Foto: Reprodução/InstagramMais do que hits de Karol Conká, Boss in Drama fez um dos grandes álbuns dos anos 2010
Relembre Pure Gold, disco de 12 faixas lançado em 2011 pela artista
O último final de semana acabou em bad trip para todo mundo que faz parte do universo da música eletrônica brasileira. Peppa Oliveira, a Boss in Drama, faleceu com absurdos 37 anos, indo embora da festa rumo ao after celestial à francesa, sem avisar ninguém. A notícia virou Notícia, replicada em toda a imprensa brasileira. Mesmo quem não frequenta meandros dos clubes brasileiros conhece Karol Conká. Curitibana como a artista, Peppa foi a produtora responsável por alguns de seus maiores sucessos. Mas foi mais do que isso.
O pó de ouro que a produtora polvilhava nos hits que produziu, no entanto, vieram de uma rara pepita que todos precisam conhecer, o primeiro e único álbum de sua carreira, Pure Gold. Lançado em 2011, fez tremer o cenário eletrônico brasileiro pela sua qualidade de produção e contemporaneidade. Boss in Drama surfava na crista da onda.
Em 2011, franceses como Daft Punk e Justice já haviam conquistado o planeta propondo a reconciliação final com a disco music. A descolândia, aliás, se acabava na pista de dança ao som de gêneros como space disco e nu disco. Poucos anos antes, o mundo pop já havia absorvido totalmente a música eletrônica. Batidas 4×4, sintetizadores e arpejos eram ouvidos até mesmo em discos de rock, vindo de bandas que se apresentavam para multidões em festivais.
Mais ainda havia buracos na estrada que fazia o trajeto contrário. “Poxa, se os reis do mainstream estão usando nossa música, porque nós, ‘eletrônicos’, não podemos absorver o pop?” Foi nesse cenário que Boss in Drama se incluiu. E Pure Gold foi um dos expoentes máximos do movimento em trazer os cacoetes radiofônicos para as pistinhas, com vocais e refrões — um cenário dos quais também participaram projetos como Cansei de Ser Sexy, Montage, NoPorn e até mesmo Gui Boratto.
Peppa, artista do universo LGBT+, acertou em cheio no nome do álbum. Pure Gold é realmente uma pedra preciosa. Sua produção é impecável, com uma qualidade nivelada com a dos colegas do Hemisfério Norte. 12 músicas divertidas, pra cima, felizes e afogadas na disco music. Quanta gente não fechou os olhos, ergueu os braços e sorriu dançando ao seu som? Impossível contar.
Totalmente produzido por Peppa e lançado de forma independente, o LP é rico em timbre e instrumentos, com direito a solos de saxofone e levadinhas bossa-nova no violão. De certa forma, é um disco incontestável. Boss in Drama foi uma artista brasileira de ponta: esse foi o recado assimilado por crítica e público à época de seu lançamento. Mais do que lhe garantir shows por todo o país, abriu as portas para produções de nomes pop, um caminho natural para os músicos que se destacam no cenário eletrônico.
Peppa Oliveira nos deixou um álbum histórico na música eletrônica brasileira. Para entendê-la, ouça Pure Gold. Para se divertir, ouça-o de novo. Vale para todo mundo que gosta de sorrir, ou gostaria, pelo menos. Tanto a obra quanto a artista vieram para nos mostrar que a comunidade LGBT+ sempre vai nos trazer alegria, leveza e renovação, e que a opressão e a caretice, infelizmente, encurtam vidas.
