Kanye West Foto: Divulgação

5 motivos para NÃO ir ao show de Kanye West no Brasil

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Da associação ao nazismo e comentários antissemitas ao apoio a Diddy, Ye cansou de dar provas de que merece ser boicotado

Um país que tem Thaíde, Mano Brown, MV Bill, Criolo e Emicida como maiores expoentes do rap masculino precisa de um show de Kanye West, celebridade que vem chocando o mundo com o atitudes bem distantes do que estamos em ouvir no movimento hip-hop? Para a produtora Urban Movement, que promove show do artista dia 29 de novembro em São Paulo, parece que sim.

Se “rap é compromisso”, como repetimos por aqui, dá medo imaginar com quem o cara que resolveu mudar o nome artístico para Ye anda comprometido. O artista tem se pronunciado muito pouco sobre o genocídio cometido contra o povo palestino (recentemente, declarou à News Week que está mais preocupado com a violência em Chicago do que no Oriente Médio). Porém, insistentemente, age em favor de espúrias ideias neonazistas, o que sugere que sua estratégia é de negócio oportunista, correndo atrás da tal “mídia espontânea” a qualquer preço — e não com como qualquer resposta ao que está acontecendo no mundo, como alguns fãs ainda insistiram em tentar relativizar.

Escancarando o pior do “lado empreendedor” do brasileiro, eis que importamos um cara que, em letra e “compromisso”, não chega à unha encravada de um bom rapper brasileiro. O público, porém, pode fazer sua parte e nós ajudamos nisso, listando cinco motivos para não gastar seu dinheiro com uma apresentação como essa.

1. Nazismo e antissemitismo

Kanye West

Apenas alguns dos tuítes recentes de Kanye West. Imagem: Reprodução

Kanye West está de olho no público interessado em discursos de ódio da extrema direita mundial. Participou do podcast do supremacista branco Nick Fuentes, jantou com Donald Trump, fez saudação nazista em live no Twitch, vendeu camiseta com suástica no intervalo do Super Bowl, literalmente declarou ser um nazista e amar Hitler e lançou, neste ano, uma música com o título Heil Hitler — entre diversas outras postagens antissemitas no X/Twitter, geralmente repetindo estereótipos do povo judeu amplamente usados na ascenção do Terceiro Reich, para seus mais de 33 milhões de seguidores.

Uma antiga empregada do artista, que é judia, o processou alegando discriminação de gênero e religiosa, incluindo o recebimento da mensagem “Hail Hitler” logo depois de ser demitida por ele.

2. Misoginia braba

Kanye West

Kanye West e Bianca Censori no último Grammy. Foto: Axelle Bauer Griffin/FilmMagic/Reprodução

Se a ideia é chamar a atenção, garantindo exposição de mídia, por que não usar a própria mulher? Ye levou (mais uma vez!) a esposa praticamente nua à cerimônia do Grammy (enquanto ele, claro, estava confortavelmente vestido, dos pés à cabeça). A apelação causou bagunça com a própria organização do prêmio, e o casal decidiu se retirar antes mesmo do evento começar. Mas o rapper conseguiu o que queria, como de costume. “Eu tenho domínio sobre minha esposa”, chegou a tweetar depois das críticas recebidas.

3. Apoio a Diddy

Kanye West

Kanye West e Diddy. Foto: Jeff Kravitz/Filmmagic/Reprodução

Se a ideia é usar mulher como objeto, por que não apoiar o amigo denunciado por tráfico sexual, extorsão e associação criminosa? Foi o que West fez, comparecendo ao julgamento de Sean “Diddy” Combs além de, claro, apoiar publicamente o colega, enfiando até denúncia de racismo estrutural no meio.

“Eles estão tentando usar o Puff [Diddy] para assustar os negros, mas não estou com medo”, disse o mesmo homem que apoia supremacistas brancos em podcasts. Arauto da justiça racial? Não, Diddy é sócio de Kanye em negócios no mercado de vestuário.

4. Criança também é negócio

North West. Foto: Reprodução

Kanye West tem usado a filha como arma na briga com Jay-Z e Beyoncé, antigos amigos cuja relação azedou completamente após sua aproximação com a extrema direita. Na cabeça do rapper, por que não usar os filhos para atacar os pais? É o que ele tem feito várias vezes, comparando sua filha, North West, com a dos ex-amigos, Blue Ivy Carter, além de criticar publicamente a forma que Jay-Z e Beyoncé educam suas crias.

Ye chegou a declarar que “quando minha filha tiver sete anos, ela terá mais impacto na cultura do que Blue Ivy tem agora”estimulando a competição que não interessa, absolutamente, entre duas crianças que não têm nada a ver com a treta dos pais. Em outra publicação no X, West chegou a chamar os filhos gêmeos do casal de “retardados”.

5. Que tal seguir bons exemplos?

Adidas rompeu contrato com Kanye West após comentários antissemitas. Foto: Reprodução

Se a gente gosta mesmo de validação gringa, que tal seguir exemplos de outros povos em relação a Kanye West? A Austrália revogou seu visto após a guinada nazista. A Alemanha baniu o videoclipe de Heil Hitler e seu povo protestou fortemente contra uma apresentação sua marcada em Berlim. O público inglês e eslovaco (com um abaixo-assinado com mais de cinco mil assinaturas) também bateu forte nos produtores que marcaram shows do rapper, e até mesmo os próprios estadunidenses fizeram protesto nas arenas. Marcas como Adidas e Balenciaga também cancelaram seus contratos com o artista.

E por aqui, teremos uma arena lotada?

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.