Alerta discaço: Jovem Palerosi lança segundo álbum, Ziyou, no Music Non Stop. Pare tudo, ouça e leia a entrevista

Claudia Assef
Por Claudia Assef

Já faz tempo que andamos de olho no que faz, no que pensa e, principalmente, no que produz este tal de Jovem Palerosi, aka mistério de Rodrigo Santos Palerosi, 31, produtor musical, músico e DJ que tem feito a gente se deliciar com seus grooves e melodias que caminham cada vez pra longe de um som eletrônico convencional.

Além de uma carreira solo, ele é integrante da banda instrumental Meneio e do projeto Craca, Dani Nega e o Dispositivo Tralha, sobre a qual já falamos aqui, além de fazer trilha sonora para audiovisual e dança e colaborar frequentemente com diversos artistas da cena instrumental, eletrônica e experimental.

Em 2014, Jovem Palerosi lançou seu primeiro álbum solo, Mouseen, uma surpresa pra lá de agradável pra quem buscava algo de novo na cena eletrônica nacional. O disco foi incluído nesta matéria com 10 revelações da cena nacional, se você não leu, aqui vai.

Desde então, Palerosi passou a se apresentar solo no formato live PA, remixando suas produções em tempo real, combinando diferentes loops e tocando sintetizadores em festas tão distintas quanto a urbana Blum ou numa rave no mato em Heliodora (MG).

Agora é vez de seu segundo disco, Ziyou, ganhar a luz do dia, e pra felicidade geral desta escriba ele escolheu o Music Non Stop para oferecer o álbum para escuta em primeira mão.

OUÇA E COMPRE ZIYOU DE JOVEM PALEROSI 

O disco é o primeiro álbum cheio lançado pelo selo Tropical Twista Records, que completa dois anos de bons trabalhos prestados a serviço da música feita e pensada fora da caixinha. O álbum traz uma sonoridade zen, que foi alimentada por samples captados durante uma viagem à China e depois processada no bairro onde o produtor veio morar em São Paulo, a Liberdade. Grooves delicados coexistem com melodias que nos fazem mergulhar pra dentro da alma. Ziyou é, portanto, uma homenagem à liberdade de existir como o artista que Palerosi bem entender, não à toa este é o significado da palavra chinesa que dá nome ao disco.

“Nas andanças por Beijing (Pequim), fiquei muito chocado com os templos, parques históricos e toda a vibe ancestral que coexistia em paralelo com aquela babilônia urbana e individualista. E a sonoridade de alguns instrumentos, melodias e ambiências pra mim combinavam muito com a música eletrônica. Uma das coisas mais bonitas que vi foi alguns idosos dançando músicas que misturavam beats e instrumentos tradicionais, um escape espacial/espiritual durante a tarde, coisa que não temos muito por aqui. Com uma câmera eu gravei alguns desses momentos inspiradores, pessoas cantando e tocando na rua, algumas delas viraram samples e entraram no disco depois”, contou o produtor. Leia a seguir a entrevista completa.

 

Music Non Stop – Como e quando você começou a trabalhar com música?

Jovem Palerosi – Foi uns 10 anos atrás no final da faculdade em São Carlos, na época em que colocamos a Rádio UFSCar no ar. Trabalhei na programação geral da rádio por um período e durante cinco anos realizei o Independência ou Marte, um programa semanal sobre a nova música brasileira que estava sendo produzida. Disso, nasceu um projeto de discotecagem, as primeiras circulações para tocar e pouco tempo depois também comecei a colaborar com alguns músicos, bandas e produzir sozinho também, bastante influenciado pelas possibilidades que eu descobri nesse processo.

Music Non Stop – Você tem um background que mistura rock indie, hip hop e trilhas sonoras. Como rolou sua “virada” para o som mais de pista?

Jovem Palerosi – Na verdade tenho uma sintonia com as pistas desde o início do trabalho de discotecagem, mas quando comecei a produzir meu trabalho solo tentei me desligar um pouco disso, querendo experimentar a linguagem como um todo, buscar escapes mentais e espirituais. Só que sempre continuei tocando em festas, às vezes remixando músicas minhas ou fazendo reedits de outros sons que são influências, é um processo que se retroalimenta. Naturalmente depois de montar meu live, alguns sons têm saído com mais groove e funcionam pra pista também, gosto bastante disso, mas também gosto de fazer música sem saber exatamente qual será a reação das pessoas e valorizar cada composição.

Music Non Stop – Como funciona a sua participação na banda Meneio?

Ouça o álbum Meneio, de 2015

Jovem Palerosi – A Meneio surgiu de composições de guitarra e parcerias musicais paralelas ao meu trabalho solo eletrônico. Eu joguei as idéias na roda, alguns amigos quiseram postar e se transformou em um trabalho coletivo. Na banda eu toco guitarra, samples, produzi e mixei o primeiro disco. Agora também assumi a responsabilidade das projeções, reunindo materiais que produzimos e de alguns parceiros, que eu disparo sincronizado com os samples ao vivo.

Music Non Stop – Como rolou a conexão com o selo japonês Bump Foot para o seu primeiro álbum?

