Eu não sei dizer quando ou qual foi a primeira vez que viajei sozinha. Provavelmente porque a coisa de “estar sozinha” não me chamou muito a atenção, porque desde criança eu dou uns rolês comigo como uma forma de passar tempo. Sou uma pessoa introspectiva e gosto da minha companhia. Significa que detesto gente, sou sociopata e vou acabar meus dias escondida numa cabana na floresta? Não necessariamente. Só significa que fico tranquila quando não tem ninguém por perto.
Depois de começar a escrever e divulgar o Mas Você Vai Sozinha?, meu livro de crônicas de viagem que a Globo Livros lança nesta terça (27) em São Paulo e que você já pode encomendar na Amazon [por R$ 29,90], comecei a responder perguntas tipo “Como foi que você começou a viajar sozinha?” ou “Qual é a melhor/pior coisa de viajar sozinha?” e afins.
Engraçado que ninguém fala pra homem “Nossa, e você vai sozinho?”. Mas pra mulher essa pergunta é normal. Pensa: você já deixou de ir em alguma coisa por não ter companhia? Pode ser um filme, um show, um evento qualquer. A chance é que sim, já deixou. Já deixamos. Tem a coisa da segurança, mas tenho achado cada vez mais que deixamos de fazer muita coisa por nosso medo de julgamento; “ai, mas e se eu ficar sozinha o tempo todo, o que vão achar?”.
Então atente para essa informação libertadora: não vão achar nada, amiga.
O mundo não está olhando pra você o tempo todo. E, mesmo se alguém olhar e reparar, a chance é que vai achar que você é uma pessoa segura e feliz, que não deve nada pra ninguém. Bora abraçar essa idéia? Se você, que planeja ir naquele festival maravilhoso, mas está considerando deixar de lado porque “não tem companhia” ou não vai em show sozinha porque acha que não vai dar liga, leia estes cinco toques baseados na experiência de quem já foi sozinha em show, festival, viagem de trem, trilha na floresta e ritual espiritual indígena (entre outras coisas).
1. Pesquise
Eu sou a louca da organização de roteiros e sempre carrego um guia de viagem comigo, porque gosto de saber o máximo possível sobre tudo que vou ver. Ninguém precisa ser assim, claro. Mas a empolgação nerd vale pra festival também. Principalmente se você está sozinha e não tem uma turma de amigas pra te carregar de um lado pro outro, é bem legal chegar no rolê sabendo o que vai acontecer. Além do mais, a etapa “pesquisar” ajuda a espantar os medos e substituir a ansiedade por animação.
2.Assuma a solidão
Compartilhe, mas não se isole na telinha do celular. Ficar de boa com você mesma é um sentimento poderoso e acaba sendo chance para conversar e conhecer pessoas. Historinha: uma vez num festival eu tava cansada e sentei com minha mochila e afins num canto com uma cerveja. Abri um caderninho e comecei a escrever. Como num passe de mágica o provável cara mais bonito do mundo se materializou ao meu lado, se apresentou e começou a puxar papo dizendo que “nunca vi uma garota escrevendo num festival antes, adoro ler, você deve ser uma pessoa muito interessante”. Pensando agora soa meio ridículo, mas na hora foi encantador e me senti totalmente a Rory Gilmore no rolê. Trocamos gentilezas e ele foi embora.
3.Estar sozinha também pode funcionar como imã pra atrair uns caras (ou outras minas), o que me leva ao próximo ponto: não dê bola pra quem ou o que você não quer.
Tem gente que enxerga mulher sozinha (em festa, na viagem, na rua, no mundo) como uma oportunidade a ser aproveitada. Isso é uó, mas existe. Ainda mais em festival, quando homem bêbado em bando é comum, pode acontecer de você se sentir invadida. Não hesite em pedir ajuda e se proteger. Vale procurar um grupo de outras mulheres na área, você vai ficar surpresa com o quanto as mulheres estão dispostas a ajudar outras mulheres.
4.Seja você mesma
Deu vontade de pagar uma rodada de shots de tequila pro seu novo grupo de BFFs? Vá em frente. O show tá chato e você quer ir embora mais cedo? Sua vida, sua decisão. A melhor coisa de viajar sozinha é que ninguém vai tomar essas decisões por você. Comigo já aconteceu de desistir de ir um show do Animal Collective em Londres, em cima da hora e com ingresso garantido, por que quis ver os fogos de artifício num pub perto do apartamento alugado e voltar pra casa (sozinha). E já aconteceu de descobrir uma banda nova pra amar por ter saído de perto da turma (no caso: Edward Sharpe & the Magnetic Zeros no Lollapalooza 2009). Vale pra festival, pra viagem e pra vida: ouça e respeite o coração.
5.Fique segura
Não estou te aconselhando a ignorar que o mundo fora da nossa bolha (e às vezes até dentro dela) é problemático. Estar sozinha significa prestar atenção aos seus arredores e situações. Essa segurança interna te ajuda na hora do aperto, é muito importante. Andar sozinha por aí não é sempre o melhor dos mundos. Comparando novamente com a situação dos nossos amigos homens, mulher se sente mais vulnerável, sim. Não se culpe por esse sentimento. E, quando em dúvida, lembre-se: não há nada mais libertador do que aprender a gostar de sua própria companhia.
MAS VOCÊ VAI SOZINHA?
de Gaia Passarelli
Editora Globo
176 páginas
R$ 29