Projeto SP Projeto SP: origem na Augusta – foto: reprodução Youtube

Aniversário de São Paulo: relembre as casas de shows que fizeram história na cidade

Claudio Dirani
Por Claudio Dirani

AeroAnta, Dama Xoc, Projeto SP e Palace: histórias e lendas dos templos da cultura pop de São Paulo

Feliz Aniversário, envelheço na cidade”… Puxar as comemorações do aniversário de São Paulo com a canção de abertura do segundo álbum do Ira! – o impecável Vivendo e Não Aprendendo –já é tradição. Mas está longe de ser apenas um mero bordão.

Afinal de contas, nada mais apropriado do que resgatar o clássico de 1986 da banda paulistana para soprar as 469 velinhas que marcam o tempo de vida capital – além de reviver histórias e lendas de algumas das mais cultuadas casas de espetáculos que fizeram parte de sua vibrante cultura pop.

Fato. Esses ícones podem já não estar mais entre nós, mas a eletricidade das bandas que passaram por seus palcos ainda corre pelo sistema nervoso de quem testemunhou de perto os anos 1980 e 1990.

 

AeroAnta

Dentro do AeroAnta

Inauguração: Novembro de 1987

Endereço original: Rua Miguel Isasa, 404 – Largo da Batata – Pinheiros

Encerramento: Abril de 1996

Aberta pelos sócios Sérgio Zerbine, José Renato Vessoni e Beto Pandiani, o AeroAnta despontou na cultuada região do Largo da Batata no final da década de 80 como o berço de alguns dos principais artistas do pop nacional, sem deixar de acolher grandes craques gringos da música.

Entre 7 e 9 novembro de 1995, por exemplo, a pequena pista de 350 m² do AeroAnta (os outros 350 eram reservados para o restaurante e o bar da casa) recebeu os fãs do Buzzcocks – quarteto punk de Manchester responsável por influenciar diretamente gigantes como U2 e Oasis.

O AeroAnta também serviu de trampolim para que bandas como o Skank despontassem para o estrelato. Em 5 de junho de 1991, os mineiros subiram no palco da casa paulistana para apresentar seu repertório para 37 heroicos pagantes. O registro da passagem do Skank pelo AeroAnta está disponível hoje como faixas extras do álbum Skank 91, que resgata os primórdios do grupo de Belo Horizonte.

Outros nomes que passaram pelo AeroAnta: Tim Maia, Caetano Veloso, Joe Satriani, Nick Cave, Cazuza, Raimundos, Marisa Monte, Ira!.

 

Projeto SP

Projeto SP: origem na Augusta

Inauguração: Setembro de 1985

Endereço original: Rua Caio Prado, 232

(A partir de 13 de novembro de 1987: Rua Sergio Meira, 238 – Barra Funda)

Encerramento: 1992

Exatamente às 9 horas da noite de 18 de setembro de 1985, o antigo colégio de freiras Des Oiseaux deu lugar ao Projeto SP – um dos mais badalados espaços culturais da história da cidade que, dois anos mais tarde, seria transferido para o bairro da Barra Funda. O motivo? Capacidade ampliada de 3 mil para 7 mil fãs de pop, rock, jazz e muitos outros gêneros.

Concebido pelos irmãos publicitários Arnaldo e Marcelo Waligora (falecido em 2009), o Projeto SP abriu suas portas em grande estilo, montado sob uma lona circense, com a apresentação inédita no país do norte-americano Stanley Clarke, então considerado o melhor baixista do mundo, segundo críticos das revistas Downbeat e Rolling Stone.

“Stanley Clarke não está ligado a nenhum tipo de música”, afirmou Arnaldo Waligora ao Estado de S. Paulo no dia anterior à inauguração da casa. “Ele é músico acima de tudo”, definiu o idealizador do Projeto de SP, que já anunciava Paralamas do Sucesso e Beto Guedes para as semanas seguintes.

A mudança de casa para o ampliado ponto na Barra Funda aconteceu em 13 de novembro de 1987 – novamente com o baixista Stanley Clarke, desta vez, “ocupando” a vaga de Sting em um trio formado com os dois ex-integrantes do The Police Andy Summers (guitarra) e Stewart Copeland (bateria).

O Projeto SP também ficaria marcado como o marco zero em uma nova guinada na vida e carreira do australiano Nick Cave. Em 15 de abril de 1989 ele se apresentou na casa com os Bad Seeds, onde viria a conhecer Viviane Carneiro, mãe de seu filho brasileiro, Luke. No ano seguinte, Cave gravou e produziu The Good Son no Cardan Studios, em São Paulo.

Sua estadia no bairro da Vila Mariana durou até 1996, ano em que se divorciou da jornalista.

Outros nomes que passaram pelo Projeto SP: Titãs, Legião Urbana, Iggy Pop, David Byrne, Jethro Tull, Cocteau Twins, Jesus and Mary Chain, Stray Cats, Devo.

