Aos 68 anos, Grace Jones faz abdução coletiva em show cheio de hits. Veja as fotos mais bafo do show histórico no D-Edge Concept

Claudia Assef
Por Claudia Assef

FOTOS FLAVIO FLORIDO E SIDINEI LOPES

Grace Jones brinca em serviço. Literalmente. Seu show é uma dose letal de dopamina pra quem a vê no palco –  e pra ela também, que se diverte como uma criança enquanto canta, dança, rebola, agacha, pula, bebe vinho e fala altos palavrões ao microfone.

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Aos 68 anos, a diva jamaicana deitou e rolou na noite deste sexta (18) no palco do Tom Brasil, em São Paulo, na festa D-Edge Concept, com line-up luxuoso que ainda tinha os americanos Mark Flash e Mike Banks (Underground Resistance) e grande elenco joiado de DJs brasileiros (Edu Corelli, Renato Ratier, Eli Iwasa, Ney Faustini, Noise, Nepal, Adnan Sharif, Fernando Moreno, Luísa Viscardi e Conti & Mandi).

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Depois de um set de aquecimento redondo de Edu Corelli, que usou a mesma vibe das fitas k-7 que técnicos de som deixavam rolando antes de shows nos anos 80, tocando de Soup Dragons a Bob Marley, Grace subiu ao palco maravilhosamente nua (ou quase isso, vestia um body cor da pele) usando sobre a pele o famoso padrão de pinturas brancas que Keith Haring imortalizou.

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Com a casa lotada, a atração principal da noite veio com banda pela primeira vez ao Brasil, e quem estava na plateia esperava não menos que a perfeição impressa em seus discos. Pois foi à altura da expectativa a entrega de Grace. Como se estivesse na pista de dança do Studio 54, em Nova York, onde se jogava ao som de Larry Levan, ela ocupou o palco inteiro com seus passos de dança, sua agilidade, seu corpaço e principalmente com sua voz potente e cristalina. Ponto para o soundsystem que nos permitiu ouvir cada detalhe, cada nuance da voz de Grace.

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O desfile de hits foi enorme. O primeiro deles foi Love Is The Drug, versão de Roxy Music que ela gravou no álbum Warm Leatherette, de 1980. Poucas vezes uma regravação foi tão atrevida e de resultado tão brilhante. Do palco, usando adornos de cabeça que ora a deixavam com silhueta de orixá ora de diva clubber, ora de pomba gira, ora de deusa do sexo, ela aparentava muito mais que seus verdadeiros 1,75cm. Era uma deusa gigante, disposta a tirar todos da zona de conforto. “Por que caralho vocês não estão se acabando de dançar?”, “quero ouvir vocês cantando esta música” e outras provocações saíam da boca de Grace como se ela estivesse falando com uma amiga no bar.  Em certo momento, seu chapéu coco coberto de glitter foi usado como se fosse um globo de espelhos, espalhando raios de luz pelos quatro cantos do Tom Brasil. Mas a gente sabia que a luz não vinha do reflexo no chapéu, mas da aura de Grace.

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Pra sorte de quem estava ali, a seleção das músicas apresentadas não deixou de fora os grandes hits da carreira – aquelas músicas de FM que tantos artistas preferem aposentar de seus repertórios ao vivo. Tivemos a chance de ouvir Libertango (versão em inglês e dançante para música de Astor Piazzolla), This is Life (com o mantra this is my voice/my weapon of choice), a extasiante Slave To The Rhythm, a libertária Nightclubbing (praticamente uma metalinguagem), o reggae eletrônico puxado no molho da luxúria My Jamaican Guy,  Williams Blood (uma aula de canto à parte, com suas modulações), o hino clubber Pull Up To The Bumper numa versão extended de quase 10 minutos de duração, tempo em que ela ficou rebolando com um bambolê como se nada estivesse acontecendo. E, claro, teve Amazing Grace, porque afinal de contas estávamos na missa da deusa negra da música, divindade à qual Beyoncé, Rihanna, Lady Gaga e tantas outras deveriam pedir a benção diariamente.

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Todo o mise-en-scène do show ganha um adorno especial dado o fato de que o álcool tem um papel importantíssimo. Se Grace bebe? Bebe. Se Grace estava bêbada? Sim. Mas assim operam deuses e deusas. Ela usa o vinho para tirar de dentro de si o mais basal dos seus instintos artísticos. Grace usa o álcool e não o contrário. Num ano em que tantos artistas seminais da música resolveram desencarnar (Bowie, Prince, Maurice White, Leonard Cohen e agora Sharon Jones!), assistir a um show de Grace Jones no auge de sua maturidade e, consequentemente, com total domínio de sua arte é um presente. In Grace we trust.

Veja mais fotos do show na galeria.

 

 

 

Claudia Assef

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Autora do único livro escrito no Brasil sobre a história do DJ e da cena eletrônica nacional, a jornalista e DJ Claudia Assef tomou contato com a música de pista ainda criança, por influência dos pais, um casal festeiro que não perdia noitadas nas discotecas que fervilhavam na São Paulo dos anos 70.

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