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Jamz Supernova: “O funk brasileiro está gigante no Reino Unido”
DJ britânica conversou com Jota Wagner durante o Favela Sounds 2025
Jamz Supernova se apresentou na última edição do Favela Sounds em uma tarde ensolarada, para um público igualmente quente. A DJ trouxe ao Brasil seu enorme conhecimento musical adquirido em anos de pesquisa para programar a BBC Radio 6. Além de, claro, absorver o que acontece nas ruas de Londres, onde vive.
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A artista é considerada uma estrela em ascensão da rádio britânica, principalmente por sua capacidade em enxergar o mundo da música, com especial carinho pelas raízes africanas, caribenhas e latinhas. Uma verdadeira “tastemaker”.
Aos 32 anos de idade, ela apresenta e programa shows na BBC 1Xtra, BBC Radio 6 Music, e ainda foi responsável por uma série de podcast para o British Concil, com mais de quatro milhões de ouvintes pelo mundo. Tudo isso enquanto toca pelo mundo e gerencia a label que criou, chamada Future Music.
De jeito doce, sorridente e evidentemente em êxtase por estar conhecendo um país de onde vêm tantas músicas que ama e toca em seus programas, Jamilla Walters (nome de batismo de Jamz Supernova) conversou com o Music Non Stop após sua apresentação no Favela, em um papo descontraído, antes de correr para a pista para curtir as outras atrações do festival.
Jota Wagner: Como DJ, você fecha todo um círculo de trabalho. Rádio, clubes e gravadora. O que é que a rádio te dá para as pistas de dança, e o que você traz das pistas para a rádio?
Jamz Supernova: Uau. Definitivamente, as coisas estão interligadas. E o que as conecta é justamente tentar contar uma história. O ritmo dessa narrativa, no entanto, é diferente. Na rádio, precisamos ser mais breves. E num DJ set, a música é que deve ser mais acelerada. Mas em ambos, a história é importante. Como você a conta e o contexto que você dá.
Às vezes eu encontro uma música para meu show de rádio e penso, “nossa, isso vai soar tão bem como uma introdução no set, ou mesmo se eu a tocar com um kick diferente. Como é que eu posso fazer para isso dar certo?”. É muito divertido. Além disso, às vezes eu observo a reação das pessoas na pista de dança com uma música e penso, “essa precisa estar na rádio”. Compartilhar essa memória da pista com as pessoas na rádio é muito legal.
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Você tocou algumas músicas brasileiras. Por incrível que pareça, dentro do meio da música eletrônica, ainda há um preconceito social em relação ao nosso funk. Como uma DJ não brasileira sente este movimento?
É louco porque no Reino Unido, além dos bailes funk que fazem em todos os lugares, as músicas estão sendo tocadas em sets de diferentes gêneros, como techno, house, drum’n’bass e garage. O funk brasileiro está gigante lá. Para nós, é muito louco vir aqui e não ouvir em todos os lugares, sabendo o quão grande o funk é para nós na Europa. É música eletrônica e para mim, é bastante emocionante.
No Brasil, eu não quis tocar muita música brasileira porque vocês fazem muito melhor. Mas eu queria mostrar, também, a história de como essa música funk se mistura com a música do Caribe, de Angola… De como estamos conectados, de alguma forma.
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Você está indo para a Bahia, depois de Brasília. Tem alguma conexão com Salvador?
Não, mas eu queria. Quero ser adotada pela Bahia (risos).
Estamos vivendo em mundo de ponta cabeça. E a música, em cada era, sempre teve um significado mais profundo do que a mera diversão. Nos anos 50, era se livrar das correntes. Nos 60, mudar o mundo, fazer a revolução. E hoje?
Olha, eu acho que a música conta a história de seu tempo, de como olhamos o que está na sua volta. É como você disse. Naquela época elas causaram mudanças. E mesmo com o mundo tão mudado, aquelas canções continuam nos tocando. Definitivamente, hoje estamos fazendo música sobre o que está acontecendo agora. Sobre não estarmos nem um pouco orgulhosos do que fizemos e que devemos buscar um mundo mais unido.
Assim, muitos artistas de hoje em dia estão tentando buscar suas raízes através da música, onde quer que estejam no mundo. Eu nos vejo vivendo este momento. Um momento muito poderoso para os artistas jovens. Mesmo que não pareça, no futuro vamos olhar para trás e saber como a vida acontecia nos dias de hoje. Aprecio o que os artistas estão fazendo e falando. A internet pode ser um lugar horrível sem música. Além disso, tem vezes que a gente só quer esquecer onde estamos, se perder e festejar. Mesmo que as pessoas não estejam entendendo naquele momento o que você está tocando, ainda assim é poderoso.