 

Palace

Antiga fachada do Palace

Inauguração: 5 de abril de 1983

Endereço original: Avenida dos Jamaris, 213 – Moema

Encerramento: A casa foi rebatizada como Directv Music Hall e Citibank Hall. Fechou as portas em março de 2012.

Aberto ao público oficialmente em 5 de abril de 1983 com a turnê Emoções, de Roberto Carlos (show com patrocínios da Vasp, Jovem Pan e Poupança Haspa), o Palace foi por mais de duas décadas um dos principais redutos da cultura pop nacional e internacional, abrigando mais de 3.500 shows.

Idealizada pelos sócios Fernando Otério, Sérgio Assunção, Vitor e Fernando Simonsen, a casa recebeu Cr$ 500 milhões em investimentos (cerca de R$ 90 milhões) para a conclusão do projeto original de 3.000 m² de área construída e capacidade para 1.800 expectadores.

Por acidente, o Palace veio a ser a “casa dos Ramones” na primeira vez que o grupo de Forest Hills, Nova York, veio ao Brasil no final de janeiro de 1987 no final da longa turnê Animal Boy.

O plano original era levar Joey, Johnny, Dee Dee e Ritchie para um local que se aproximasse mais das raízes punk dos Ramones, o Palácio de Convenções do Anhembi. Porém, as tempestades de verão da época deixaram o centro de eventos da zona norte de São Paulo praticamente submerso e os organizadores apelaram para um ambiente mais requintado.

Com a tour transferida para o Palace, as três apresentações dos Ramones viraram quatro: duas no sábado, 31 de janeiro, e mais duas no domingo, 1º de fevereiro.

Na sexta-feira que antecedeu a estreia brasileira dos Ramones, o saudoso Joey Ramone concedeu entrevista exclusiva para o não menos saudoso Kid Vinil, na época, colaborador da Folha de S. Paulo.

Kid Vinil – Voltando ao show de São Paulo, gostaria de saber se vocês pretendem incluir teclados, como têm feito em seus discos mais recentes?

Joey Ramone – Não. Teclados, de espécie alguma. Ao vivo é outra história. É muito mais “speed”. Um negócio mais visceral, excitante. Faremos tudo em quarteto, com nossos amplificadores Marshall. (…)

Outros nomes que passaram pelo Palace: Tom Jobim, Chico Buarque, B.B. King, Steve Winwood, Lou Reed, Suzanne Veja, Cazuza, Ivan Lins.

 

Dama Xoc

No calor da Dama

Inauguração: 4 de agosto de 1988

Endereço original: Rua Butantã, 100 – Pinheiros

Encerramento: 2003

Em resenha publicada no Estadão em 3 de agosto de 1988, o jornalista Luiz Antônio Giron anunciava o lançamento de Carnaval, sexto LP do Barão Vermelho, como “Uma obra prima de rebeldia e de rock brasileiro sem fronteiras de nação ou filiações de moda”.

A superpositiva crítica de Giron ao álbum da banda carioca foi como uma cereja do bolo para a inauguração de outro marco para o pop nacional, convidando os fãs da banda para abertura das portas da novíssima Dama Xoc, no bairro de Pinheiros, onde o próprio Barão lançaria o disco na noite seguinte.

Concebida por sete sócios – entre eles, o guitarrista da banda Zero, Eduardo Amarante – a Dama Xoc tinha espaço para um público aproximado de 2.500 fãs distribuídos em uma área construída de 1500 m², que entre 1948-1970 serviu como sede do Cine Goiás e, nos anos seguintes, para um estacionamento.

“Não seremos uma nova versão do Palace, por exemplo, (que) essencialmente (é) um lugar aonde se vai pela atração em cartaz”, afirmou Alfio D’Avila na véspera da inauguração do Dama Xoc. “Será um lugar com ótimos shows que as pessoas frequentem, independentemente do espetáculo que estiver rolando” concluiu D’Avila, que atuava como programador artístico da casa.

Em seu review original, a jornalista Cynthia de Almeida definiu a Dama Xoc nas páginas da edição de 5/8/88 do Caderno 2 como “um novo prazer da noite”, pontuando que a casa havia passado no teste do show do Barão Vermelho, destacando que apresentação fechou como “o brilho e o Carnaval de Frejat: uma noite de tietagem que pode abrir um bom capítulo na noite de São Paulo”.

Outros nomes que passaram pelo Dama Xoc: Plebe Rude, Raul Seixas, Legião Urbana, Titãs, Capital Inicial, Ratos de Porão, Sepultura, Ramones.

Claudio Dirani

Claudio D.Dirani é jornalista com mais de 25 anos de palcos e autor de MASTERS: Paul McCartney em discos e canções e Na Rota da BR-U2.

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