Não é segredo nenhum que a Selvagem mudou a minha vida e a do Millos. Antes da nossa gênese, em 2011, eu tinha desencanado completamente do sonho de ser DJ; tinha desistido da noite, basicamente. Quando a gente se conheceu, foi o Millos que veio com a ideia de fazer festa.
Na época em que tudo começou, a gente tinha um emprego normal, tocávamos por diversão, pela sensação quase indescritível de fazer as pessoas dançarem, de se perder na música pra esquecer da vida. O Paribar caiu no nosso colo através do Thomash (Voodoohop), que descobriu o lugar e não estava dando mais conta de fazer mais uma festa. E, de certa forma, depois que começamos a Selvagem, a festa acabou caindo na vida de outras pessoas.
No primeiro ano chovia praticamente em toda edição – e não era garoa não, era tempestade tropical. Mesmo assim sempre tinha 200, depois 400, depois 800 pessoas. Um ano e meio depois, apareciam mais de mil, quase tudo circulando à boca pequena, uma festa na rua, de graça, que tocava todo tipo de doideira que não tocava mais por aqui. Parecia que a festa tinha virado um porto seguro não só pra nós, mas pra diferentes tipos de pessoas – gente que tinha desistido da noite, gente que frequentava outros rolês, gente de todo o tipo. Gostávamos de chamar a Praça Dom José Gaspar de “zona autônoma temporária”, um lance bem Hakim Bey, onde tudo era permitido. Era uma história linda, com timing perfeito, algo que capturou o espírito dos últimos anos.
Ao mesmo tempo, para nós a Selvagem não era só uma festa na rua, ela podia ser muita coisa – uma festa num galpão ou num inferninho, um evento de Carnaval muito louco, um agente catalisador de redescobertas de música brasileira, ou simplesmente o nome da dupla de DJs que toca por aí. Até que largamos nossos empregos pra viver basicamente de materializar todos esses sonhos – tocar música, gerenciar a vibe da galera, brincar com o inconsciente coletivo, fazer música, viajar, tudo com o propósito de fazer os outros se divertirem. É muito maluco pensar nisso: “nosso trabalho é fazer os outros se divertirem”.
Desde que tudo começou, espalhamos nossas pegadas por Paribar, Trackers, 1 e 1/2, Casa da Luz, Trilhos, galpões alhures, Comuna, Cais da Imperatriz, quadra da Vizinha Faladeira, viajamos pra fora do país por mais de cinco vezes, lançamos discos, tocamos na rua e em evento da Louis Vuitton, sempre andando na linha tênue e perigosa do high-low.
Depois de 5 anos, revisitando várias memórias – musicais, visuais e também aquelas impublicáveis -, vendo tudo o que a gente conquistou até agora e que temos muito mais por fazer nesse universo da noite e da música, ainda sentimos aquele frio na barriga que te faz sentir vivo. E ao olhar para o lado e encontrar ao redor um monte de gente que acredita no que a gente faz, comungando do mesmo amor e energia, mostra que estamos no caminho certo.
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SELVAGEM 5 ANOS
Sexta, 16/12, a partir das 23h59
Sao Pedro Sauna & Piscina
Rua Guaicurus, 720, Barra Funda
Line-up: Selvagem e Raphaël Top-Secret
Preço: R$ 30 (antecipado) e R$ 50 (na hora)