Com um histórico de oito anos na bagagem, a Rio Music Conference já virou agenda obrigatória para DJs, produtores, bookers, donos de clube e tantos outros profissionais ligados ao universo da música eletrônica no Brasil. Entre quarta (27) e sexta (29), a conferência reuniu cerca de 1.300 profissionais que participaram de painéis e workshops realizados entre o Museu de Arte do Rio (MAR) e o Museu do Amanhã. no novíssimo complexo do Porto Maravilha, centro do Rio de Janeiro.
Nesses três dias lotados de atividades, o Music Non Stop ficou ligado no 220 pra contar pra você o que de mais legal deu pra ver nesse evento que já o mais relevante do setor na América Latina. E como a gente adora uma lista, compilamos 10 coisas bem bacanas que vimos neste RMC 2016.
1 – Locação arrasadora
Se havia hesitação sobre a mudança de local das conferências do RMC, que aconteciam nas últimas edições no Hotel Pestana, elas terminaram no momento da chegada do visitante à zona portuária. O lugar, que era detonado, virou merecidamente o novo point de turismo do Rio de Janeiro. Com os dois novos museus dando uma cara moderna à região do Pier Mauá, o impacto visual já merece ponto – quem não gosta de trabalhar num lugar lindo? Por fora bafônicos, por dentro eficientes, usar os museus como locação foi um belo acerto do RMC.
2 – Prêmios para artistas inovadores
Não que tenha sido a primeira vez, mas este ano, entre os prêmios mais importantes distribuídos no RMC, dois artistas que fazem trabalhos muito autorais (trocando em miúdos, não seguem modinhas) levaram troféus pra casa: a DJ Anna, que levou o prêmio de melhor DJ underground, e L_cio, que ganhou como melhor produtor. Reconhecimento importante de trabalhos que não se importam em necessariamente agradar a multidões.
3 – Temas e convidados relevantes
Fosse em temas mais genéricos ou nos mais focados no nicho de produção de música eletrônica, houve de um modo geral muita gente interessante nos painéis. Do Secretário de Cultura da cidade do Rio de Janeiro, Marcelo Calero, que deu informações bem interessantes no painel Um Olhar para o Amanhã (entre outras coisas, ele disse que o orçamento de cultura da cidade do Rio de Janeiro é maior do que o do Minc!) até o inglês Mark Lawrence, CEO da Association of Electronic Music (AFEM), que dividiu com o público experiências de sucesso de clubes em Berlim e Amsterdam (“os clubes funcionam porque todos seguem regras comuns”), foi bem legal perceber um amadurecimento da elaboração dos temas e também uma real relevância dos participantes das mesas. Pra quem queria aprender e absorver, foi um prato cheio.
4 – Público bem informado
Era nítido perceber que o público do RMC estava bem informado. Na apresentação sobre o serviço de streaming Spotify, mediada por esta que vos escreve, o nível das perguntas da plateia deixou os palestrantes (Bruno Telloli e Roberta Pate) impressionados.
5 – Funk é música eletrônica, sim
Pela primeira vez em sua história, o RMC anunciou uma noite de funk carioca em sua programação de festas. A notícia caiu como uma bomba e boa parte do público chiou nas redes sociais. Um dos painéis da Edição Principal falava justamente disso. Com o nome Funk-se, a mesa de discussão tinha entre os participantes o DJ Dennis, nome sensação do atual funk carioca e que fará o tal evento da discórdia, o Baile do Dennis (7/2), o noite do RMC que teve mais ingressos vendiddos até agora.
“Se as pessoas criticam, é porque não conhecem. É lógico que o funk carioca é música eletrônica”, disse Dennis. Seu parceiro de painel, outro ídolo do funk, Sanny Pitbull, completou: “Como um evento como o Rio Music Conference pode não ter funk? O funk é a música eletrônica que fazemos aqui, do nosso jeito”.
Na mesa também estavam duas relíquias dos bailes blacks, os DJs veteranos Grandmaster Raphael e Carlos Machado aka DJ Nazz. “Nós desenvolvemos um jeito brasileiro de usar a MPC, com certeza tivemos nossa contribuição na evolução de como fazer música eletrônica”, disse Nazz. Acho que não restou muita dúvida de que funk carioca é sim música eletrônica made in Brazil.
6 – O DJ brasileiro virou superstar… no Brasil
A gente sempre pagou um pau pros DJs internacionais, fato. Até porque chegamos depois nesse boate chamada música eletrônica e precisávamos mesmo aprender com pioneiros, como os americanos, ingleses e alemães. Só que a fila anda e nossos/nossas) DJs foram bons (boas) alunos (as), passaram de ano e começaram a criar uma identidade própria. Some-se a isso a alta do dólar e criamos o ambiente perfeito para o recente hype em torno dos DJs nacionais.
7 – Painéis cabeçudos
Foram vários, mas foi lindo ver o painel mediado por Dudu Marote, e com participação dos produtores Omulu, Junior C, Julio Torres e Mateus B. completamente lotado. O papo era sobre equipamentos que eles usam em suas produções, de plug-ins a softwares. Isso rolou no maior auditório do MAR e sem lugar pra uma mosca entrar.
8 – Descentralização Rio – SP
Tanto entre palestrantes quanto entre os participantes, deu pra sentir que cada vez mais gente de várias partes do Brasil querem debater música eletrônica. Foi-se o tempo em que só gente de São Paulo, Rio – e às vezes Belo Horizonte e Santa Catarina – predominavam. Vários sotaques estiveram representados e isso é saudável demais.
9 – Maior presença feminina
Verdade que conferências de música (e não só eletrônica) costumam parecer convenções da Prestobarba. Mas em 2016 o que se viu foram muitas mulheres tanto integrando as mesas nos painéis de debate quanto no público. Destaque pro painel Mulheres na Dance Music, com Paula Miranda (Privilege), Polly Simões (promoter) e DJ Morgana, mediado por esta que vos escreve. Ainda teve participação especial da Monique Dardenne (Boiler Room), que chegou de surpresa e integrou a mesa, e participação massiva do público, com perguntas super pertinentes.
10) Cereja do bolo: Ziraldo numa conferência de música eletrônica
Ninguém entendeu direito, mas durante o anúncio da cidade onde acontecerá o festival Ultra no Brasil (deu Rio, óbvio), Ziraldo era um dos integrantes da mesa. Ziraldo, sim, o desenhista que todos amamos, pai do Menino Maluquinho. Pedimos uma explicação ao Claudio da Rocha Miranda Filho, um dos criadores do RMC: “Ziraldo é meu primo de segundo grau e casado com minha mãe há 19 anos. Um dos mais emblemáticos personagens da cultura deste país, viveu a censura, desbravador de seu tempo e, confesso, um dos meus maiores entusiastas e incentivadores. Não tinha como lançar o Ultra e ele não estar presente!”. Então tá explicado. A galera aproveitou pra tietar e tirar fotos.