Circulou semana passada pelas redes sociais a notícia da “reinauguração” da boate A Loca, que foi lacrada pela Prefeitura de São Paulo em julho do ano passado. O nome tinha de diferente apenas uma letra, Loka, no lugar de Loca. A palavra “reinauguração” e as postagens sobre a festa, que aconteceu na última quinta-feira (2), feitas a partir da fanpage oficial da icônica boate da rua Frei Caneca levavam a crer que a antiga gestão estava envolvida. Fomos investigar.
Nada melhor do que ir direto à fonte, o eterno dono da Loca, o argentino Anibal Aguirre, que, meses antes do fechamento do clube, havia anunciando planos de renovação para a boate que já acumulava 22 anos de serviços prestados ao underground paulistano.
A Lôca original, aquela que todo mundo já foi um dia
A Loka, com K, que acabou de inaugurar. Qualquer semelhança não é coincidência
Há poucas informações sobre os novos donos – segundo um DJ que está trabalhando na programação das noites, a casa foi comprada por três empresários de São Paulo e alguns ex-funcionários da casa continuam no staff. A programação segue bem parecida com a da antiga Loca, assim como toda a direção de arte dos flyers e redes sociais – até a antiga rainha louca aparece repaginada na comunicação da boate.
Procurada pelo Music Non Stop, a direção da Loka preferiu não responder as perguntas enviadas pela reportagem. Declarou somente que “as perguntas de cunho comercial preferimos não responder. Com relação a arte gráfica e símbolo da casa, resolvemos manter uma referência para demonstrar que a casa, apesar de nova, mantém a mesma essência da antiga. Por isso o ‘K’ no lugar do ‘C’ Aloka”. Mesmo insistindo em saber quem seriam os novos donos, não houve resposta.
Leia entrevista com Anibal Aguirre
Music Non Stop – Você tem algum envolvimento com a boate A Loka?
Anibal Aguirre – Eu fiquei sabendo da inauguração na semana passada, quando um amigo me perguntou se eu tinha sido convidado. Aos poucos fui vendo flyers com a programação. Não sei quem está por trás disso, só diz o nome da hostess no convite.
Music Non Stop – O que aconteceu depois que a Loca foi fechada? Você passou o ponto?
Anibal Aguirre – Nunca mais tive contato com ninguém [da Prefeitura], apenas com os advogados. Não sei quem são essas pessoas que conseguiram o ponto.
Music Non Stop – Verdade que vocês nunca puderam voltar ao imóvel para retirar os objetos, móveis e equipamentos que ficaram lá dentro?
Anibal Aguirre – A gente não tem ideia por que a Prefeitura se negou a abrir a porta pra gente retirar nossas coisas por tanto tempo. Tivemos que pagar uma taxa e mesmo assim demorou. Quando finalmente pudemos entrar, a casa tinha sofrido um furto total, tinham levado caixas de som, iluminação, bebidas, arquivos, documentos, lustres, projetores, absolutamente tudo mesmo! A casa não tinha nada mais! Até cadeiras que a gente usava quando dava cursos de DJ e que estavam guardadas em depósitos, tudo foi levado. E claro que para desmontar coisas como caixas de som, isso não aconteceu de uma hora pra outra, devem ter levado escadas, desligado quadros de luz, as caixas de som são superpesadas… levaram tudo. Além de todo esse prejuízo material, o pior é que a Prefeitura fechou uma casa que até hoje não sabemos o porquê de verdade, depois de 22 anos de funcionamento com alvará.
Music Non Stop – Então quem for à Loka achando que você estará por lá ou que está envolvido vai cair do cavalo?
Anibal Aguirre – Um site bem conhecido publicou que eu faço parte dessa nova casa, o jornalista disse que me entrevistou etc. e tal. Isso é uma grande mentira, uma irresponsabilidade de quem publicou. Não tenho o hábito de falar com jornalistas, você sabe, sou muito low profile, nem quando a Loca fechou eu quis falar. Tenho uma política que é “não existe almoço grátis” para a imprensa… desculpa (risos). A Loca com “c” não tem nada a ver com essa Loka com “k”, e acho que quem gosta de moleza deveria comprar um pudim em vez de usar toda a nossa estrutura. A mediocridade tem nome e vamos saber quem está por trás disso. Quando eu abri mão de seguir com a marca A Loca, não fiz isso porque sou louco, fiz porque aquele local já não era interessante pra gente, o lugar vinha se tornando perigoso pela frequência e até mesmo dentro da casa, os funcionários já estavam todos uns contra os outros. E isso não leva um negócio pra frente.