music non stop

Melting Pot, o melhor prato do “cozinheiro” multi-instrumentista Booker T Jones, completou 50 anos. Conheça a história do músico ajudou a definir a Soul Music

Booker T Jones

Booker T Jones - foto: divulgação

Passei uma semana em um sítio isolado em Minas Gerais, pra dar um tempo pra cabeça dessa loucura que estamos vivendo. Ar puro, cachoeiras, uma cachacinha da boa e um fogão a lenha que trabalhou incansavelmente sob o meu comando, porque essa é outra coisa que amo, além de escrever sobre música, ouvir música ou discotecar.

Eis que leio uma entrevista do nosso homenageado de hoje, Booker T. Jones, dizendo que “tocar órgão é como cozinhar. Você pode mixar o som de mil maneiras diferentes deslizando os vários pontos para dentro e para fora”. Já comentei com amigos que os djs e as mães têm semelhanças também, os djs colocam uma música pensando na próxima, as mães preparam o almoço pensando no jantar. Chego à conclusão que meus prazeres sempre tem uma ligação. 

Mas vamos ao “cozinheiro” Booker T Jones, compositor, arranjador e multi instrumentista nascido em 12 de novembro de 1944, em Memphis, no Tennessee, foi uma criança prodígio. Tocava oboé, saxofone, trombone, contrabaixo e piano na escola e órgão na igreja. Aos 16 anos passa a tocar profissionalmente, como sideman, para a gravadora Satellite, que logo se tornaria a Stax Records, lendário selo que lançaria vários dos nomes mais importantes da Soul Music.

Booker T & The MG’s – foto: reprodução Youtube

Ainda na Satellite, Booker T conhece Al Jackson Jr (bateria) durante as gravações de “Cause I Love You” de Carla e Rufus Thomas. Mais tarde é apresentado à Steve Cropper (guitarra). Os três, somados à Lewie Steinberg (baixo) fundam o Booker T & The MG´s em 1962. Steinberg foi substituído por Donald “Duck” Dunn em 1965.

Green Onions, o primeiro sucesso da banda, lançado pela Stax Records, foi um enorme sucesso, alcançando o primeiro lugar nas paradas da Billboard daquele ano. A música título foi co-escrita por Booker T quando ainda frequentava o colégio. Booker contou em uma entrevista para o The Guardian, que anos após o lançamento de Green Onions, estava em um restaurante no Hollywood Boulevard, a música começa tocar quando um cara dá um pulo e começa a dançar na mesa, entre os pratos voando, Booker descobre que era Keith Moon do The Who. Pouco tempo depois, o Who usa Green Onions no filme Quadrophenia (1979), tornando a música um sucesso novamente.

Booker T & The MG´s, como já citado, foi criada em 1962 e era uma banda inter-racial, algo bastante inédito naquele momento, o livro Time Is Tight escrito por Booker T. é um relato profundamente comovente de como ele equilibrava a brutalidade do Sul norte americano segregado enquanto transformava um estúdio ascendente em uma Meca musical. O álbum Note by Note  foi lançado para acompanhar o livro de memórias.

Booker T nos estúdios da KPR – foto: reprodução Youtube

Impossível falar de soul sem citar Booker T & The MG´s. Além de fazer sucesso com os próprios lançamentos, a banda acompanhou diversos artistas que passaram pela importante gravadora Stax. Já na gravadora Sussex , um bom exemplo do brilhantismo da produção e do arranjo de Booker é sua contribuição para tornar Bill Withers uma estrela, com o perfeito álbum “Just as I am” , lançado em 1971. Além disso, Booker tocou com diversas figuras importantíssimas do soul, Otis Redding, Sam & Dave, Wilson Pickett, entre outros. Não acho exagero algum dizer que Booket T e sua banda ajudaram a moldar e definir o soul. 

No começo deste ano (2021) o álbum Melting Pot completou 50 anos e é um clássico, considerado por muitos críticos um dos melhores da banda, foi gravado em Nova York quando Booker se afastou da Stax; manteve o groove dos álbuns anteriores permitindo-se ampliar para sons até então não explorados, seguindo a ideia de Booker de fazer um disco diferente. O 11૦ álbum da banda multitalentosa marca uma mudança de direção, com alguns jams e funk profundo. A genialidade da guitarra com base funk, os sons coloridos pelo Hammond B3 de Booker, os ótimos solos, as batidas dos pratos, transformam Melting Pot em sua tradução: o caldeirão fervilhante em cima das chamas de um fogão a lenha flamejante, condimentado com funk, pop, jazz, folk, blues, uma pitada de country muito bem elaborado pelos chefs.

Cozinhar é misturar temperos, controlar o fogo, colocar todo seu amor na ponta das colheres de pau que mexem as panelas e transformam os alimentos, parafraseando Pablo Neruda, levando sabores à mesa para que “tu conheças o céu”. A música de Booker T, seus álbuns perfeitamente temperados, são banquetes de soul completos. Melting Pot é o prato principal. Sirva se na vitrola mais próxima e Bom apetite. 

Sair da versão mobile