Gregorio Duvivier Gregorio Duvivier – foto: reprodução Instagram

Gregorio Duvivier conta quais foram os dez livros fundamentais em sua formação

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Em entrevista para o canal Ilustre Leitor, o escritor e roteirista falou sobre os livros que “mudaram sua perspectiva”

Somos todos uma colagem de influências, recordações e sentimentos que, “juntos e misturados”, formam a nossa estrutura de pensamento, a escolha que fazemos e os caminhos que tomamos.

Discos, filmes, livros… mais de um e menos de outro, dependendo de cada pessoa. Conhecer as referências das pessoas que admiramos, o que contribuiu na construção da sua personalidade diz muito sobre que o que aquele determinado artista se tornou. E diz, também, muito sobre o que gostamos nele.

Gregorio Duvivier participou recentemente do bate-papo “Ilustre Leitor, do Parque de Ideias” e contou sobre os dez livros que foram fundamentais em sua formação.

O escritor, roteirista e apresentador falou ao parque de ideias sobre seus poemas, rotina de trabalho, sua educação e, principalmente o papel da leitura em sua vida. Veja como ficou o “top 10” de Gregorio Duvivier:

 

 

1. Memórias Póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis

Memórias Póstumas é muito engraçado, tem um humor inigualável. O próprio Woody Allen falou que é um dos livros preferidos dele. Tem uma coisa judaica, embora esteja longe da realidade do Machado de Assis. No Brasil, escritor negro, século XIX… seu humor é muito humano, não tem heróis!

2. A morte e a morte de Quincas Berro d’Água, Jorge Amado

Esse eu li na escola. Também é narrado do ponto de visto de um cadáver. Jorge Amado tem orgulho e entende o que é ser brasileiro. A história de um homem que, depois dos sessenta anos, vira um boêmio louco, da pá virada. A parte do livro em que os amigos fazem seu segundo enterro é a coisa mais linda da literatura até agora, para mim. 

3. O corpo encantado das ruas, Luiz Antonio Simas

Simas é um historiador das ruas. Ele quem disse que Zé Pereira (presente em diversos cantos populares cariocas) é o primeiro bloco de carnaval do Rio, e não se sabe se essa figura realmente existiu. Mas é algo que Simas contava, através de suas crônicas. Um historiador do saber popular.

4. Caderno de memórias coloniais, Isabela Figueiredo

Ela conta a infância dela no Moçambique. De um ponto de vista muito corajoso, que é o da filha de um coronelzinho português racista. Sentimentos que misturam culpa, com saudade, com orgulho da terra onde ela passou a infância.

5. Defeito de Cor, Ana Maria Gonçalves

Este livro foi muito forte pra mim. Foi a primeira vez que eu tive uma mudança de perspectiva (sobre a escravidão) que a literatura opera como ninguém. “Escovar a história a contrapelo”. Ela conta histórias que a história não conta. Protagonistas que a gente nunca viu.

6. O despertar de tudo, David Graeber

É uma maneira nova de encarar a história também. É de antropoloia. À luz das últimas descobertas da arqueologia, ele escreve uma nova história da humanidade, não linear.

7. Falso Espelho, Jia Tolentino

Ela escreve muito bem. Uma articulista. Falso espelho é por causa das redes sociais. Fala muito bem da nossa geração e como estamos sugados por esse espelho de mentira, algo que pede uma imagem, e te cobra por isso em forma de temo. É mais importante gerar uma imagem virtuosa de si do que dizer alguma coisa que mude.

8. Verdade Tropical, Caetano Veloso

Caetano é muito inteligente. E é uma inteligência que cobre todos os assuntos. Tem um interesse muito genuíno pelo ser humano e todas as manifestações culturais. Sua curiosidade tão vasta, tão infinita, que para mim esse é o “nome” da inteligência.

9. Viva o Povo Brasileiro, João Ubaldo Ribeiro

É meu livro preferido da vida inteira, se tivessse que escolher um. É uma obra-prima, um Game Of Thrones brasileiro. Conta a história do Brasil através de personagens que se cruzam. Ele consegue contar a biografia de um país, de um povo, falando das vidas humanas que o movimentavam. 

10. Macau, Paulo Henriques Britto.

Tive algo com ele na PUC, diversas vezes. Me apaixonei pela obra dele. Ele é um poeta que ensina a pensar poesia. Fazer poesia como um operário braçal. Ensina que ela tem de ser pensada, trabalhada. Não estamos a costumados a trabalhar a palavra. 

 

 

 

 

 

 

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.