Jovem Palerosi – Em 2014 quando fui lançar meu primeiro disco não tinham muitos selos no Brasil para o tipo de som que eu estava fazendo, e comecei a procurar selos fora que trabalhassem com esses gêneros e também no formato Creative Commons, pois tinha muito a ver com o processo de samples que eu tinha utilizado. Daí encontrei o Bump Foot, um selo japonês que já tinha lançado alguns artistas brasileiros com o Chico Correa & Electronic Band e mandei material. Eles foram bem atenciosos e toparam, foi bem legal para aquele momento.

Jovem Palerosi – Mouseen

Music Non Stop – Qual foi o primeiro disco que comprou e quais são suas memórias afetivas sobre ele?

Jovem Palerosi – Não tenho certeza, mas acho que foi o CD do Vamo Batê Lata do Paralamas, com uns 9/10 anos. Lembro que assisti um show que me tocou muito, o Hebert antes do acidente, pilhado demais, a galera insana. Fiquei tocado com isso e quis comprar o disco. Meus primeiros discos foram de rock nacional anos 90, fiz até uma mixtape chamado Mega Hits com os CDs que comprava. Compilei numa fita cassete as músicas de que eu mais gostava, fiz até uma arte e sai vendendo, trocando.

Music Non Stop – Quanto você tem de nerd e quanto você tem de clubber dentro de você?

Jovem Palerosi – Acho que o lado nerd é de pesquisar tecnologias, história das coisas e também dedicar muitas horas a alguns processos ténicos pra timbrar, mixar e estudar guitarra. Sou meio hiperativo e workaholic, então sempre tô querendo fazer alguma coisa. O lado clubber é que sempre fui mais da noite, adoro festas, afters e bares curva de rio que junta todo tipo de maluco. Em dias de show e festas que toco soma isso com a adrenalina toda e, se não tenho compromisso cedo no outro dia, tem grandes chances virar mais um cavaleiro da balada sem fim.

Music Non Stop – Perguntas bem pessoais: onde você nasceu, qual é seu nome de verdade e por que Jovem Palerosi?

Jovem Palerosi – Nasci em São Paulo capital, mas fui com alguns meses pra São José dos Campos, onde cresci até os 18 anos. Demorei pra lembrar de onde veio o apelido, mas foi de criança que um amigo quis brincar comigo me chamando de marginal, porque eu tinha cabelo comprido, só que me chamou de Juvenal, daí pegou. De Juvenal pra Juvenil, Jovial, Jovem. Daí na época da faculdade quando precisava assinar os primeiros trabalhos, acabei assumindo pras pessoas saberem quem era. O nome mesmo não posso sair revelando assim né, hehe.

Music Non Stop – Sobre o novo disco Ziyou, ele nasceu a partir de uma viagem sua à China, certo? O que você foi fazer lá e quanto tempo ficou? Já linka com o desenvolvimento do álbum por favor.

Jovem Palerosi – Sim! Meu pai é engenheiro do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e vai muito pra lá desde os anos 90, sempre rolou um imaginário forte, algumas fitas e CDs lindos que ele trazia desde quando eu era moleque. Em 2014, ele foi passar um período maior lá e deu um jeito de levar toda a família, ficamos três semanas. Nas andanças por Beijing (Pequim), fiquei muito chocado com os templos, parques históricos e toda a vibe ancestral que coexistia em paralelo com aquela babilônia urbana e individualista. E a sonoridade de alguns instrumentos, melodias e ambiências pra mim combinavam muito com a música eletrônica. Uma das coisas mais bonitas que vi foi alguns idosos dançando músicas que misturavam beats e instrumentos tradicionais, um escape espacial/espiritual durante a tarde, coisa que não temos muito por aqui. Com uma câmera eu gravei alguns desses momentos inspiradores, pessoas cantando e tocando na rua, algumas delas viraram samples e entraram no disco depois.

Em 2015 me mudei pra São Paulo e acabei vindo morar no bairro da Liberdade, foi como uma sina, potencializou toda essa experiência. Algumas músicas que produzi a partir de então eu percebi que estavam influenciadas por essa energia e decidi juntá-las em um disco como uma homenagem. Ziyou em chinês significa liberdade.

Music Non Stop – Entre as muitas coisas que você faz, você dá aulas de produção. Conta um pouco como funciona, por favor.

Jovem Palerosi – Dou oficinas de produção musical há cerca de cinco anos em lugares como o Sesc e oficinas culturais. De um tempo pra cá muita gente começou a me procurar para aulas particulares, e passei a dá-las aqui no meu home studio. Em alguns casos individuais faço um esquema de consultoria, mostrando caminhos e possibilidades para produzir e tocar com base nas ideias específicas de cada pessoa. Mas agora também realizo turmas mensais para um curso fechado focando no Ableton Live, desde configurações e seus aspectos mais básicos até mixagem e performance ao vivo.

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Claudia Assef

https://www.musicnonstop.com.br

Autora do único livro escrito no Brasil sobre a história do DJ e da cena eletrônica nacional, a jornalista e DJ Claudia Assef tomou contato com a música de pista ainda criança, por influência dos pais, um casal festeiro que não perdia noitadas nas discotecas que fervilhavam na São Paulo dos anos 70.

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