Beatles Foto: Reprodução

Com música de “adeus”, os Beatles dão aula de como preservar seu legado

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Paul McCartney e Ringo Starr anunciaram o lançamento da “última música dos Beatles” para 2 de novembro

Os dois integrantes vivos da maior banda da história divulgaram hoje (26), em suas redes sociais, que lançarão na próxima semana aquela que seria a última música inédita dos BeatlesNow and Then.

A faixa, na verdade, foi composta por John Lenno , na década de 70, e entregue a Paul e uma fita dema. E 1995, os três remanescentes tentaram desenvolvelas, para incluir no pacote de lançamentos Anthology. Depois de dias no estúdio tentando finalizá-la, George Harrison considerou que o trabalho havia entrado em um beco sem saída.

— Ele achou que a composição era impossível de concluir — disse a viúva de George, Olivia Harrison.

— Mas se ele estivesse vivo hoje, certamente estaria trabalhando com todo o coração nela, ao lado de Paul e Ringo.

Um dia antes do lançamento de Now and Then, a gravadora lançará um vídeo de 12 minutos explicando como ela pôde ser gravada, principalmente no que diz respeito aos vocais de John Lennon, morto em 1980.

Não é a primeira faixa póstuma lançada pelos Beatles. Free as a Bird e Real Love foram lançadas em 1996, mas com sobras de estúdios dos vocais de Lennon.

A estratégia perfeita

Paul McCartney, Ringo Starr e a equipe envolvida com o catálogo dos Beatles poderiam criar uma masterclass: Como tirar o máximo proveito de um legado artístico.

Após o seu final, e compreendendo o imenso universo de admiradores que têm pelo mundo, o grupo seguiu uma receita perfeita: esperar até que os fãs estivessem desesperados de saudade, e então, anunciar um produto absolutamente fora da caixa, muitas vezes inesperado.

Sua carreira é espantosa. Precisou de apenas 10 anos para reinar no universo da música, com 12 álbuns lançados. Durante as décadas de 80 e 90, a ordem era “senta e relaxa”. Todos os integrantes seguiram com carreiras solo de sucesso, e as novas gerações não só conheciam a história do quarteto, como seguiam lhe cultuando.

Quando a poeira começou a baixar — afinal, em 1990, os jovens já haviam nascido após o final da banda —, foi a hora de começar a lançar, de forma meticulosamente planejada, produtos que contassem para a garotada quem eles eram e o que significam.

Em novembro de 1995, às vésperas do Natal (eu mesmo ganhei uma caixa de presente), lançaram a coleção Beatles Anthology, que compreendia livro, três álbuns duplos e uma caixa de DVDs com cenas inéditas e raras.

Passado o pico de vendas, o produtor musical da banda, o genial George Martin, se uniu ao seu filho, Giles, para remixar e remasterizar os discos do grupo em diversos relançamentos. A partir de 2009, o cátalogo foi relançado, em versões mono e stereo.

Em 2009, foi a vez dos Beatles entrarem no mundo dos videogames, através do cinematográfico lançamento do The Beatles — Rock Band.

E como tudo, quando o assunto é Beatles, é feito sob um meticuloso plano para gerar desejo, os usuários de streaming também tiveram que exercitar sua paciência. O grupo lançou seu catálogo com toda a pompa em 2016 (oito anos após a criação do Spotify). No dia seguinte, bateu todos os recordes de execução da plataforma.

Quando Paul e Ringo citam o lançamento como “a última música dos Beatles”, certamente estão falando da última composta com a cara da banda, por George. Mas, definitivamente, não será seu último produto lançado.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.

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