Uma das atrações mais interessantes deste domingo de Rock in Rio, trio mineiro faz rock pesado e estourou na pandemia
Neste domingo do Rock in Rio 2024, esqueça Deep Purple, Incubus ou qualquer outra atração do terceiro dia do festival. O destaque da escalação são os mineiros do Black Pantera, banda formada há dez anos, em Uberaba, mas que só após a pandemia conseguiu o merecido destaque pela música (e principalmente os shows) que fazem. No festival carioca, se apresentam no Palco Supernova, a partir das 17h.
Lutando no mercado independente durante a última década, o Black Pantera, uma “banda de pretos”, como eles mesmo se classificam, viu aflorar sua carreira através de lives e lançamentos que fizeram durante o momento em que todo mundo precisava ficar preso em casa. Quando a vacina deu a todos a tão sonhada liberdade, muita gente saiu da casa na gana de ver, finalmente, uma apresentação dos irmãos Charles e Chaene da Gama, acompanhados do amigo de juventude Rodrigo Pancho. Não se arrependeram: o show é um espetáculo visual e sonoro, com presença de palco impecável enquanto espancam seus instrumentos de forma tribal, ritualística até.
A banda apareceu para o cenário brasileiro trazendo tudo o que precisávamos durante o insano delírio pintado de verde amarelo, momento em que mais de meio milhão de brasileiros faleceu sem precisar ter falecido. Como vimos, não era “mimimi”. A mensagem precisava ter vindo, mesmo, de uma banda de pretos vindo do interior do país, tocando crossover, misturinha tão bem vinda pelos rockeiros brasileiros, falando sobre racismo, feminismo e demais cracas da sociedade brasileira na lata, na cara, sem espaço para distorções (exceto na guitarra, claro). Fogo Nos Racistas, seu grande hit, é prova disso.
Black Pantera é o genuíno Bad Brains brasileiro. Calma, não atire seu pedregulho anticolonialista ainda. A comparação é justa por que estadunidenses vieram primeiro, e são referência confessa da banda. Além disso, assim como no cenário hardcore dos EUA nos anos 80, o Brasil de hoje tem pouquíssimos pretos fazendo rock. E os mineiros chegaram para mudar isso, puxando mais gente diversa para um gênero musical que estava perigosamente branco.
Depois de 2021, a ventania pegou os três de jeito e os levou para lugares como a edição francesa do festival AFROPUNK, o Download Festival, na Inglaterra, o Lollapalooza brasileiro e, agora, o Rock in Rio. Sem contar um bombado circuito de shows por todo o Brasil. Em sua terra natal, onde reina o agronejo, são orgulho máximo da cidade. Simbólico e relevante. A banda já tem quatro álbuns no cardápio e tocará, no domingo, várias de seu mais novo lançamento, Perpétuo, disponibilizado em maio deste ano nas plataformas de streaming.
Quando algo como o Black Pantera aparece, em momento oportuno, funciona como uma bola de demolição, e não só na questão racial. O grupo brasileiro força os portões dos festivais pop, trazendo o rock pesado como mais uma opção para o público. Ao lado do Sepultura, que também se apresenta no RiR com seu show de despedida, trazem de volta uma característica muito bacana, já vista várias vezes antes: atrações brasileiras muito melhores e mais relevantes do que as importadas.
Isso sim, é ser patriota!