No último ano, as chamadas “grassroots music venues” diminuíram em 13% no Reino Unido, limando quatro mil empregos e 30 mil shows
Poucos lugares no mundo dão tanto valor ao cenário cultural como o Reino Unido e a Alemanha. Reconhecem, em todas as esferas da administração pública, o poder das casas noturnas e dos clubes em gerar empregos, dinheiro, turismo e, principalmente, pensamento crítico (o horror dos autocratas). Olhar com carinho para pequenos pontos de cultura, muitas vezes de difícil viabilidade econômica, é cuidar da raiz enterrada (underground!!) e mantê-la forte para sustentar seus galhos, folhas e frutos. Artistas, profissionais da música e grandes eventos.
De olho no momento difícil para estes pequenos negócios, o governo britânico está lançando uma campanha para convencer os grandes festivais, por enquanto voluntariamente, a destinarem parte de seus lucros a um fundo de apoio para os pequeninos, os clubes e casas noturnas que ajudam artistas a desenvolver sua carreira, e ao público conhecê-los e amá-los, a ponto de pagarem pelos altos preços dos ingressos dos megaeventos. De acordo com a entidade filantrópica MVT (Music Venue Trust), no último ano, as “grassroots music venues”, lugares com capacidade pequena e palco para bandas se apresentarem, diminuíram em 13% no Reino Unido, limando quatro mil empregos e 30 mil shows.
No Brasil, os números divulgados pelos grandes festivais, como The Town e Lollapalooza, impressionam. Quantidade de público maior do que muitos municípios. Centenas de artistas escalados, fazendo shows espetaculares, redondinhos. De onde veio tanto nome talentoso, bom de palco? E toda aquela equipe técnica, responsável por trabalhar duro para que tudo dê certo? Justamente das pequenas casas de show.
É lá onde tudo nasce. Onde os novos músicos têm espaço para tocar e os já estabelecidos para tocar bastante, ganhando experiência de palco para estar cada vez melhor, muitas vezes em noites com pouco público, cuja tarefa se torna ainda mais difícil. Locais com programação semanal, ávidos por atrações. Como muito bem definiu o governo da Grã-Bretanha, “as raízes da indústria da música”.
“Pedimos urgência a indústria dos eventos de música, e em particular as maiores empresas, responsáveis por grande impacto comercial no sucesso dessa iniciativa.” O apelo vem do Comitê de Cultura, Esportes e Mídia do Reino Unido, que espera que as colaborações aconteçam em todo o ano de 2025.
Apesar da pressa, a forma como o projeto será aplicado ainda não está definida. Conversas preliminares sugerem uma libra por ingresso vendido em eventos com mais de 5.500 pessoas. Qual o tamanho dos clubes que poderá ter acesso ao fundo, no entanto, ainda não está decidido pelo comitê. A iniciativa é um belo exemplo a ser seguido. Principalmente na forma de como os governantes deveriam olhar para os pontos de cultura aqui no Brasil.