Amanda Chang show Inhotin Amanda Chang – foto; Luciano Viana

“As mulheres tem uma coisa especial com os sintetizadores” – Conversamos com Amanda Chang, que acaba de lançar documentário e live act

Bruna Moura
Por Bruna Moura

Modulando sentimentos com ondas sonoras, Amanda Chang conta em documentário como foi extrair do contato com ruínas a inspiração poética para a construção de um live act único utilizando seu sintetizador modular. Preview de 10min vai ao ar nesta hoje pelo YouTube da Fact Mag.

Amanda Change em performance

Foto: Natália Elmôr

O universo dos sintetizadores é tão amplo quanto a curiosidade da artista Amanda Chang. Desde que começou sua carreira como DJ ela não quis ficar na superficialidade, seguiu buscando conhecimento e aprimorando sua técnica. Há uma década dentro do mundo da música eletrônica, trilhou o caminho da produção musical de uma forma um tanto atípica, já que logo no início de seus estudos ouviu falar sobre a síntese sonora e ficou entusiasmada com aquilo que todos diziam ser muito complicado.

“Quando eu comecei a produzir eu peguei zilhões de samples. Eram mil hats, mil kicks, mil claps que pra mim eram como um jogo de quebra-cabeças e naquele momento eu achava que dificilmente nessa dinâmica eu desenvolveria minha criatividade. Não era tão prazeroso, eu sabia que queria a música mas não sabia como. Fiquei tentando encontrar algo que fazia sentido para mim, foi quando meu professor de produção me falou sobre síntese sonora pela primeira vez.”

Não era a intenção de Samuel Boogie desencorajar sua aluna ao dizer que “Isso é para quem está avançado, nem vou te passar, é muito difícil” e nem tão pouco conseguiu desanimá-la. Possivelmente só queria poupar Amanda de entrar no tortuoso caminho de estudos sobre o tema que neste princípio parecia desnecessário. Quando ela soube da possibilidade de realmente construir seu próprio som do zero ela ficou encantada e sabia que tinha encontrado o meio de fazer música da forma como sentia e estava disposta a fazer o que fosse necessário. Logo, foi o jovem (mas experiente) produtor musical Roni Oliveira que é conhecido como RHR , quem indicou um curso de cinquentão que a daria a base teórica de síntese sonora que mudaria totalmente sua percepção sobre a música e o rumo de sua carreira.

 

 

Durante nossa entrevista foram muitas as sincronicidades relatas por ela até chegar em seu primeiro sintetizador modular, comprado em Berlim durante a viagem com destino inicial ao ADE em Amsterdam no ano de 2016. Foi lá que na intenção de fazer contatos e buscar mais inspiração musical que conheceu o argentino mago dos sintetizadores Ernesto Romeo, que dias depois a acompanhou na escolha do seu primeiro sintetizador e que se tornaria seu professor daí por diante.

Ernesto Romeo com seu sintetizador

Ernesto Romeo. Foto: Facebook

Que onda é essa?

Para início de conversa cabe ressaltar que compor estruturas sonoras a partir de uma onda em um sintetizador modular pode parecer um bicho de sete cabeças para muitos produtores, mas amplia as possibilidades em suas  inúmeras conexões para criar um universo inteiro de timbres e formas de controles.

“Eu não sabia nada e por isso optei pelo modelo modular, que exigiria que eu realmente aplicasse o conhecimento didático e senti como se tivesse aberto um canal da sensibilidade, criando uma intimidade com a música. São sons que você pode extrair de maneira muito única, você controla e constrói qualquer tipo de som, é como se estivéssemos construindo um instrumento novo.”

Chang Rodrigues, como assina o projeto que tem dedicado sua atenção e estudo dos últimos cinco anos, comparou a composição no sintetizador modular com o pintar de um quadro, que de forma única pode até apresentar semelhanças em uma tentativa de reprodução mas que jamais seria o mesmo.

Da mesma forma, a cada aula ou ida para Buenos Aires de encontro com seu mentor Ernesto Romeo, ela nunca retornava do mesmo jeito. Sempre com novas ideias e mais confiante, teve a ideia de levar sua “caixinha” em suas gigs para as primeiras experimentações durante seu DJ Set. E foi diante das ondas do mar da Praia Brava em Santa Catarina no Warung Beach Club que ela começou, como contou durante nosso papo.

“Todas as vezes que eu voltava das aulas na Argentina eu voltava transbordando de confiança e querendo fazer acontecer. Então fui levando meu sintetizador pra fazer DJ set, a primeira vez foi no Warung e a experiência para mim foi fodástica, mesmo que tecnicamente eu ainda não estivesse indo bem, conseguir já fez com que a noite para mim tivesse sido incrível! Como nunca tinha visto ninguém fazendo, eu não sabia se estava certo ou bonito, mas a cada vez eu me sentia mais confiante em levar meu modular. Já a primeira vez que eu fiz um live foi no D-EDGE e foi como um laboratório, eu não sabia como nada ia soar na hora. Foi só na terceira vez que tive a chance de contar com um amigo que me ajudou na mixagem, foi quando vi o quanto era importante e fazia diferença na apresentação, como as bandas que precisam de um técnico e passagem de som. Fui ousada testando isso na prática.”

Ela afirma que essas sessões experimentais eram como saltos quânticos em seu aprendizado e assim foram construindo a fluidez que ela tanto almejava quando começou, frisando que não há forma de produção pior ou melhor e sim a que trazia mais motivação à ela. Como um ato de coragem, ela nunca esperou estar “pronta” para começar.

Construindo nas Ruínas

Na medida que seus sentimentos finalmente eram traduzidos com o uso dos sintetizadores, Amanda voltou ao ADE em Amsterdam sob a orientação de Ernesto Romeo para palestrar um workshop, recentemente também foi recebida no Wave Live Act no Rio e WME Conference com o mesmo fim.

“As mulheres tem uma coisa especial com os sintetizadores, nós mulheres temos uma sensibilidade que naturalmente é mais aguçada, o toque, essa conexão interna, torna infinita a possibilidade de colocar seu sentimento. Compartilhar essa emoção, a minha verdade, passar adiante é o que dá graça!”.

Seu conteúdo nas redes sociais mantém o foco em compartilhar seus processos internos exclusivos com a música. Chang Rodrigues demonstra a construção da sua intimidade com o instrumento amparada em dedicação e curiosidade, o que lhe levou até as Ruínas que seriam o cenário ideal para um registro do seu envolvimento com os sintetizadores e a natureza.

Foto: Natália Elmôr

No documentário lançado pela Fact Magazine, Amanda contextualiza toda a poética envolvida no trabalho que parte do abstrato das coisas simples da vida como por exemplo o som dos pássaros ou do vento indo até os sentimentos de desconstrução e desapego, tudo que as Ruínas a inspiraram naquele momento. Em um diálogo com a Mãe Terra e sentindo a vibração do local construiu ali com seu sintetizador modular um live act enérgico e dançante que será transmitido na íntegra em seu canal do YouTube em breve, no dia 12 de Agosto.

Enquanto esperamos ansiosos por isso, hoje (15/07/21) será exibido um preview de 10 minutos pelo canal FACTmagazine e outros trechos no decorrer do mês em seu Instagram, estes que receberam um tratamento especial com mixagens binaurais que ampliam a percepção espacial em uma grande experiência sonora.

Bruna Moura

Troquei as Barbies por discos e continuei contando histórias, seja com a música ou a caneta. Na pista prefiro dançar a falar, mas se o papo for de outro planeta em embarco facilmente.

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