A Flock of Seagulls era uma turma de cabeleireiros que cansou de pentear roqueiros e fez um dos grandes hits dos anos 80s
O new romantic foi um movimento musical, fashion e cultural da Inglaterra da virada dos anos 70 para os 80. Bandas como Visage e Culture Club representaram toda uma geração barroca, que ostentava visual rococó e dançava ao som de sintetizadores, definindo a cara musical/alternativa dos anos 80, numa estética que reverbera até hoje.
Alguns hits marcaram essa época, e um deles é I Ran, do grupo de Liverpool A Flock of Seagulls, lançado em 1982.
I Ran é delicada, de atmosfera onírica (relativa aos sonhos ou lembranças irreais) e marcou muito essa época em que o “sentimento” era mais o mote no rock do que a “atitude”. A doçura de I Ran ecoa até os dias de hoje em diferentes contextos, tanto é que a música segue sendo hit de FMs rockeiras e de música soft aqui no Brasil, mesmo 34 anos depois.
Na esteira desse duradouro sucesso, o A Flock of Seagulls desembarca em São Paulo em agosto, para seu primeiro show no Brasil, que acontece no Clash Club. O show seria originalmente em julho, mas, devido a problemas com um promotor local, a banda ficou retida em Lima por 36 horas sem poder sair do país, o que ocasionou cancelamentos de shows no Chile, Argentina, Uruguai e Paraguai. A data provável por enquanto é 20/8, mas vale ficar ligado na página do evento para mais informações.
Aproveitamos o show inédito para conversar por email com Mike Score, o vocalista do Flock of Seagulls que é tão famoso por ser a voz de I Ran como por ostentar um dos topetes mais inesquecíveis dos anos 80 – também, pudera, a banda era formada por cabeleireiros que montavam a cabeleira da moçada new romantic!
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Music non Stop – Conte como a banda e você estiveram ativos esses anos todos.
Mike Score – Eu nunca parei. Sempre seguimos tocando ao vivo – e, embora a banda tenha mudado, sempre tivemos gigs, algumas pequenas, outras grandes. E sempre há a chance de um novo CD. Ao vivo costumamos tocar só canções antigas, mas volta e meia adicionamos algumas canções não gravadas.
Music non Stop – Vocês eram cabelereiros nos anos 80, no auge da new romantic inglesa. Como trabalhar com esse tipo de estética influenciou vocês musicalmente?
Mike Score – Criar cabelos e penteados era como ser um artista naquela época. A gente trabalhava muito com cores e novos estilos, nada antigo. A gente atendia muitos músicos de bandas, o que levou ao nosso interesse de começar uma banda própria.
Era uma época muito legal e às vezes eu fico sim nostálgico. Mas houve grandes desenvolvimentos desde então na música, hoje eu tenho um estúdio no meu computador, por exemplo. Isso é algo que nós jamais poderíamos ter sonhado naquela época, posso mexer em músicas e gravar em casa ou em qualquer lugar que eu vá.
Music non Stop – I Ran foi um grande sucesso, inclusive no Brasil. Como a música surgiu e como foi perceber, à época, que ela estava tornando-se um hit?
Mike Score – Quando bolamos I Ran ela era só mais uma entre tantas canções, achávamos todas nossas ideias de canções especiais. Mas quando entramos no estúdio e gravamos, percebemos como ela havia ficado boa. Robert “Mutt” Lange (famoso produtor inglês de rock) nos visitava durante as gravações e ele sempre reforçava como ele gostava dessa música em particular e como ela poderia ser um grande hit para nós…
A gente estava atrás de uma gravadora e visitamos a ZOO Records em Liverpool, que tinha o Echo & The Bunnymen e o The Teardrop Explodes. Eles tinham um quadro com uma foto de um garoto e uma garota fugindo de um OVNI. Aquilo nos inspirou para a letra de I Ran, e também porque vimos uma banda tocado num clube chamado Eric’s que tinha uma música chamada I Ran, então usamos isso de ponto de partida. Não foi nenhuma música, só o título daquela outra canção e a foto na parede no escritório da ZOO.
Music non Stop – Qual elemento do Flock of Seagulls você acha o mais notável: os sons eletrônicos pioneiros, o lado rocker ou as canções românticas?
Mike Score – Acho que foi notável como tudo ornou muito bem junto na confecção de nosso som – o rock, a eletrônica SYNTHY e as letras / melodia. Ninguém nos guiou então só tocávamos e a mágica acontecia – não esperávamos ter nenhum contrato, então a gente não pensava em outras influências, desenvolvemos nosso som de um jeito único, e isso funcionou. Não sei como, mas me orgulho que tenha funcionado.
Music non Stop – Alguns teóricos já notaram como a influência dos anos 80 já durou mais do que a própria década em si. O que acha dessa reverberação da música daquela década?
Mike Score – Eu não escuto muita música de bandas novas, na realidade. Ainda ouço muitas bandas como Talk Talk e Beatles, e às vezes ouço bandas novas em comerciais e escuto sim uma influência 80’s, que é fácil de notar por causa da atmosfera da música. Assim como os anos 60, os 80’s tiveram grande influência na música.
Music non Stop – Como era o rolê naquela época? Vocês andavam com outras bandas de sucesso, viajavam juntos…?
Mike Score – A gente andava com muitas bandas, sim, com algumas exceções – mas muitos eram considerados inimigos porque conseguiam emplacar hits maiores que os nossos; brincadeira :-).
Muitas bandas podem se dar bem de acordo com o pensamento comum e histórias interrelacionadas, mas há gente que não quer que as bandas sejam amigas, por algum motivo. A música é sobre conectar-se, então os músicos deveriam andar juntos.