Tyler, the Creator Foto: Reprodução

Entre polêmicas e aplausos, Tyler, the Creator virou ícone da cultura pop

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Controverso rapper americano lançou sétimo álbum de estúdio, CHROMAKOPIA, na última segunda-feira

Rapper alternativo, designer de moda, ator, visionário da economia criativa, misógino, ativista LGBT+… Muitos rótulos podem ser dados a Tyler Gregory Okonma, artista que se tornou uma das mais celebradas novidades do rap a partir de 2010. O garoto nascido na California e que começou a bagunçar o cenário rapper americano publicava seus primeiros trabalhos no extinto Myspace, onde usava o pseudônimo de Tyler, the Creator.

Pela Columbia Records, Tyler lançou na última segunda-feira (28) um novo e bem-avaliado álbum, CHROMAKOPIA, seguido por uma turnê mundial que vai tomar boa parte de seu próximo ano. Seu sétimo trabalho desde que começou a publicar mixtapes em 2009, chamando atenção da comunidade hip-hop.

Quando falamos em turnê mundial, importante excluir do mapa a Austrália, país onde não pode pisar desde que foi acusado, graças a um processo movido pela ONG Collective Shout de promover a violência contra mulheres nas letras de suas músicas. Treta parecida rolou no Reino Unido, quando recebeu uma carta da própria primeira-ministra, Theresa May, avisando-o de que estava banido por pelo menos três anos, por causa da letra de Bastard.

Excluindo a estranha dicotomia de sua identidade sexual (“gay as a fuck”, conforme declarou publicamente) e certo ranço pelas mulheres, Tyler, the Creator é reconhecido por aquela alcunha de “multiartista”, tão na moda ultimamente. Com 18 anos, fundou o coletivo ODD Future, que virou gravadora independente e plataforma de lançamento de mixtapes como Bastard, flertando com a temática dos filmes de terror, o horrorcore — tema que acabou abandonando no decorrer da carreira.

A grande alavancada na sua carreira veio quando lançou seu primeiro videoclipe, Yonkers, que lhe rendeu o prêmio de artista revelação no MTV Video Music Awards. A vitória trouxe ao círculo do rapper vários colegas mais experientes, que se renderam ao seu trabalho e garantiram futuras colaborações. Gente da estirpe de Jay-Z, Steve Rifkind, Jimmy Iovine e Rick Ross. Foi a abertura perfeita para a vinda de seu primeiro álbum solo, Goblin, de 2011.

Tão logo conquistou reconhecimento no cenário rapper estadunidense, Tyler começou a colocar suas manguinhas de fora em outros mercados. Transformou seu coletivo ODD Future em produtora audiovisual e emplacou, no canal de TV a cabo Adult Swim, o show de TV Loiter Squad, que chegou a três temporadas na emissora. Em paralelo, o multimídia lançou seu segundo álbum, Wolf, com vários colaboradores, inclusive alguns que ele convidou para seu programa de TV, caso de Lil Wayne.

Tyler, The Creator, não há como negar, manja de negócios e marketing. Além do programa de TV, o rapper sempre demonstrou boas ideias para chamar a atenção do público. Cherry Bomb, seu álbum de 2015, foi lançado com nada menos do que cinco capas diferentes, tanto em vinil quanto em CD. É claro que muitos fãs compraram todas. Já para promover o disco Call Me If You Get Lost (2021), o artista espalhou lambe-lambes por diversas cidades com um número de telefone. Quem ligou para o número do cartaz ouviu a gravação de uma conversa entre o rapper e sua mãe. O californiano também é considerado, nos Estados Unidos, um ícone fashion. Seu estilo rendeu matérias nas mais importantes revistas de moda do país. Assumiu os louros e aproveitou para criar sua própria marca de roupas, chamada Golf Wang.

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A real é que Tyler passou por cima do cenário rapper estadunidense como um trator. Independentemente dos rolos em que se envolveu (foi preso depois de um show no teatro Roxy por destruir o equipamento e depois processado pelo festival South by Southwest por ter incitado um ataque contra seguranças), a capilaridade da sua mensagem vai passando por cima dos deslizes. O artista também tem a capacidade de conquistar os corações dos colegas. Foi elogiado por Pharrell Williams e conseguiu juntar, no palco de seu show no último Coachella, Childish Gambino, A$AP Rocky e Kali Uchis. Coisa de doido.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.