Funk música eletrônica Imagem: Reprodução/YouTube

8 vezes em que o funk provou ser música eletrônica

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Neste Dia Nacional do Funk, lembramos de momentos que comprovaram: funk brasileiro é, sim, música eletrônica

O funk brasileiro conquistou, enfim, o reconhecimento de genuína música eletrônica brasileira. Mas não foi fácil. Por muito tempo, a classe média, os clubes e festivais viravam a cara para o estilo, justamente por trazer à tona a estética e o corportamento de uma periferia que queriam ver só de longe. A demolição dos preconceitos veio do público, do trabalho árduo de artistas e contou com a boa e velha validação gringa ao que fazemos aqui. Hoje, faz parte da pauta de museus e secretarias de cultura do país.

Relembre oito vezes em que funk provou que é, sim, música eletrônica!

DJ Marlboro na Lov.E

Em 2006, Flavia Ceccato convidou o DJ Marlboro para ser residente do histórico clube Lov.e, meca da música eletrônica em São Paulo, para a festa Pancadão. Na época, o clube tinha residentes como DJ Mau Mau, Marky e Marcos Morcerf, e a festa de funk no meio da semana se tornou uma das mais lotadas da casa.

Bonde do Tigrão em Londres

Em 2008, o Bonde do Tigrão, considerado o primeiro grupo de funk a atingir o mainstream no Brasil, se apresentou no The Forum, em Kentish Town (Londres). Foi uma sensação. Longe da contextualização encravada na cabeça do brasileiro médio, que associava o gênero musical às barreiras causadas pela desigualdade no Brasil, o público curtiu apenas a música e a estética, classificada pela imprensa londrina como um som que tinha “originalidade do ritmo e a capacidade do grupo de traduzir a cultura das favelas para um contexto global”.

O padrinho Diplo

Diplo já era um DJ e produtor de renome internacional quando se encantou com o funk carioca em meados dos anos 2000, ajudando pencas na amplificação do estilo lá fora. Em 2005, lançou com M.I.A. a canção Bucky Done Gun (2005), que sampleou o funk brasileiro Injeção, de Deize Tigrona e DJ Malboro.

A ascensão de Mochakk

O garoto Pedro Nunes adotou um nome artístico esquisito, deixou Sorocaba e ganhou o mundo misturando house com o que lhe viesse à telha, incluindo o funk brasileiro. Em suas constantes turnês internacionais e com público cada vez maior, foi levando consigo a cultura do “Brazilian bass”, como o ritmo é chamado por muitos lá fora.

Os “Bailes de Favela”

Segundo DJs europeus contaram ao Music Non Stop, centenas de cidades de médio porte europeias têm seus “Bailes de Favela”, com DJs locais tocando fonte a noite inteira. “O whitewashing já tá rolando!”, disse o produtor brasileiro Mu540, se referindo a apropriação dos gringos à cultura musical genuinamente brasileira.

Mu540 e seu 4×4

Após dar vários e grandes rolês pela gringolândia, o mesmo Mu540 lançou em 2024 um disco para acabar de vez com a história de que funk brasileiro e música eletrônica não vivem no mesmo mundo. 4×4 foi feito para juntar as pontas que faltavam da história. E é ótimo.

BADSISTA

Há vários anos, BADSISTA é um artista querido tanto do povo da música eletrônica, quanto do funk. Sem surpresas, o produtor discoteca e cria música com qualidade fora do normal. Criado na Zona Leste, onde “as raves já tocavam de tudo e ninguém se importava”, é um dos martelos que destruíram o muro que separava as duas galeras.

As festas independentes

Mamba Negra Festival

Mamba Negra. Foto: Divulgação

Festas como a Mamba Negra e BATEKOO jamais deram bola para quem levantava a bandeira de que “house é house e techno é techno”. Sempre convidando artistas fora da curva, diversos em gênero e classe social, os rolês independentes juntaram tudo num balaio só. E o público gostou foi muito!

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.