Snoop Dogg, Village People e Nelly tocam em cerimônias pró-Trump
Enquanto os dois últimos se apresentaram na cerimônia de posse do novo presidente dos EUA, o primeiro foi a grande atração de evento recente em homenagem a Donald Trump
Realizada nesta segunda-feira, 20, a cerimônia de posse de Donald Trump foi como um forte vento. Serviu para derrubar alguns artistas que tentavam se equilibrar em cima do muro. Foi o caso dos rappers Nelly e Snoop Dogg, além do tenor Christopher Macchio, do grupo Village People e de Carrie Underwood.
Ver Carrie Underwood, uma cantora country loirinha — o tipo de música e artista preferido dos conservadores estadunidenses — não surpreendeu ninguém na cerimônia. De certa forma, Village People também não. Apesar de serem ícones da cultura disco dos anos 70, com vários hits de duplo sentido como YMCA e Macho Man, o grupo passou a rejeitar o rótulo de “banda gay” e ficam putos quando alguém os questiona sobre isso em entrevistas.
Já Snoop Dogg, o artista gente boa amado no mundo inteiro, dono de uma carreira que começou com polêmicas criminais e agora possui uma bela discografia, empresas de sucesso, papéis em filmes de comédia e até posto de comentarista esportivo, surpreende. Negro e periférico, ele veio do extrato social que mais sofre na mão da política trumpista, depois dos imigrantes. No entanto, é o cara que fez o “sonho americano dar certo”. Ficou rico, um empresário bem-sucedido, e os estadunidenses amam esse tipo de história. Falou lembrar a Dogg que ele é uma exceção, e não a regra.
Snoop Dogg não se apresentou na cerimônia de posse, mas no evento Crypto Ball, organizado dia 17 de janeiro por empresários do ramo das criptomoedas em homenagem a Trump. O evento, que ainda contou com performances de Rick Ross e Soulja Boy, dá pintas do que será o seu reinado nos próximos quatro anos. O presidente eleito abriu uma empresa na semana passada, criou uma cripto com seu nome (a $TRUMP). Às vésperas da posse, a moeda já havia valorizado 28 mil por cento, chegando ao valor de 14 bilhões de dólares. Detalhe, ele é dono de 80% delas, ou seja, só colocou um quinto das moedas à venda. Com a jogada, enriqueceu vários bilhões de dólares em apenas alguns dias, usando sua posse como presidente dos Estados Unidos como gancho para a supervalorização.
A cerimônia mal terminou, mas a chuva de pedras já começou. Nelly, também rapper e negro, está tentando se desviar delas. Avisou em suas redes sociais que não se apresentou na cerimônia pelo dinheiro e nem pela figura do presidente eleito, mas por “respeitar o cargo”. Altamente profissional, qualquer um que trabalha com música nos Estados Unidos sabe que cantar na posse de um presidente é doar a sua imagem a um plano ideológico e político.
Snoop Dogg, que já apareceu atirando em um clone trumpista no videoclipe do Nightfall Remix para Lavender, do BADBADNOTGOOD, apenas trollou quem o criticava. No domingo, 19, lançou pelo Instagram uma faixa aparentemente criada por Inteligência Artificial chamada “Unfollowed U” (“deixei de te seguir”), creditada à banda fictícia The Middle Fingers (“os dedos do meio”). Depois de fazer diversos comentários detonando Trump nos últimos anos, mais recentemente o rapper surpreendeu ao elogiá-lo depois de o político garantir clemência para o seu amigo, Michael “Harry-O” Harris, tirando-o da prisão. “Não tenho nada além de amor e respeito por Donald Trump”, disse ao Sunday Times of London no começo de 2024.
Já a turma do Village People resolveu trabalhar em prol da posição “em cima do muro”. A banda está sendo detonada em seus perfis nas redes sociais. Victor Willis (o “policial” do grupo) justificou: “Nós sabíamos que isso não iria deixar alguns de vocês felizes. Mas nós acreditamos que a música tem de estar à parte da política. Nós estamos tentando unir o país, incluindo os que não votaram nele [Trump]. Basicamente, eu sou um democrata. Nós perdemos, então vamos colocar isso de lado. Agora é hora de todo mundo apoiar o presidente eleito”.
Já a lenda da música country, Carrie Underwood, obviamente não precisou se defender de nada. Jogava em casa. “Eu amo nosso país e estou honrada por ter sido convidada para esse momento histórico. Humildemente aceitei o convite para este momento onde todos estarão novamente unidos e olhando para o futuro”, declarou em suas redes sociais. Christopher Macchio foi escolhido pessoalmente por Trump para cantar o hino nacional. O tenor ainda não fez nenhuma declaração a respeito do evento.