Ano emblemático na luta pelos direitos iguais entre gêneros fecha com primeiro prêmio brasileiro dedicado às mulheres da música. Assista ao vivo.

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Nesta terça (28), uma enorme tropa de garotas notáveis será o centro das atenções dx apaixonadx fã de música no Brasil. Em comum, esse time produziu, filmou, escreveu, cantou, tocou, narrou e discotecou algumas das obras mais bacanas do ano e agora concorre, pela primeira vez, a um prêmio dedicado somente ao lado feminino da música. O primeiro WME Awards by VEVO chegou e só tem diamante.

O primeiro prêmio brasileiro (e segundo no mundo) dedicado às mulheres da indústria da música fecha com uma grande e reluzente chave de ouro o simbólico 2017, ano em que a mulherada fez retumbar nas redes sociais, nos escritórios, na rua e em casa a notícia de que acabou a festa com o sacrifício e o sofrimento do gênero alheio.

Foi o ano do “não vamos mais engolir” nada que desça quadrado. Ou dá-se às mulheres o mesmo tratamento, a mesma remuneração e a mesma representatividade do decadente império masculino, ou desce-se ao limbo do macho escroto, círculo do inferno onde os condenados vivem eternamente de mimimi numa mesa de um bar cheio de homem.

Gaia Passarelli, uma das indicadas, acredita que o timing foi perfeito pra termos no mercado uma premiação só para mulheres

O WME vem num momento excelente, em que a sintonia feminina está afiadíssima. É muito importante que esse espaço esteja sendo preenchido, e principalmente que isso esteja acontecendo pelas mãos de uma equipe totalmente formada por mulheres. De nós para nós”, opina a escritora Gaia Passarelli, que está concorrendo na categoria Melhor Jornalista.  

Premiar mulheres notáveis diz muito. Diz que vale sim a pena ser foda. Infelizmente, há ainda muitos casos em que pessoas são levadas a acreditar no contrário, apenas para acalentar inseguranças do outro. Imagino e chego até a apostar que o sentimento de todas as ganhadoras de cada categoria, eleitas por um júri técnico e também pelo voto popular, vai ser de uma alegria muito mais coletiva do que individual. O sentimento de “olha só o que a gente está fazendo”, logo suplantado pelo sublime “não tem mais volta”.

“Um prêmio superimportante. Importante colocar a gente em foco, reconhecer os nossos êxitos, as nossas jornadas, as nossas trajetórias. Vida longa a esse prêmio. Tô muito feliz por estar participando”, reconhece a cantora Letrux, indicada nas categorias Melhor Produtora e Mulher Álbum, pelo primoroso Letrux em Noite de Climão.

Letrux, a antidiva carioca que virou assunto em 2017 com seu álbum Em Noite de Climão

O Brasil inteiro poderá curtir a festa, que será transmitida a partir das 21 horas desta terça-feira, online pelo Facebook da VEVO e pelo canal Music Box Brasil . O time de concorrentes é estrelado de uma estrelitude e de uma pluralidade (do under ao mainstream) sem tamanho: Elza Soares, Karol Conka, Mallu Magalhães, Letrux, Anitta, Badista, Cashu, Linn da Quebrada, As Bahias e a Cozinha Mineira, Mahmundi, Pitty, Aíla, Ludmilla, entre tantas outras, disputam o prêmio de melhor nas categorias álbum, cantora, DJ, videoclipe, revelação e melhor música. O júri técnico é também todo formado de minas notáveis, entre elas jornalistas, radialistas, diretoras de videoclipe. O legal da premiação é justamente esta valorização do que se vê no palco (cantoras, músicas, clipes, hits) e o que não se enxerga necessariamente sob os holofotes (produtora, diretora de clipes, jornalista, radialista…).

Pitty e Elza Soares concorrem na categoria Melhor Videoclipe

A primeira edição de um prêmio tem uma pureza intocável. Nenhuma obra artística foi composta de olho nele. Isso escancara o frescor da criação feminina neste Brasil tão estragado. Como melhor álbum por exemplo, temos As Bahias e a Cozinha Mineira, Letrux, Mallu Magalhães, Flora Matos e Larissa Luz. Num prêmio eventualmente “unissex” é difícil imaginar qual delas teria de ser limada para a entrada de concorrentes masculinos. Na verdade é difícil encontrar até mesmo um ícone com o tamanho da Elza Soares, que lança aos 79 anos lançou um álbum irretocável relacionado pelo New York Times entre os dez melhores álbuns do mundo.

