voltaria em 2013 com o remix de James Murphy (do LCD Soundsystem e boss da DFA Records) para Love is Lost; o mesmo Murphy que foi cogitado para produzir o último disco de Bowie, Blackstar, mas que acabou apenas lhe emprestando suas habilidades e – bem como Kendrick Lamar – influenciando Bowie a colocar batidas em meio à melancolia jazzística de canções como ‘Tis a Pity She Was a Whore, I Can’t Give Everything Away e claro, da longa viagem que abre e dá nome ao álbum, o último passo do homem das estrelas no planeta que ele ajudou a tornar melhor.

Black Star (Black Star, 2016)

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