Mary Olivetti no Rio de Janeiro Mary Olivetti – foto: Renan Olivetti

A Olivetmologia de Black Coco, ícone dos anos 70, recuperada e reinventada pela produtora Mary Olivetti

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Com Mahmundi à frente de um time de músicos tarimbados,  Mary Olivetti faz uma releitura completa de Black Coco, primeiro grande sucesso do pai lançado em 1978.

Depois de causar espanto em Rita Lee com seu remix supra sumo de Cor de Rosa Choque, Mary Olivetti está de volta com o aguardado “remix” da icônica faixa Black Coco, sucesso nas pistas de brasilidades do mundo todo.  A original foi lançada pela banda Painel de Controle e é um dos primeiros sucessos do pai, o produtor Lincoln Olivetti.

A palavra “remix”, no caso de Olivetti, tem de ser usada assim mesmo, com aspas.  A produtora, que cresceu brincando nos estúdios em que o pai moldava a dance music brasileira dos anos 80, viu tanta lenda solapar seus contrabaixos, funkear suas baterias e palhetar suas guitarras que não se contentou – apesar de absolutamente inserida na cultura dos DJs – em remontar partes pré-gravadas das músicas. Material que, diga-se de passagem, tem acesso privilegiado graças ao acervo de Lincoln Olivetti, sob os cuidados de Mary.

O assombro causado na rainha mãe do rock brasileiro, Rita Lee, veio justamente deste zelo.  Mary Olivetti convidou músicos, regravou partes e até mesmo vocais para sua reinterpretação de Cor de Rosa Choque. Corajosa.

Em Black Coco, não foi diferente. Ainda mais segura de si, graças à boa recepção do remix de Rita, Mary Assumiu de vez seu lado produtora e herdeira do boogie brasileiro inventado por seu pai. Convidou um time estrelado de músicos, que inclui Paulinho Guitarra, Rodrigo Tavares, Daniel Mansur  e Henrique Rocha. Para o vocal, convidou uma das mais ativas artistas do pop atual, Mahmundi.

Mahmundi e Mary Olivetti

foto: divulgação

E eis que chegamos ao ponto onde apresento a vocês o grande golaço. O pulo da gata. O tiro no alvo deste trabalho: apesar de todo este time de convidados, da avalanche de material novo e recuperado das masters da música original, o “remix” de Black Coco é a cara de Mary Olivetti.

Achou pouco? Pois tem mais. O “remix” de Black Coco é a cara de uma produtora que pretende se apropriar de Lincoln Olivetti. Um elo religado na cadeia da música dançante brasileira possibilitado pela genética. Como dizia vovó. Ouvindo a nova Black Coco, não precisa fazer nem teste de DNA.

Quando entrevistei Mary para escrever o perfil da artista que publicamos aqui no MNS na época do lançamento de Cor de Rosa Choque,  pensei aqui com meus botões enquanto a ouvia divagar sua carreira e escola musical:

“diaxo…. está mulher é um gênio”

Para Mary Olivetti, tudo é “de boa”. A relação com a obra do pai (e também da mãe, a cantora Claudia Olivetti), a atitude de debulhar um clássico de Rita Lee e a coragem de botar seu perfume em uma faixa que todo bom DJ de black music e brasilidades tira da manga na hora em que a pista está mais a fim de ferver.

Tudo sem perder-se na rota, sem cair na mesmice e resistindo a embirutar o trabalho atrás de algo impressionante, berlinense, nunca antes feito.  A prática pura, sem neura, da Olivetmologia.

Segura este groove. O single saiu pelo selo brasileiro Cocada Music.

 

 

 

 

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.

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