Edgar e MK mostram que o Natal na quebrada é diferente
Jota Wagner conversa com a dupla responsável pelo EP Teimosia
O Natal na quebrada é diferente. E para mostrar isso, Edgar e MK e se juntam no EP Teimosia, carregado de influências do rap nacional dos anos 90 e 2000, lançado no último dia 05 de dezembro. Um belo punhado de músicas, unindo o jazz urbano do rapper guarulhense com os beats do produtor brasiliense.
Falamos com a dupla sobre o disco. Um encontro pela música e para a música. Em meio a lançamentos solos, shows e a correria, conseguiram se encontrar para um baita EP, acompanhado de um videoclipe que mostra um lado do Natal que fingimos não existir quando chega dezembro. O trabalho é fruto de meses de composição conjunta de dois talentosos garotos da nova cena brasileira, revisitando e honrando os que vieram antes.
Jota Wagner: Como é que vocês se encontraram para este projeto do Teimosia?
MK: Foi pelo Renato Marques. O Renatinho é nosso amigo em comum. Uma figura, personagem de filme. Produtor foda do [rapper] Febem. Por ele, a gente conhece todo mundo. Ele é de Brasília, então tem essa conexão comigo. Como morou em São Paulo, também é conectado ao Edgar. Nessa naturalidade de se conhecer, sentimos necessidade de fazer algo junto. Mandei uns beats para ele e o homem escreve muito, né? Escreveu muito rápido. A gente nem sabia que estava fazendo um EP! Da primeira música, nasceu a necessidade de fazer algo maior, mais sólido. Tem essa energia de coisas novas, novas amizades, novas músicas e novas ideias.
O EP tem uma sonoridade do rap classicão….
Edgar: Mano, eu acho que tem um pouco de pesquisa de cada um. O MK já tem uma pesquisa de boom rap, de clássicos, de usar uma linha de jazz para sample, BPM mais lento… Acho que isso traz uma qualidade nostálgica, dos anos 90, 2000. Ele me enviou uns 15 beats. Acabei escolhendo estes que entraram no Teimosia. Os que tinham mais a ver com ele e comigo. Eu fazia parte do Nomade Orquestra, fazia performances para eles. Então esse lugar do jazz bateu forte ao escutar. São sentimentais, sabe?
Na cabeça da molecada, o rap tem essa coisa mais instrospectiva, de fazer pensar?
Edgar: Sim. Dá pra pular, dá pra balançar, mas tem o próprio nome, né? Ritmo e poesia. O lugar do rap é esse mesmo.
O MK lança pra caramba, gosta de fazer feat… Você é mais de estúdio ou de palco?
MK: Mano, eu gosto de estar em estúdio. Gosto de estar em um laboratório. As coisas vão nascendo, as ideias. Essa sinergia de estúdio não é acadêmica. Um dia o santo bate e a gente sente que há algo diferente para criar, é algo muito natural. A gente consegue trazer a vivência pura. As letras do Edgar trazem isso para uma cena. Uma cena quase visual. É uma onda…
A pergunta vale para o Edgar. Você faz música para conseguir marcar shows, ou faz shows para que as pessoas escutem suas músicas?
Edgar: Mano, boa pergunta. Eu faço show para que as pessoas escutem as músicas, porque eu sou rato de estúdio. Viciado em produzir.
Escritores têm uma rotina de trabalho, metas do quanto escrever por dia. Vocês também são assim na música?
MK: Eu faço parte de um grupo. Então a gente marca reuniões semanais, pra falar do som, ensaio, porque também estamos fazendo muito show. Sessão de estúdio mesmo é pra música nova. Pelo menos uma vez por semana eu estou no estúdio com o [grupo de rap] Puro Suco. E também estúdio em casa. Então dá pra fazer música a semana inteira. Mesmo se tento uma disciplina de, por exemplo, fazer música de manhã, às vezes o santo vai bater na madrugada. Teimosia. Há dias em que às duas horas da manhã estou fazendo som.
Vai da inspiração…
MK: Tem vez que vem alguma parada. E tem hora que também não vem. A gente precisa saber lidar com isso. É um negócio bem ancestral, mesmo. De encontrar um lugar que a gente, na hora, acessou.
O que vocês acharam, pessoalmente, do resultado final desse trabalho?
Edgar: Vou falar pra tu que eu pirei. Acho que conseguimos uma originalidade e ao mesmo tempo uma dose de nostalgia, de passear por lugares. Me remete a uma saudade de escutar algo e mesmo assim captar um novo caminho e uma lírica. E ainda teve o Demobuda [João d’Moraes, diretor do clipe de Teimosia] trazendo tanta linguagem visual… Pô, a gente conseguiur em seis meses fazer esse projeto existir, tá ótimo pra caralho!
MK: Eu fiquei surpreso com o resultado. Acessou tudo oque a gente imaginou, e ainda surpreendeu. E ainda teve o LUM [rapper que atuou no videoclipe]. A gente cresceu escutando ele, é uma relíquia do rap nacional. Teve toda a estética do clipe também, do Papai Noel pedindo dinheiro no centro de São Paulo…
Bem, então… o que vocês acham do Natal?
MK: É o momento de ficar quietinho e ver a família.
Edgar: Eu gosto do Natal, tá ligado? Falar que não gosto é pesado. Porque é exatamente esse bagulho da família. Que a gente consegue estar no clima, vai na casa da mãe e tem aquele monte de comida gostosa. Porra, tem um lado bom. Tirando muito do que é vendido do oba oba do Natal. Mas a gente tá ouvindo um disco de rap, né? Tem de falar do Papai Noel fudido, tomando enquadro… Tem uma semiótica nessa imagem.