Black Rebel Motorcycle Club faz show eficiente, mas com volume de chá das cinco em São Paulo

Guilherme Silva
Por Guilherme Silva

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Os icônicos Black Rebel Motorcycle Club, power trio formado em 1998, fizeram show em São Paulo na última sexta-feira (18), numa ação global coordenada pela marca de tênis Vans, chamada House of Vans. O evento na cidade ocorreu na Casa das Caldeiras, antiga fábrica da família Matarazzo, e deu início ao tom peculiar da noite.

Para ir ao show, você deveria se inscrever no site da Vans e esperar que fosse um dos sortudos a serem serem chamados para o evento. Não soube de ninguém que conseguiu ser convocado para o show dessa maneira, apesar de ter encontrado um monte de amigos lá. Essa informação, mais a semelhança de perfil entre as pessoas presentes, me fez questionar a legitimidade do sorteio. Mas vamos ao que interessa, o show do BRMC.

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A banda subiu ao palco visivelmente incomodada. Eu já toquei com a minha banda lá e sei que, apesar do lugar ser belo, a acústica não ajuda nem um pouco. O local do show na Casa das Caldeiras é um galpão com um teto bem alto, para umas 500, 600 pessoas. Quem mexe com som sabe o quanto é difícil tirar som em uma sala com essas dimensões. O incômodo era tão grande que na terceira música o guitarrista/baixista/vocalista Robert Been pediu ao público que o informasse case ele precisasse aumentar o som da guitarra, e o público respondeu na hora que tinha que aumentar muito.

Outro fator que me chamou muito a atenção foi ouvir um monte de gente falando a mesma coisa que eu estava pensando: a baterista deles é ruim. Leah Shapiro toca com dificuldade no palco. Ela é muito dura e parece não conseguir acompanhar o altíssimo nível de “guitar-playing” e “bass-playing” dos companheiros de banda.

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Apesar de tudo, a banda cumpriu o seu trabalho com louvor. O show foi pesado e cheio de hits, Beat the Devil’s Tattoo, Red Eyes and Tears e Ain’t no Easy Way foram cantadas em uníssono. Uma banda que existe há 17 anos não brinca em serviço. Fico imaginando quantas horas de palco uma banda como o BRMC deve ter…

A timbragem dos amplificadores estava maravilhosa, dava pra sentir o gosto da nostalgia de quando ouvíamos Black Rebel Motorcycle Club mais novos. A seleção de pedais estava muito boa também. Roqueiro bom é assim, usa poucos pedais, é enxuto.

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Eu terminei a noite com sentimentos dúbios. Estava contente por ter visto uma das bandas mais legais da minha adolescência, mas estava desanimado por ter visto o show nessas condições. Eu gosto de show de rock alto. Não gosto de ir ao show de uma banda que eu curto e conseguir conversar como se estivesse num chá da tarde com a minha tia. Gosto de sair de um show com o ouvido apitando tão alto que ao deitar na cama você só consegue pensar “que puta show foda”. Mas para não ser injusto, preciso aclamar a organização da Vans pelo restante do evento. Tirando essas coisas de som que me incomodaram, foi uma noite muito legal e muito bem organizada.

Guilherme Silva

Guilherme Silva trabalha com música há 18 anos. Membro fundador e booker das bandas INKY e Pessoas Estranhas, é uma voz atuante da última década na cena independente brasileira. Através dos anos, levou a INKY para tocar em festivais como o Primavera Sound (Espanha), CMJ (EUA), Primavera Fauna (Chile), Veltrac (Peru), Bananada (BR), Festival doSol (BR), Popload Festival (BR), MECA Festival (BR), entre outros. Com a banda, também ganhou prêmio de melhor videoclipe nacional e foi um dos dois artistas patrocinados pela Red Bull Brasil, o outro sendo Emicida. Guilherme viveu bons anos como artista e hoje trabalha em uma plataforma de streaming, podendo, assim, ter uma visão única sobre o mercado musical brasileiro.