Aos 90 anos, seu Osvaldo, 1º DJ do Brasil, toca domingo em SP e aconselha: “o papel do DJ é agradar”
Lenda da discotecagem brasileira se apresenta com Tony Hits no Sesc Santana. Falamos com ele sobre homenagens e a missão do DJ
Neste domingo, o pioneiro seu Osvaldo Pereira, primeiro DJ brasileiro, se apresenta ao lado de outro veterano, o DJ Tony Hits, num baile vespertino no Sesc Santana. A dupla vai comandar o Baile Black, passeando por um repertório de clássicos dos anos 50, 60 e 70, incluindo samba rock, soul, funk, jazz e samba. O evento é gratuito, e com certeza, uma ótima oportunidade para aprender com esses mestres.
Para além da pequena bolha que já o conhecia na Vila Guilherme, seu bairro, seu Osvaldo foi revelado em 2003, ano em que foi publicado o livro Todo DJ Já Sambou, de autoria desta escriba. Até então, não se sabia quem teria dado o pontapé ao ofício no Brasil.
Com certeza, a história — e a descoberta de seu Osvaldo — é um dos pontos altos do livro, que vendeu mais de 25 mil cópias em quatro edições e se tornou material didático em escolas de DJ e cursos superiores de produção musical.
Fascinado pelo rádio desde criança, Pereira fez um curso, foi trabalhar como técnico de som e criou seu próprio equipamento. Isso em 1958! Na época, os bailes eram feitos com orquestras, com muitos músicos, e os ingressos custavam uma nota. Ele teve uma ideia genial para democratizar o valor das entradas: usar seu equipamento para tocar as mesmas músicas que as orquestras executavam, usando discos. Tocava a primeira metade do baile escondido no palco, atrás das cortinas, e só depois elas se abriam, relevando o seu “segredo”.
Assim nasceu a Orquestra Invisível, criação de Osvaldo que anos depois tomou conta dos salões de baile de São Paulo, e mais tarde se espalhou por todo o Brasil. O DJ esteve à frente de sua Orquestra Invisível Let’s Dance entre 1958 e 1968, quando resolveu se aposentar dos toca-discos e focar no ofício de técnico de rádio.
Orquestra Invisível Let’s Dance / Let’s Dance Invisible Orchestra from Studio Riff on Vimeo.
Depois do lançamento do livro e consequentemente dos pedidos que vieram, ele voltou a tocar. Sua caixa de discos, arrumadinha em seu quarto, permaneceu organizada durante os anos da aposentadoria, como eu pude comprovar na primeira visita que fiz à sua casa para entrevistá-lo, em 2003.
Hoje, aos 90 anos, seu Osvaldo segue discotecando e recebendo homenagens. Nada mais justo. Ele já apareceu em programas como Fantástico, Conversa com Bial, Manos e Minas, Metrópolis, entre muitos outros, e recebeu homenagem protocolar na Assembleia Legislativa de São Paulo, além de ter tocado em festivais como o Marisco e o Batekoo, maior pista que ele já encarou, em 2022.
Com tanta bagagem e experiência, claro que bateu aquela vontade de telefonar para seu Osvaldo para me atualizar sobre as novidades desse DJ que tem tanto a nos ensinar. Aqui vai um resumo da nossa conversa por telefone no final da manhã desta sexta (5).
Claudia Assef: Seu Osvaldo, o que o senhor está preparando para o set de domingo, no Sesc?
Seu Osvaldo Pereira: Tô analisando, ainda vou falar com o Tony sobre o baile. Ele vai levar uma quantidade de discos, e eu faço uma parte minha aqui. Ainda vou escolher. Mas normalmente levo variedades: samba, samba rock, clássicos… O intuito é fazer o pessoal dançar.
Como tem sido esse reconhecimento merecido e as homenagens que o senhor tem recebido nesses últimos 20 anos?
O livro foi uma propaganda muito boa daquilo que eu fiz e, o mais importante, fez com que eu passasse a ser convidado para tocar em festas e bailes novamente. É muito gratificante estar de volta a esse meio.
Entre essas festas, acho que a maior que o senhor já tocou foi a Batekoo, um grande festival. Como foi essa experiência?
Tinha bastante gente nesse dia. O tratamento comigo foi muito bom, fiquei muito feliz com o convite. Toquei numa torre bastante alta e o povo acenava pra mim e eu acenava de volta. Foi emocionante todo esse carinho.
No início, na época da Orquestra Invisível, o senhor tocava com um toca-disco apenas e sem fone de ouvido. Agora o seu set-up tem dois toca-discos e fone. Que tipo de tecnologia o senhor aprendeu nesses últimos anos?
Com o passar do tempo a gente vai se adptando. O fone de ouvido, eu já me acostumei com ele, não dá pra perder o fio da meada. Hoje eu toco com duas pick-ups e mixer. Eu me adaptei a isso agora. O toca-disco é a veterana máquina que a gente sempre usou, então, foi uma adaptação tranquila.
O que mais mudou nos bailes dos anos 60 pra cá?
O baile varia muito atualmente, e é preciso estar preparado com discos pra agradar a todos. Então a gente vai experimentando. O mais importante é descobrir o que o pessoal gosta de dançar. Com o tempo, as coisas vão mudando, mas são adaptações que a gente faz e o público gosta.
Sempre tocamos o rock e o samba, que é a nossa música brasileira. Dependendo da festa, a gente precisa estar preparado e com os discos pra agradar a todos, e todos sairem contentes do baile. O comportamento das pessoas depende muito do tipo de baile. Tem o pessoal que tem um ritmo dançante que já é natural deles.
E os seus DJs preferidos, quem são?
Tony Hits, a gente sempre faz festa junto. E também o DJ Marky e outros que conheci nas festas do seu livro, eles são eternos pra mim.
Dica de ouro para a nova geração. O papel do DJ é…?
É ele fazer o pessoal dançar, agradar. De início, ele pode botar umas músicas que só ele conhece, umas três ou quatro. Daí ele já vai entender o que o pessoal gosta e vai nessa onda. Isso é importante, agradar ao baile. Às vezes tem gente que faz pedido, e a gente procura atender.
Serviço
Baile Black com Seu Osvaldo Pereira e Tony Hits
Local: Sesc Santana – Av. Luiz Dumont Villares, 579 – Jd. São Paulo. Ginásio
Entrada: gratuita (acesso para pessoas com deficiência pelo estacionamento)
Estacionamento: R$ 12,00 (primeira hora; R$ 3,00 a hora adicional)
Paraciclo: gratuito (é necessário a utilização travas de seguranças)