Eli Iwasa e Marcos AS já deram o sangue pela música eletrônica nacional, cumprindo diferentes papéis no front dos beats e festas por todo o Brasil. Hoje DJ e sócia do Club 88 em Campinas, Eli já ralou em raves e foi promoter de uma das principais festas de techno do país, a saudosa Technova no mais saudoso ainda Lov.e Club. Marcos AS, o Marcão, fez história como parte da dupla Click Box, uma das mais importantes exportadoras da música eletrônica nacional para selos gringos como Items & Things, Trapez e Minus, só pra citar os maiores, além de nacionais como o Noise Music.
Ambos conhecidos por uma sonoridade mais techno, quis o destino que os caminhos de Eli e Marcão se cruzassem para desenvolver uma faceta mais melódica, com synths em evidência e com vocais da própria Eli. Nasceu assim a dupla Bleeping Sauce, cujo primeiro trabalho, o EP Stories, foi lançado em 2014 pelo selo francês Meant Records.
A dupla retorna com novo EP, agora um lançamento do selo Warung Recordings. O disco W19 vem traz um mix acertado do vocal sexy de Eli com bases que vibram do synthpop ao pós-punk, sobre uma cama de beats dançantes que Marcão sabe muito bem fazer. As faixas What You Gonna Do e Waking Up trazem referências que mostram que o background da dupla vai muito além da música eletrônica. A track What You Gonna Do ganhou um remix incrível do mestre Gui Boratto.
E como presente de lançamento, o Music Non Stop e o Bleeping Sauce disponibilizam por 24 horas uma versão exclusiva da faixa Waking Up. Corre que o download pode ser feito até dia 21/9.
O Bleeping Sauce faz duas apresentações de lançamento do EP W19, nesta sexta (23), no Kubik, em São Paulo, e sábado (24) no Warung, em Itajaí. Mais infos sobre as duas apresentações na página do evento no Facebook.
Leia abaixo o nosso papo com a DJ, promoter, dona de clube a agora cantora Eli Iwasa.
Music Non Stop – Como foi o start do Bleeping Sauce? Você e o Marcão era bem amigos?
Eli Iwasa – O Marcão já vinha produzindo as músicas do Bleeping Sauce, paralelamente ao Click Box – queria seguir um caminho mais musical, com forte influência de synthpop e pós-punk. Quando ele ficou sabendo que eu tinha começado a fazer aulas de canto, logo me convidou para ir ao estúdio, ouvir o que ele vinha produzindo e me falou sobre a idéia de eu fazer os vocais no projeto. Deu certo logo de cara! A gente já se conhecia há muitos anos, o Pedro (Turra, parceiro do Marco no Click Box) me entregou um CD com as primeiras produções deles, que adorei. Eles tocavam no Technova, e também em todos meus clubs depois do Lov.e Club.
Music Non Stop – De onde veio o nome?
Eli Iwasa – Quem deu o nome foi o Marco – ele estava assistindo um programa de culinária e ouviu o chef falar do Bleeping Sauce que estava sendo preparado. Ele pensou que seria um ótimo nome para um banda e assim ficou. Tanto o Marcão quanto eu amamos comida tanto quanto música, então fez todo sentido do mundo rs, neste caldeirão de referências que a banda é.
Music Non Stop – Quais foram as principais referências de vocês quando pensaram no conceito do BS?
Eli Iwasa – O BS reúne influências e bandas de nosso background musical – synthpop, pós-punk, EBM, industrial e caras como o Vince Clarke e Daniel Miller. Você sabe bem (e compartilha) do meu amor por bandas como The Cure, Depeche Mode, Siouxsie & The Banshees, Joy Division, e o BS foi a oportunidade de mostrar de onde eu vim e o que eu amo ouvir, que vai muito além da música eletrônica.
Music Non Stop – Como é o processo de composição das faixas, você participa da produção também ou fica com as letras?
Eli Iwasa – Muitas vezes, o Marco já vem com uma idéia de melodia para a voz para me ajudar a pensar na letra, outras eu chegava com a letra e a melodia, ou escrevíamos juntos no estúdio. O Marco é o responsável pela produção, ele produz muita coisa, não pára… sempre com idéias novas para as tracks, sempre fazendo uma linha nova de baixo, de synth. A Set Time é uma faixa mais antiga nossa (que saiu pelo selo francês Meant), e esta foi uma que produzimos juntos, em uma tarde de estúdio.
