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Wilco no C6 Fest: 30 anos de uma banda que não é refém do seu maior sucesso
Grupo americano liderado por Jeff Tweedy é sempre lembrado por Yankee Hotel Foxtrot — mas há muito mais do que isso
A banda Wilco volta ao Brasil em maio, para se apresentar no dia 25 de maio (domingo) do C6 Fest. De bate-pronto, vai uma dica: faça valer o seu dinheiro e não vá ao Parque do Ibirapuera somente com o álbum Yankee Hotel Foxtrot (sim, siiim, vou falar dele também) na cabeça. Ouça e reouça seu último lançamento, Hot Sun Cool Shroud, de 2024, para aproveitar ao máximo o som desta grande e imprescindível banda de indie folk alternativo dos Estados Unidos.
Wilco é uma banda de gente livre, dona de seu próprio estúdio e com carta branca para experimentações mil, orbitando em seu tronco folk feito abelhas na pitaia. Um livramento conquistado, claro, graças ao seminal Yankee Hotel Foxtrot, seu quarto álbum de estúdio, de 2003. E pelas traquinagens de uma interessante trama do universo — o tal hotel grudado em qualquer texto, documentário ou conversa de botequim sobre a banda —, Jeff Tweedy e seus parças atingiram um lugar bastante exclusivo no mundo da música. Um certo “status Beatles” de fazer o que quiser e como quiser. E fizeram: dez bons LPs desde 2004. Ponto para os meninos.
Yankee Hotel Foxtrot começou a ser gravado no maior love entre banda, empresário e gravadora. Terminou com a empresa se recusando a lançá-lo, devido a um corte de gastos promovido pela Warner. Desempregados, os músicos foram pra casa com as masters (pela qual tiveram de pagar 50 mil dólares) debaixo do braço até que, estranhamente, o disco “caiu na net”. Vazou. E fez a festa da indielândia que, como uma turma de famintos em frente a um caminhão tombado na beira da pista, saqueou sua carga musical. O buchicho fez com que o Wilco o lançasse às pressas de forma independente. E ainda descolaram, mais tarde, um contrato com a pequena Nonesuch Records para um relançamento. Eis a história de um dos importantes discos da década.
Ao comer na melhor pizzaria do mundo, você terá uma experiência inesquecível, mesmo sabendo que não foi o cozinheiro de lá quem inventou a pizza (a analogia é necessária porque o empresário do Wilco se chama Tony Margherita). Do mesmo jeito, a banda não inventou o folk alternativo experimental e sensível misturado com o country. Ele já estava lá, sendo cultivado por antecessores como Cake, Morphine, Yo La Tengo e tantos outros nos Estados Unidos. Mas que bela redonda prepararam, presenteando a todos nós o troféu da vitória contra o fim do mundo.
Analisando com lupa os carpetes empoeirados do estúdio The Loft, em Chicago, e organizando suas migalhas em códigos musicais, percebe-se que Yankee Hotel Foxtrot é uma resposta estadunidense ao Radiohead e ao Blur. Esfregando bem para tirar a influência eletrônica dos primos ingleses, estavam todos no mesmo barco, polarizando o mundo indie contra as estridências guitarreiras rivais. Wilco ajudou a nos fazer compreender a diferença entre lamento e choradeira. A complexidade da angústia dos pianos contra o desespero juvenil das guitarras.
E vai na minha, sem medo de errar. Tem muito mais quartos neste Hotel Yankee aí, revelados pelo Wilco em um montão de álbuns que eles nos deram. O grupo se apresenta em São Paulo celebrando quase exatos 30 anos de vida. Seu disco de estreia, A.M., foi lançado no finalzinho de março (28) de 1995. Que bela festa de aniversário teremos nós, os brasileiros.