Pouco mais de seis meses depois da primeira conferência do WME, temos um prêmio com esta dimensão. O timing também foi perfeito. Em 2017, as minorias apareceram muito e é louco falar em ‘minoria’ e citar a mulher, mas a verdade é que somos mesmo. Nosso salário é menor, nossa representatividade em todos as esferas do governo é menor, então a gente se enquadra sim nesta questão”, diz Claudia Assef, uma das criadoras do prêmio ao lado de sua sócia no WME, Monique Dardenne, e de Fátima Pissarra, a toda-poderosa da VEVO Brasil.

Falando sério, que cara teria atualmente tamanha atitude, criatividade e majestade que Elza? Roberto Carlos? É óbvio que ninguém, nem as organizadoras do prêmio, nem as embaixadoras, muito menos o público ou este que vos escreve, quer usar o evento para criar mais uma base de comparação e competição entre gêneros, além das inúteis milhares de outras que já existem. Mas vamos combinar… elas arrebentaram em 2017, vai.

Não fosse legal o suficiente premiar a produção atual, o Prêmio WME levantou a bola de duas artistas cujo legado fala por si. As homenageadas desta primeira edição são, apenas, Rita Lee, do alto de seus 50 anos de carreira (e a grande pergunta é: “será que ela vai à premiação?”), e dona Helena Meirelles (1924-2005), que terá seu posto de Dama da Viola reavivado numa homenagem durante a premiação.

A onça pantaneira Helena Meirelles será reverência em um número ao vivo performado pela guitarrista Monica Agena

Nosso objetivo com o WME Awards by VEVO é alcançar mulheres de todos os cantos do país e que atuam nas mais diversas áreas da cadeia musical para dar voz a essas profissionais e o reconhecimento necessário, pois muitas
vezes elas acabam ficando em segundo plano. A VEVO Brasil tem orgulho de contribuir com a igualdade e celebrar o empoderamento feminino em todas as suas frentes de atuação
”, diz Fátima Pissara.

Claudia Assef, Fátima Pissarra e Monique Dardenne, as criadoras do Prêmio WME Awards by VEVO

As indicadas para as categorias de júri técnico também serão reveladas na noite de premiação, e são elas:

Diretora de Videoclipe: Vera Egito, Camila Cornelsen, Gabi Jacob, Katia Lund e Paula Gaitan.

Empreendedora Musical: Fabiana Batistela (SIM São Paulo), Anitta, Eliane Dias (Boogie Naipe/Racionais MCs), Ana Garcia (Coquetel Molotov) e Tiê.

Instrumentista: Mahmundi, Larissa Conforto, Anna Tréa, Lan Lanh e Badi Assad.

Jornalista Musical: Claudia Assef, Roberta Martinelli, Patricia Palumbo, Gaia Passarelli e Debora Pill.

Produtora Musical: Mahmundi, Érica Alves, Badsista, Letrux e ANNA.

Radialista: Roberta Martinelli, Patricia Palumbo, Debora Pill, Fabiane Pereira e Sandra Carraro.

Melhor Show: Elza Soares (A Mulher do Fim do Mundo), Marília Mendonça (Raridade), Tássia Reis (Outra Esfera), Karol Conka e Ivete Sangalo (Rock in Rio 2017).

As indicadas para as categorias de voto popular são:

Melhor álbum: “Bixa” (As Bahias e a Cozinha Mineira), “Em Noite de Climão” (Letrux), “Vem” (Mallu Magalhães), “Eletrocardiograma” (Flora Matos) e “Território Conquistado”, Larissa Luz.

Melhor Cantora: Elza Soares, Marília Mendonça, Anitta, Juçara Marçal e Karol Conka.

Melhor DJ: ANNA, Cashu, Cinara, Groove Delight e Badsista.

Melhor Videoclipe: “Lalá” (Karol Conka), “Lesbigay” (Aíla), “Cheguei” (Ludmilla), “Sua Cara” (Major Lazer feat Anitta e Pabllo Vittar) e “Na Pele” (Elza Soares & Pitty).

Revelação do Ano: Luiza Lian, Xenia França, Anavitória, Iza e Linn da Quebrada.

Melhor Música: “Loka” (Simone e Simaria ft. Anitta), “Lalá” (Karol Conka), “Paradinha” (Anitta), “Você Não Presta” (Mallu Magalhães) e “Fica” (Anavitória feat. Matheus & Kauan).

VEJA NO ÁLBUM OS BELÍSSIMOS CARDS COM AS INDICADAS

Assista online pelo facebook, transmitido pela Vevo Brasil, ou pela TV a cabo, no canal Music Box, a partir das 21 horas desta terça, dia 28

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.

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