Os Beach Boys em 1965. Foto: Reprodução

Há 60 anos, o rock virava “oficial” nos Estados Unidos

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Em 21 de maio de 1965, gênero musical ganhava destaque em capa da revista TIME

“Agora” é oficial: o rock não é modinha! Dia 21 de maio de 1965, há exatos 60 anos, a revista mais influente dos Estados Unidos, a TIME, chegava à banca com uma colagem de vários artistas roqueiros na capa e o título: “Rock’n’Roll: Está Todo Mundo Apaixonado”. A edição, que estampava bandas como Beach Boys, Petula Clark, Herman’s Hermits e The Supremes, dava a martelada final do veredicto de que o estilo musical surgido uma década antes tinha vindo para ficar.

Rock'n'roll na capa da TIME

Imagem: Reprodução

Hoje em dia nos parece até estranho. O rock não só sobreviveu como transmutou, multiplicou-se em centenas de subgêneros, se renova o tempo todo e arrasta geração após geração para shows lotados. Mas na primeira metade da década de 60, a novidade ainda causava polêmica nas mesas de boteco dos Estados Unidos.

The Trashmen. The Kinks. Goldie and the Gingerbreads. The Ripchords. Bent Fabric. Reparata and the Delrons. Barry and the Remains. The Pretty Things. The Emotions. The Detergents. Sam the Sham and the Pharaohs. The Guess Who’s. Cannibal and the Headhunters. Them. The Orlons. The Liver-birds. Wump and the Werbles. Como uma espécie de Malícia no País das Maravilhas, hordas de cantores desgrenhados de rock’n’roll avançam pelo país, dedilhando vigorosamente suas guitarras elétricas. Por mais bizarros que possam parecer, eles são os consagrados difusores do big beat e, como nunca antes, as pessoas os estão ouvindo — todos os tipos de pessoas”, cravou a revista em uma extensa matéria sobre o assunto.

Por mais incrível que possa parecer, a primeira geração roqueira inspirava dúvidas, mesmo após a terremótica primeira turnê dos Beatles pelo país, em 1964, e a decorrente popularização de uma avalanche  de bandas britânicas nos toca-discos estadunidenses, chamada pela mídia de British invasion. Críticos que, mais tarde, se tornariam referências no assunto, começaram a ouvir o gênero cuspindo no prato que mais tarde comeriam. Lester Bangs, um dos maiores repórteres da história do rock, chegou a classificar a música como “possível moda passageira”. Jann Wenner, fundador da revista Rolling Stone e, por muito tempo, patrão de Bangs, concordava, mostrando que gênios também erram.

A verdade é que em um país conservador e segregado como os Estados Unidos dos anos 60, carimbar que o rock tinha “vindo para ficar” significava nas entrelinhas que a população branca estava comprando seus discos e ouvindo-os na sala de casa. Embora certeira, a TIME ainda não sabia que, pouquíssimo tempo depois, o gênero musical mudaria a cabeça de uma gigantesca parte da juventude branca americana com a desastrada entrada de seu país na Guerra do Vietnã, a era hippie e o festival Woodstock.

Entre altos e baixos, décadas mais ou menos criativas e misturas mil, a revista está certa. O rock’n’roll veio para ficar. O engraçado, hoje, é olhar para 1965 e pensar: “poxa, como é que alguém tinha dúvida sobre isso?”.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.