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Burning Man tenta contornar crise financeira com novo sistema de ingressos
Com valores escalonados em uma espécie de “pague o quanto quiser”, vendas ocorreram nesta quarta-feira (12)
O festival estadunidense Burning Man, uma protoutopia realizada todos os anos em uma cidade temporária construída no meio do deserto de Black Rock, vem sofrendo escoriações em sua imagem nos últimos anos. A mais nova polêmica é a mudança no sistema de cobrança de ingressos para sua próxima edição, em agosto de 2025. A organização adotou um sistema de precificação escalonada, com valores diferentes, em um esquema “pague o quanto quiser” dentro das opções ofertadas por eles, que variaram entre 550 dólares e 3 mil dólares.
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As vendas, que aconteceram ontem (12), funcionaram assim: quem tinha prioridade na fila podia pegar o lote de US$ 550 ou voluntariamente escolher uma das outras alternativas mais caras: US$ 750, US$ 950, US$ 1.500 e US$ 3.000. À medida que a fila avançava e as opções mais baratas se esgotavam, restavam os ingressos com valores mais elevados para quem chegasse depois. Não foram revelados quantos ingressos havia por lote, o que deixou algumas pessoas bastante insatisfeitas, alegando falta de transparência.
A ideia foi proposta devido à crise financeira pela qual o festival passa. Em 2024, segundo a Billboard, o festival sofreu um défict de 10 milhões de dólares, quando, pela primeira vez em muitos anos, não vendeu todos os seus ingressos. No final do ano passado, o Burning Man tentou levantar 20 milhões de dólares, somando o valor que normalmente arrecadam de doação dos seus entusiastas (10 milhões de dólares) ao déficit computado. Em uma reunião realizada no primeiro dia de fevereiro, conforme reportado também pela revista, a presida Marian Goodell admitiu que a meta não foi atingida, sem entrar em mais detalhes.
Na mesma reunião, Goodell também revelou que o novo sistema veio para democratizar ainda mais o acesso ao Burning Man, já que, para se sustentar atualmente, o evento precisaria faturar aproximadamente 750 dólares por participante. Nessa lógica, quem pode pagar mais ajudaria a subsidiar a entrada de quem não pode. Além disso, a organização prometeu seguir com sua política inclusiva através de dois novos programas: o Renaissance e o Resilience, que “tem o objetivo de aproximar novas redes de contato e grupos à Black Rock City, trazendo pessoas afetadas por desastres naturais e conflitos geopolíticos, respectivamente”.
![Tomorrowland](https://musicnonstop.uol.com.br/wp-content/uploads/2025/01/1722000016703_842f87d0-3174-42e2-b902-9d894838e5f3.jpg_0_11212605768891005555-150x150.jpg)
A utopia falhou?
O festival nasceu em 1986 como uma experiência social anticapitalista no meio dos Estados Unidos, a ponto de nada ser comercializado dentro dele. Mais, a organização orienta seu público até mesmo a evitar as trocas. Você compartilha o que levou, como água e comida, com quem está do seu lado. Em sua imensa cidade, o espaço é organizado em blocos onde as pessoas acampam ou vão de motorhome.
O evento não divulga sua programação, nem dos DJs (muitos gigantes já tocaram lá de surpresa, como Carl Cox, Tiësto e Paul Oakenfold), nem das performances. Artistas plásticos montam estruturas gigantescas no deserto, além dos lendários art cars, espécie de carros alegóricos retrofuturistas que transformam as ruas de Black Rock City em uma espécie de Mad Max da música. No penúltimo dia do evento, uma gigantesca estátua de madeira (“O Homem”) é incendiada no centro de Black Rock City. “The Man” é uma gíria criada na geração beat, nos anos 50, para se referir ao sistema, ou ao status quo.
Suas primeiras edições aconteciam de graça no deserto. A partir do seu quinto ano, os ingressos eram adquiridos por meio de doações. O sistema mudou com preços em torno de 40 dólares por pessoa e, na década mais recente, partiam de 450 dólares. As mudanças passaram a gerar críticas de que o festival teria se tornado algo elitista, apesar de um dos seus pilares ser, segundo a organização, a diversidade racial e de gênero. Todos os anos, uma cota de “ingressos sociais”, mais baratos para quem comprovar baixa renda, é colocada à disposição.
![Charlotte de Witte](https://musicnonstop.uol.com.br/wp-content/uploads/2024/01/Charlotte-de-Witte-150x150.jpeg)
A pandemia também fez muito mal ao rolê. Após anunciarem seu cancelamento em 2020, fãs do Burning Man se organizaram para uma festa em San Francisco, aglomerando milhares de pessoas no meio do lockdown. Quando a marca decidiu apoiar a irresponsável festa, transmitindo-a ao vivo pela internet, choveram vaias de todos os cantos do mundo. Há tempestade de poeira no deserto de Black Rock.