Acústico MTV Foto: Divulgação/MTV

Nirvana e mais 10: os shows acústicos mais espetaculares da história da MTV

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Série MTV Unplugged popularizou e fez virar febre o formato “desplugado” de show musical

No primeiro dia de novembro de 1994, a diretora Beth McCarthy e toda a equipe da MTV estadunidense sentiam borboletas no estômago. Uma mistura de emoção, tensão e apreensão, rimas condizentes com a eminente transmissão do primeiro acústico póstumo da emissora. O MTV Unplugged, formato criado em 1989, estava em sua quinta temporada com imenso sucesso graças a uma seleção bojuda de artistas. A ideia de gravar um show desplugado, com versões mais baseadas em violões e arranjos de boteco, havia feito a cabeça do público e, por tabela, de muitas bandas. Do rock ao rap, todo mundo queria participar do projeto, que rendeu apresentações históricas.

Naquele dia, porém, o prato a ser servido tinha uma dose extra de pimenta. Kurt Cobain, líder do Nirvana, havia se suicidado sete meses antes da veiculação do programa, gravado em novembro do ano anterior. McCarthy, uma das poucas pessoas que tiveram acesso à versão final, sabia que, além de tudo, o show havia ficado impecável. Apoiado por alguns músicos convidados, como o guitarrista Patty Smear, o grupo mostrou a sofisticação de suas composições, muitas vezes obscurecida pela barulheira dos shows, além de uma seleção de covers incríveis, com clássicos de The Vaselines, David Bowie, Lead Belly e Meat Puppets. Esperava um sucesso estrondoso. E foi o que aconteceu. O MTV Unplugged in New York, do Nirvana, foi um dos episódios de maior sucesso de toda a susa história, que segue lançando releituras acústicas de artistas até hoje.

Virar assunto nunca foi novidade para os produtores do Unplugged. A ideia era genial e chamou atenção desde seu primeiro episódio, que juntou no palco as bandas Squeeze, Syd Straw e Elliot Easton, formigas perto do time de monstros da música que a emissora conseguiria reunir a partir de então. Uma turma tão poderosa que muitos acabaram se perdendo na história do acústico, graças à sua coleção de episódios que hoje já passou das centenas.

Duvida? Então confira abaixo dez dos maiores episódios da história do MTV Unplugged!

Elton John – 1990

Elton John foi a primeira grande estrela a aceitar fazer parte do formato. Preferiu se apresentar sozinho com seu piano, rodeado por convidados. E mostrou a todos o quanto domina o instrumento, em um show histórico.

The Cure – 1991

Os lendários ingleses, ainda no começo da vida do programa, compreenderam seu propósito de trazer ao público algo diferente. Com arranjos focados no violão, o The Cure se apresentou sentado sobre almofadas no chão, com velas no palco. Na música, versões bem diferentes das que os fãs estavam acostumados a ouvir.

Paul McCartney – 1991

O negócio tinha ficado grande. A MTV conseguiu convencer Paul McCartney a gravar um episódio em sua segunda temporada, e o músico gostou tanto do resultado que foi o primeiro a lançar um CD oficialmente com a gravação do show, coisa que se tornaria comum (e muito lucrativa) para todos os que vieram depois. Na apresentação, McCartney levou o conceito desplugado ao pé da letra. Nenhum amplificador foi usado. E ainda tem um belo brinde: Ver Linda McCartney no palco.

Eric Clapton – 1992

Antes de derreter os miolos e propagar a balela de que “não tomar vacina é um direito do cidadão”, Eric Clapton era um cara legal. E emplacou, na transmissão de sua Unplugged, um sucesso de tamanho gigantismo que lhe rendeu o Grammy de “Canção do Ano”, naquele 1992. Trata-se de Tears In Heaven, em versão desplugada e sublime, ápice de sua apresentação.

Rod Stewart – 1993

O dono de uma das vozes mais icônicas do rock’n’roll aceitou o convite e caprichou na produção de sua apresentação. Rod Stewart convidou ninguém menos do que Ronnie Wood, dos Rolling Stones, para coestrelar o show ao seu lado. Desfilou seus clássicos e também lançou outra moda: a de transformar o formato acústico em uma tour ao redor do mundo.

Bob Dylan – 1995

O velho Bob, quem diria, aceitou o convite para apresentar um belo de um show acústico na metade dos anos 90. Arrasou, claro. O álbum foi lançado logo depois da apresentação e bombou, mostrando Dylan em grande forma.

Los Fabulosos Cadillacs – 1995

O grupo argentino Los Fabulosos Cadillacs foi o primeiro latino-americano a ser convidado para gravar um Unplugged na MTV dos EUA. Sua apresentação, feita em Miami e não tão acústica assim, desfilou os hits da banda, além do incrível cover de The Guns Of Brixton, do The Clash.

Kiss – 1995

O acústico do Kiss trouxe várias novidades e velhidades em um episódio que se tornou histórico. Reuniu a formação original da banda, com Paul Stanley, Gene Simmons, Peter Criss e Ace Frehley — uma ideia tão bem-recebida que resultou em uma turnê com a patota junta, mundo afora, no ano seguinte. Desmascarado, o grupo mostrou um lado que muita gente não conhecia, principalmente nas execuções vocais.

Oasis – 1996

A esperada gravação do MTV Unplugged com o Oasis, claro, não poderia acontecer sem emoção. Na última hora, Liam Gallagher pulou fora, alegando dor de garganta. O que a banda fez? Como não poderia deixar de ser, gravou o programa mesmo assim, com Noel nos vocais, arrancando elogios descabelados de todo mundo, público e crítica. O episódio foi um dos maiores sucessos da história do Unplugged.

Roberto Carlos – 2001

A MTV Brasil entrou na onda do acústico e estava fazendo um baita sucesso (que merece uma lista só de nacionais aqui no teu MNS). Roberto Carlos e sua equipe queriam renovar o público do cantor, e a saída perfeita seria se enfiar no meio da MTV. Bolaram juntos um acústico todo azul e especial, que depois seria lançado em CD e DVD. Aí, começou a treta. Depois de gravado a rede Globo, que tinha contrato com o cantor para shows exclusivos no cansativo formato “fim de ano”, entrou em disputa judicial com a emissora. A briga foi tamanha que a MTV foi obrigada a retirar as imagens da gravação de Todos Estão Surdos, usando apenas o áudio, algo inédito na história do programa. Milton Nascimento fez uma ponta no show, tocando gaita.

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Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.