Silves Apples dance music Os Silver Apples. Foto: Reprodução

Silver Apples: o duo que fazia dance music antes da dance music

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Segundo Moby, dupla nova-iorquina formada em 1967 foi pioneira da música eletrônica

A dance music tornou-se um gênero musical mais pela sua função social do que por sua sonoridade. É música feita com a intenção de fazer o povo remexer nas noitadas. Ou seja, quando está em sua sala com instrumento, papel e caneta, o autor já se projeta mentalmente para uma bela de uma balada cheia de gente e direciona sua criação para aquele momento futuro. Swing jazz é dance music, funk é dance music, salsa, samba… e tantos outros ritmos que nos convidam ao constante remelexo nos quadris.

A partir do final dos anos 70, com o advento dos equipamentos eletrônicos e a febre da disco music, no entanto, botamos na cabeça que “dance music” tem uma cara bastante própria. As batidas 4×4, a progressão hipnótica causada por longos instrumentais e texturas viajantes e uma construção mais voltada à exploração da estimulação física e sensorial, elementos captados em sua totalidade pelo gigantesco balaio chamado “música eletrônica”. E, segundo o mestre Moby, se hoje entendemos a música eletrônica desse jeito, a culpa é de uma única dupla estadunidense, chamada Silver Apples, e seu álbum homônimo lançado em 1968.

Flertes com instrumentos eletrônicos, como os sintetizadores, já estavam sendo experimentados na segunda metade dos anos 60 por muita gente. Mas os caras tentaram algo diferente. Na época classificados como um grupo de “electronic rock”, Simeon Coxe II e Danny Taylor captaram, sabe-se lá usando qual poder paranormal, a síntese de um jeito de fazer música que só se disseminaria 15 anos depois: projeteis hipnotizantes, progressivos e sintetizados, sobre a tal batida 4×4, transformando o som um mantra voltado para mexer o corpo e viajar com a mente.

Ouvir o álbum do duo nova-iorquino formado em 1967 é mergulhar em uma viagem progressiva e, principalmente, reconhecer tudo o que a gente gosta, feito 20, 30 anos depois: Chemical Brothers, Orbital, Massive Attack e, claro, Moby. Foram os inventores da música eletrônica? Talvez não. Mas pioneiros do que seria a dance music que tomou o mundo anos depois, certamente!

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.