Angela Ro Ro Angela Ro Ro em 1979. Foto: Arquivo Pessoal [via Monkeybuzz].

O adeus à maldita Angela Ro Ro

Luiza Padilha
Por Luiza Padilha

Ícone da música brasileira morreu nesta segunda-feira, 08 de setembro, aos 75 anos de idade

Folheando o livro de fotografias da Thereza Eugênia buscando pelos retratos de Angela Ro Ro, falecida nesta segunda-feira, 08, aos 75 anos de idade, observei aquele clássico terno branco que ela usa nas fotos e me lembrei de Walter Franco na capa de Revolver. Walter era considerado um “maldito da MPB”, por conta da filosofia de vida e o jeito de fazer e disseminar sua música.

Assim como Sergio Sampaio, Luiz Melodia e Jorge Mautner, fugia à regra do que era esperado de um artista, comercialmente falando. Eram obscuros, e igualmente muito intensos e incômodos para muitos. Pensando nisso, me dei conta que esse título era atribuído apenas às figuras masculinas, e pra mim Angela Ro Ro foi, sem dúvidas, uma maldita da MPB aos olhos de muitos, para além do que é comercial.

Lésbica assumida, com um temperamento conhecido por ser caótico, teve uma vida de muitos excessos. “Eu fiz a experiência de me autodestruir e não fui competente. Errei. E daí? Errei comigo” (via G1). Mas a musicalidade dela era inquestionável. De tocar gaita em Nostalgia, última faixa do álbum Transa, de Caetano Veloso, até cantar a plenos pulmões em seu icônico e homônimo álbum de estreia, lançado em 1979.

Cantava com as vísceras sobre como era ser uma mulher intensa que amava outras mulheres, e de cara, já em seu primeiro disco, apresentou canções como Amor Meu Grande Amor, Balada da Arrasada e Gota de Sangue, que conversam diretamente com um jeito de sentir intenso e apaixonado.

Os últimos anos de vida de Angela não foram os mais dignos que ela poderia ter, o que é muito triste pensando em uma figura tão emblemática para um enorme recorte de pessoas. Ser uma maldita avessa às expectativas, com letras que expõem uma personalidade forte, talvez tenha feito com que ela não chegasse em lugares mais recatados, mas sem dúvida alguma alcançou muitas pessoas que se deixam sentir, que amam, que desejam.

“Dói em mim saber que a solidão existe / e insiste no teu coração.”

Só nos resta viver.

Luiza Padilha

Luiza Padilha, também conhecida como luizapads, é produtora multimídia, designer e DJ da cidade de Porto Alegre. É a idealizadora e produtora das festas Alfinete e Sintoma, ambas realizadas em Porto Alegre. É produtora e booker da banda de pós-punk porto-alegrense The Completers e booker do trio instrumental Pata de Elefante. Como designer, já trabalhou com bandas como Crumb, terraplana, Maurício Pereira, Arthur de Faria, Viridiana, Pedro Cassel, Nina Nicolaiewsky e outros. Como autora, escreve de maneira independente há mais de seis anos e foi colaboradora dos extintos blogs Crush em Hi-Fi e Revista Clandestina.