Bad Manners em São Paulo Bad Manners – foto: @ladodireitodopalco

Banda de Ska inglesa Bad Manners põe São Paulo para dançar e nos lembra a relevância histórica do Hangar 110

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Grupo se apresentou sábado e domingo na casa e é mais um representante da “segunda onda” do SKA a pisar no Brasil

Geralmente, damos a uma casa de shows a relevância que merece depois que ela acaba. O caso da paulistana Hangar 110 – ícone do punk rock e, principalmente, do hardcore paulistano na virada do milênio – não é diferente. O singular, nesta história, é que o buraco preferido das bandas no bairro do Bom Retiro morreu em 2017, mas ressuscitou três anos depois.

O fim do Hangar 110 veio com um desabafo de um dos donos, Marco Badin, conhecido como Alemão: “a molecada não vai mais a shows. Preferem assistir pela internet”.  A casa, que funcionava desde 1998 e tinha recebido nomes de peso da música mundial como The Varukers, Agnostic Front e Stiff Little Fingers, encerrava suas atividades e gerou uma intensa discussão sobre a dureza em se manter uma pequena casa em São Paulo, independentemente de sua relevância cultural. Muitas pessoas (a maioria delas, aliás) que não frequentava o Hangar sentiu o peso de seu fechamento.

O pessoal envolvido na administração começou a produzir shows em outros locais. Um novo empreendimento abriu no local, chamado “The House”. No entanto, em 2020, o Hangar 110 voltou e com ela, sua interessante agenda de shows.

No último final de semana, o Music Non Stop esteve na apresentação extra (no domingo) da banda inglesa Bad Manners, uma das grandes da segunda onda do Ska mundial, ao lado de Specials, Madness e The Toasters. Para compreender: o movimento é chamado de “second wave” porque classifica-se como os primeiros, com toda razão, as bandas jamaicanas como Toots & The Mayals, Skatalites e The Ethiopians.

Dançante, rápido, groovy, o Ska é capaz de agradar a diversos públicos e gerações diferentes. Sua influência ecoa em artistas de todos os lados. De Amy Winehouse e Lilly Allen a Vampire Weekend, por exemplo. A formação dos grupos, com o indispensável naipe de metais, traz a vibração performática do soul americano dos anos 50, deixando a coisa ainda mais divertida.

A soul music, por sinal, é algo que os Bad Manners incorporam descaradamente em sua música. O estilo, sejamos justos, é a base que os jamaicanos usaram para criar o Ska. Mas no caso dos ingleses, a performance vai mais além do que uma simples referência, a ponto de tocarem My Gil Lollpop – originalmente gravada pela cantora estadounidense Barbie Gaye, mas notória graças ao compacto lançado pela jamaicana Millie Small logo depois, se tornando o primeiro Ska a fazer sucesso internacional – e Can’t Take My Eyes Off You (Frank Valli, 1967).

O Bad Manners gira em volta de seu vocalista, Buster Bloodvessel, único membro da formação original. Buster, que segue cheio de energia vital, retomou as atividades do grupo após um hiato entre 1987 e 199s, época em que abriu um hotel à beira-mar em Margarete, cidadezinha ao sudeste de Londres, chamado Fatty Towers, dedicado a hóspedes que gostam de comer (muito).  O repertório do show, comum aos que visitam o Brasil pela primeira vez, foi recheado de hits, intenso, rápido…  Ska!

Fotos por @Ladodireitodopalco

 

 

 

 

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.

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