Barbara Paz foto: Mauricio Nahas

Barbara paz fala sobre o sucesso do documentário Babenco, produzida como “um afago ao marido”, que nos deixou em 2016

Yasmine Evaristo
Por Yasmine Evaristo

Neste ano o Brasil se viu, mais uma vez na torcida por uma produção nacional que  poderia ser indicada ao Oscar. Infelizmente o documentário Babenco: Alguém tem que ouvir o coração e dizer: parou, pré indicado para as categorias Melhor filme em língua estrangeira e documentário, ficou fora da corrida.

No entanto, o longa dirigido por Bárbara Paz, atriz e viúva do cineasta, chamou a atenção por sua sensibilidade e qualidade técnica. O filme vai ser exibido neste domingo, dia 28, às 23h00, na GloboNews e traz uma narrativa sensível sobre Hector Babenco, cineasta, intelectual, esposo e amigo. 

Entrevistamos Bárbara para saber um pouco mais sobre o documentário e tudo o que ele trouxe à tona. Em uma conversa breve, mas repleta de informações,  a diretora contou sobre seu processo criativo para o desenvolvimento do filme e ressaltou que “No início seria um filme de memória, pois aos poucos ele (Babenco) sentia que estava perdendo lembranças. Comecei a captar ele num leito de hospital e dali nunca mais parei.”

Questionada sobre o quanto a produção envolveu afeto e memoria, afirmou que “Foi uma parceria de vida, de amor mesmo. Uma cumplicidade na vida e na arte. Transformando a dor em obra. Então, fazer o filme acabou sendo um filme sobre um fim. Foi quase que um afago para ele.”

Bárbara também nos contou que alguns empecilhos aconteceram durante a produção,  pois fez “esse filme com metade do orçamento de recursos próprios sendo a outra metade com meus coprodutores como Globo Filmes, Canal Brasil, Itaú Cultural e de órgãos públicos como a SPCINE e o Fundo Setorial. “Entretanto esses acontecimentos não impediram-na de realizá-lo,  afinal “Foi tudo com muita dificuldade, mas esse era um filme missão: ou fazia ou morria. Esse filme é um pedaço de mim.”



Sobre a estética escolhida para colocar em imagens a história de Hector, a forma de mosaico ressalta momentos marcantes da produção cinematográfica do cineasta. Questionada se a escolha foi proposital, ela apontou que foi o filme que sempre quis fazer, “um filme preto e branco, um filme poema, nada convencional. Sem ser didático ou biográfico, porém um único conto. Vida e obra não estavam separadas, eram uma coisa só.”

A fim de entender como é se despir em frente à tela, não um despir físico, mas emocional, perguntamos sobre esse sentimento e Paz comentou que “Não foi fácil aceitar ser personagem dentro da história, mas ela ajudou na intimidade de um casal desnudar esse ser humano Hector.”

Ao assistir ao documentário não nos deparamos apenas com a relação obra e artista, mas também com momentos cotidianos, da relação do casal, dois amigos e cúmplices de vida. A cineasta ressaltou a imagem que quis mostrar a de um “homem, pensador e poeta…era esse que eu queria retratar.” Outrossim ela refletiu sobre a honestidade permitida por essa liberdade, “quando estamos a sós com a pessoa que estamos amando nos sentimos mais a vontade para se abrir e revelar nossas mais profundas inquietações.”



Inegavelmente, Babenco: Alguém tem que ouvir o coração e dizer: parou, deslocou Bárbara Paz da posição de atriz, levando-a para o outro lado da tela. A diretora falou sobre como se sentiu diante dessa experiência, na direção, principalmente por ser uma mulher, realizando filmes em um ambiente majoritariamente masculino: “Acho maravilhoso e necessário. Pretendo dirigir outros filmes (tanto de ficção quanto documentário), chegou a nossa vez de poder mostrar nosso talento, nossa voz, de termos nosso espaço no mundo e sermos protagonistas da nossa própria história.”

Chegando ao fim da entrevista não exito em perguntar sobre como ela se sentiu diante do reconhecimento de sua produção fora e dentro do Brasil. Bárbara confessa que “sinceramente não esperava que esse filme voasse tão longe como a estreia no Festival Internacional de Cinema de Veneza“, entretanto seu desejo era “que ele estreasse em um festival grande e acho que Veneza se encaixava nessa perspectiva. Dessa maneira quando ele ganhou o prêmio de Melhor Documentário pensei que a missão tinha sido cumprida.”

Sobre a indicação do documentário ao Oscar ,comentou “Quando ele foi indicado para representar o Brasil eu pensei, pela terceira vez, que o filme tinha tido sua missão cumprida de fato. Tivemos críticas maravilhosas dentro e fora do Brasil entendendo o filme. Para mim esse foi o maior feedback recebido, sentir esse coração que não queria parar de bater.”

Ao fim desse encontro a única questão que faltava era saber sobre os futuros projetos de Bárbara. E o que ela nos disse nos animou, pois esse ano irá retornar às telas “como atriz no novo longa de Julia Rezende, produzido por Mariza Leão e distribuído pela Vitrine Filmes. Além disso, Paz quer “voltar ao teatro ainda este ano”, mas está dependendo dos projetos de cinema para ter disponibilidade. De qualquer forma, seu contrato com a Globo está mantido.

Yasmine Evaristo

Artista visual, desenhista, graduanda em Letras - Tecnologias da Edição. Membro Abraccine, votante do Globo de Ouro (Golden Globe Awards). Pesquisadora de cinema, principalmente do gênero fantástico, bem como representação e representatividade de pessoas negras no cinema. Devota da santíssima trindade Tarkovski-Kubrick-Lynch.

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