Lenda viva da música brasileira está celebrando seu aniversário de 80 anos
Nossa geração está testemunhando, nos últimos anos, uma onda de celebrações de aniversários dos oitentões. Gigantes revolucionários da música brasileira que hoje comemoraram uma vida repleta de grandes obras, muita luta e o mais do que merecido reconhecimento público. Já passaram pela marca dos 80 Milton Nascimento, Gilberto Gil, Caetano Veloso e, o mais recente membro do clube, Chico Buarque, que celebra seu octogésimo ciclo de vida neste dia 19 de junho.
Além da discografia gigantesca e da família repleta de talentos do mundo artístico e acadêmico, o carioca Francisco Buarque de Holanda tem mais um motivo para celebrar, ao soprar as velinhas esta noite. O cantor e compositor pode tirar onda como um dos mais moleques de sua gerações, além de ser um dos artistas que mais viram seu público ser renovado. Chico, parece, encontrou em suas andanças a fonte da juventude. E não estamos falando da forma física.
O artista despontou na era dos primeiros festivais de música brasileira, a partir de 1966, foi o obrigado a se exilar fora do país já em 1969, graças à repressão da Ditadura Militar, que o considerava um dos mais perigosos influenciadores subversivos — título que foi ressuscitado junto com as múmias da extrema direita, em nossa história recente. Jamais desistiu de escancarar (e escrachar, também) sua opinião através de sua música, e tamanha resistência ganhou a simpatia da geral.
Se ouve Chico Buarque em muitos lugares onde a juventude está. Nas festas independentes dedicadas à música brasileira, em bares, nas redes sociais e nas conversas de boteco. Claro que outros artistas de sua geração também beliscam seu lugar na mente das novas gerações. Mas igual a Chico, o eterno garoto, não há. Veja abaixo cinco motivos que fazem dele um artista eternamente jovem!
O posicionamento político indestrutível
Um dos elementos que tornaram Chico Buarque tão encantador para as novas gerações foi justamente o seu comportamento mais, digamos, radical, no que diz respeito à posição política. A família Buarque de Hollanda é de esquerda assumida a gerações e, dentre as maiores qualidades do artista, não se esquecer do tormento que passou durante o período mais vergonhoso da história brasileira é a que mais encanta a juventude que foi obrigada a receber uma amostra do ódio que uma sociedade preconceituosa e enaltecedora da ignorância é capaz de produzir. Sem jamais relativizar o que estava acontecendo no Brasil em entrevistas, em suas músicas e até mesmo no apoio público a candidatos, Chico Buarque ganhou a simpatia da garotada.
Inimigo do conservadorismo
Graças a este mesmo posicionamento assumido, Chico Buarque ganhou o posto de principal inimigo do conservadorismo em redes sociais, a partir da metade dos anos 2010. Virou o demônio dos bons costumes entre os “cidadãos de bem” da internet. Foi vítima de um sem número de notícias falsas e acusado de viver recebendo dinheiro público, “mamando nas tetas do governo”.
Ao virar alvo de uma classe caquética que promovia a “cura gay”, disseminava histórias sobre mamadeira de piroca e alertava para uma surreal lei de um hipotético novo governo que obrigaria a classe média a ceder um quarto de sua casa para moradores de rua, o artista virou símbolo de quem pensava ao contrário. Chico Buarque era o oposto do antigo. Portanto, símbolo do novo.
O cantor das minas
Em sintonia com a discussão contra o patriarcado que, finalmente, ganhava a devida força na sociedade brasileira, gerações mais jovens descobriram as várias canções da obra de Chico Buarque que enalteciam o poder da mulher, ou denunciavam o preconceito que assolava o gênero em décadas passadas. Apesar de Você, Geni e o Zepelim e Ana de Amsterdã, entre várias outras, foram revisitadas graças à abordagem do tema, sempre com as metáforas sofisticadas presentes em suas letras. E dá-lhe Chico de novo, na boca da garotada.
O berço e a vida pessoal
Enquanto a vida de candidatos políticos conservadores era composta por divórcios sem fim, denúncias de agressão, tretas intermináveis e declarações diminuindo o gênero feminino, Chico seguiu inabalável. Apesar de ácido e polêmico na vida pública, na esfera pessoal a notícia mais comentada de sua vida foi o fato de ter “comprado baguete no Leblon”. Durante os 33 anos de seu casamento com a também irrepreensível atriz Marieta Severo, o casal foi o queridinho da MPB. A paz vem de família: o avô (pernabucano) era professor universitário. A mãe, pintora e intelectual carioca, o pai era historiador e sociólogo. Entre os irmãos, Miúcha, Ana de Holanda e Cristina Buarque são também da música. Uma filha é atriz. A sobrinha é Bebel Gilberto. Ah, mano… dá um tempo!
Além disso, Chico Buarque, fora dos palcos, é um brasileiro nato. Amante das peladas, dedicava a vida a marcar jogos de futebol com os amigos, tomar cachaça e se dedicar aos prazeres simples, compartilhados com a maioria dos jovens de todas as idades. Quem não se lembra da clássica foto em que jogou bola com Bob Marley?
Os memes
Quer um jeito mais eficiente para seguir relevante entre os jovens? Virar meme. E Chico surfa na onda das tiradas de sarro da internet há muito tempo. Quando um jornal de fofocas publicou uma foto sua andando na rua com o surreal título “Chico Buarque compra baguetes para o lanche da tarde”, em 2009, o assunto viralizou, tamanha falta de relevância da “notícia”.
Mais tarde, a montagem das duas fotos do Chico cabreiro versus o Chico sorridente virou patrimônio cultural intangível da internet, replicado aos milhões até hoje. Eis que o cara se eterniza, sempre jovem, sempre nos celulares das gerações mais novas.