O ano era 2005. Era o ínicio de uma longa caminhada através de produções, festas e viagens para me aprofundar e profissionalizar no mundo da música, especificamente da house music. O Nomumbah (projeto que tenho ao lado de Ale Reis e Andre Torquato) acabara de ser apadrinhado por Osunlade (Yoruba Records) e Jazzanova (Sonar Kollektiv). O Beats Eldorado já me proporcionava divulgar essa música pelas ondas do rádio. O Sunday Sessions (que faço há 10 anos com Milton Chuquer, Roger Weekes e Tim Adams) já levava semanalmente um público em busca de um som pouco conhecido e uma pista com o foco na dança e na descoberta. O que faltava?
Toca meu telefone, era o Miltão: “E aí, meu, to pensando em ir pro WMC”. “Porra, eu também, já faz uns dois anos…”. “Então vamos fazer uma cagada? Vou ver os preços de passagem e hotel…”.
Na Semana seguinte, desembarcávamos em Miami, mais especificamente South Beach, onde há 24 anos DJs do mundo todo se reúnem para tocar suas ultimas produções, trocar informações em festas de selos, clubs ou noites famosas e se divertir debaixo do Sol.
Primeira parada, Surfcomber, o hotel onde se retiravam as credenciais e o material promocional dado aos cadastrados no evento. Junto, o famoso The List, livrinho distribuído por toda South Beach com a lista de todas as festas que acontecem naquela semana. Basicamente todo mundo, todo dia, o tempo todo. Resolvemos ir até a piscina do hotel tomar um drink e escutar o som do DJ. A cabine ficava numa ponte sobre a piscina, o DJ era Kerri Chandler, e o show que aconteceria na sequencia era Digable Planets. Começamos bem.
À noite fomos na Magic Sessions, que foi durante anos a festa de boas-vindas às segundas, com Louie Vega e Tony Humphries. Na terça, Shelter com Timmy Regisford e sua corte no Shelborne, com um PA de dar inveja aos Rolling Stones. A pista pulsa unida, paredes suadas, todos cantam e dançam, uma experiência que somente quem foi pode saber. Na quarta, durante o dia, festa da Gotsoul do canadense Jojo Flores, casa da Red Bull com direito a churras e charutos enrolados na hora por cubanos e à noite festa do clube Cielo de Nova York, com Osunlade na mansão de Gianni Versace. E assim segue a semana…
Louie Vega, David Morales and Tony Humphries tocando na WMC 2014
Poderia escrever páginas de todas as festas que já fui nesses 11 anos de WMC. O enredo é quase sempre o mesmo, mas a cada ano as festas amadurecem, novos DJs surgem ou ressurgem, novas músicas e sonoridades, novos hits. E é disso que se trata a conferência, porque é essa a essência do mundo dos clubs. Bons DJs, boa música, gente se divertindo.
Hoje já conheço bem grande parte dos núcleos e contribuo tocando, lançando músicas e levando um pouco da nossa cultura para um festival onde representantes do mundo inteiro buscam um lugar ao Sol.
Este ano tocarei em três festas. Na segunda-feira (21), na Keep It Deep, uma festa famosa em Miami. Talvez a única que mantenha a essência do deep house underground por lá, ao lado de algumas lendas locais como Tedd Patterson, Master Kev e Hector Romero da Def Mix. Na terça, Global Soul, festa de Ian Friday, ícone do Afro/Soul de Nova York. Festa de dia, dançarinos, sorrisos, tambores, alto astral. E na quinta, Quest For The Drum, uma festa já tradicional que acontece no Segrafedo, na Lincoln Road, que é um calçadão. A cabine do DJ é montada na parte externa e as pessoas dançam na rua.
Além disso, este ano ocorrerá mais uma edição da festa 3 Kings Of House (Louie Vega, Tony Humphries e David Morales), a festa de 20 anos do Body & Soul (Joe Claussel, Danny Krivitt e François K) e 25 anos do Club Shelter (Timmy Regisford). Fora um sem número de festas como Souleil, Funkbox e uma infinidade de outras que você acaba indo sem saber, porque encontra determinado DJ, para pra conversar, daí encontra outro que te leva pra outro canto, porque é disso que o WMC se trata…
Ouça o set do Rafa Moraes aqui