Set Time – Bleeping Sauce
Music Non Stop – Em que a sua experiência como DJ ajudou na hora de cantar?
Eli Iwasa – Eu acho que ser DJ me deu mais confiança e também tem ajudado bastante em pensar no setlist do show, como dar fluidez e quais atmosferas queremos criar. Mas principalmente na hora da apresentação, o fato de ter encarado pistas de bastante responsa, com certeza vai fazer diferença na hora que levarmos o live para os palcos.
Music Non Stop – Como eu bem conheço, a senhora é bem CDF, deve estar mega estudando canto etc.
Eli Iwasa – Tenho feito aulas de canto há algum tempo – parando e voltando de acordo com meu tempo – mas peguei firme desde o começo deste ano. Eu sempre amei cantar, mas falava que eu desafinava até respirando hahahaha. Então resolvi aprender a usar direito minha voz, e principalmente conhecê-la e explorá-la da melhor forma. Cantar é um processo bem emocional para mim, uma verdadeira válvula de escape.
Music Non Stop – Como vão ser as apresentações ao vivo de vocês?
Eli Iwasa – Elas trarão as músicas do EP, claro, e algumas das produções que ainda não foram lançadas. Vou cantar ao vivo, o que é desafiador, mas também é a realização de um sonho antigo, que é cantar em uma banda. Vamos levar um set-up bem legal para as apresentações, com um Dave Smith Mopho, Roland System 1, Ableton Push 2, Fader Fox Controller, um mixer Roland MX1 e um TC Helicon, que permite um live bem dinâmico.
Music Non Stop – Quem são as cantoras da sua vida, aquelas você tem como role model?
Eli Iwasa – Sempre amei bandas com vocalistas mulheres, tem várias que me inspiraram ao longo da minha vida. A Patti Smith sempre foi o exemplo de como unir música e poesia, força e emoção, em que atitude vale mais que técnica. Eu sempre escrevi muito, então ela é uma referência por ter feito uma música poderosa e questionadora, ao mesmo tempo em que escrevia letras incríveis. Amo também a PJ Harvey, a Liz Fraser do Cocteau Twins, Siouxsie Sioux e a Kim Gordon, que era baixista, mas que sempre foi uma voz no rock para mostrar e defender a força da mulher dentro do cenário musical.
ENTENDA POR QUE DIVAS COMO FKA TWIGS DEVEM MUITO AO COCTEAU TWINS
Music Non Stop – Mudando um pouco de assunto, você deve estar notando que as mulheres estão saindo do armário e se jogando muito mais na música eletrônica – aliás em todas as áreas. Como você tem observado esse movimento de mulheres mais unidas em prol da dominação do planeta (rs)?
Eli Iwasa – Eu gostaria muito de ver o dia em que mulheres e homens apareçam em números iguais nos line-ups dos eventos, atrás de uma mesa no estúdio e que isso não seja mais uma questão. Até lá, todas essas iniciativas para falar a respeito são fundamentais para jogar uma luz sobre o papel da mulher na cena, sobre respeito e sobre uma mudança de atitude e pensamento em cada um de nós. A gente está acostumado a ter mais homens que mulheres num line-up e vai chegar o dia em que isso vai ser considerado vergonhoso, mas ainda existe um longo caminho a ser percorrido. Ao mesmo tempo, também gostaria de pensar que as meninas são reconhecidas por seu talento – e não pelo seu sexo, e que estão presentes nos melhores clubs e festivais porque têm um trabalho sólido e consistente, não por serem mulheres.
Music Non Stop – Você já trabalhou nos bastidores de raves e clubes, se tornou DJ e agora cantora. Falta algum papel na cadeia musical que você almeje?
Eli Iwasa – Você me conhece há muitos anos, acompanhou todo o processo, e sabe que eu eu já fiz de tudo um pouco, até flyer já entreguei quando foi preciso rs. Tenho vontade de ter um selo daqui a um tempo, para reunir artistas que tenham a mesma visão artística e musical que eu, mas honestamente, preciso primeiro dar conta de todos projetos que tenho agora, a banda, as gigs, o Club 88 que recebe toda minha atenção, assim como os eventos que produzimos no interior de SP.
O EP w19 está à venda no Beatport neste link