30 discos de 1987 pra você voltar 30 anos no tempo e relembrar alguns dos melhores álbuns da história da música

Luis Depeche
Por Luis Depeche

2017, um ano que vai ficar marcado por um sopro de novidades e criatividade em várias esferas da música. A essa altura do campeonato, listas de melhores do ano já invadiram a sua timeline.

Corta para 1987, exatos 30 anos atrás. É muito provável que os críticos daquela época estivessem a essa altura do campeonato descabelados com tanta música boa que foi lançada naquele ano. Coisas que, àquela altura não sabíamos, se tornariam clássicos absolutos de toda uma geração e definiriam gêneros. Foi também um ano que botou à prova muitas bandas e artistas que estavam no auge do sucesso e, num piscar de olhos, perderam o brilho, a mão, o rumo e, em alguns casos, sumiram completamente do mapa.

A lista abaixo é um convite a dar um giro por alguns importantes lançamentos fonográficos da época, sem ordem de preferência. A ideia foi juntar a parada comercial e a independente, o visionário e o milionário, o pessoal e o geral. Boa viagem!

1. New Order – Substance

Uma marota sacada de marketing ou simplesmente um caso de sucesso do acaso? Diz a lenda que tudo o que Bernard Sumner (vocal e guitarra) queria na época era escutar as versões estendidas dos singles no conforto de seu carro, o que resultou na aclamada compilação Substance. Trata-se de uma verdadeira aula de química musical quando o assunto é provocar a fusão de dois elementos primordiais no sucesso do som da banda: rock e dance music.

2. Various Artists – Lonely Is an Eyesore

Uma das minhas ¨prediletas de todos os tempos¨, essa coletânea lançada pelo icônico selo britânico 4AD traz músicas exclusivas de artistas e bandas que ajudaram o selo a se firmar como um dos grandes expoentes – e mais influentes – da música alternativa e independente, como Cocteau Twins, Colourbox, Dead Can Dance e Throwing Muses. Depois disso, o Pixies entrou na parada e aí se iniciou toda uma outra história.

3. Happy Mondays – 24 Hour Party People

Toda a malemolência lisérgica da indie dance/rock contida na seminal Freaky Dancing já fazia despontar o potencial do quarteto de Manchester para fazer dançar e ingerir “coisinhas”. O Happy Mondays foi um dos grandes responsáveis pelo lado mais festeiro da transição do pós-punk para o indie. E olha que eles ainda estão de pé!

4. The Jesus and Mary Chain – Darklands

Pra quem achou que a estreia do Jesus veio carregada demais de noise (e era esse o grande barato), Darklands serviu como uma espécie de cera para os ouvidos mais sensíveis entre os fãs da banda dos irmãos Reid. April Skies e Happy When It Rains são muito parecidas (praticamente idênticas) e respondem pelo êxito maior do disco, que na época já não contava mais com as baquetas de Bobby Gillespie, que saiu para formar o Primal Scream.

5. The Smiths – Strange Ways, Here We Come

São poucas as bandas que, mesmo com uma carreira relativamente curta, se despendem com o seu melhor álbum. E foi assim que a dupla Morrissey & Marr passou a considerar a sua última cria. Para os fãs, representados eternamente no vídeo de Stop Me If You Think That You´ve Heard This One Before, essa suposição é altamente questionável. Até hoje bate uma tristeza profunda ao escutar o álbum inteiro, culminando com o fade out derradeiro de I Won´t Share You.

6. Durutti Column – The Guitar and Other Machines

Apesar de não ser páreo o suficiente para competir com o espevitado Mark E. Smith do The Fall, o guitarrista Vini Reilly pode ser considerado um dos músicos mais prolíficos vindos da cena pós-punk de Manchester. Considerando sua obra impecável dos anos 80, que inclui música experimental, instrumental, neoclássica e até mesmo protochill-out, o DC conseguiu reunir aqui o melhor de sua sonoridade original com ênfase para os eletrônicos. Bordeaux Sequence é uma releitura mais sintética da magnificamente melancólica do álbum Another Setting (de 1982) e forma um par emocionante com What Is It to Me (Woman).

7. Public Enemy – Yo! Bum Rush the Show

Assim como o Licensed to Ill do Beastie Boys e Raising Hell do Run DMC – e bem mais furioso -, o álbum de estréia do Public Enemy ocupa um lugar de destaque na história do hip hop e do rap mundial. Ele pode não ter disparado hinos revolucionários como Fight the Power e Don’t Believe the Hype para as paradas musicais, mas já demonstrava o potencial de dominação mundial dos tretas-master Flavour Flav, Chuck Dee e Cia LTDA. You’re Gonna Get Yours!

8. Eric B and Rakim – Paid in Full

O beat irresistível e inspirador de Paid in Full, com sua intro fodástica, o flow supercool do rap, Ofra Haza, James Brown, o senso de humor…Daria pra ficar um bom tempo apontando motivos pra justificar por que essa música é uma das mais geniais da década de ouro do hip hop. Curiosamente, o trecho sampleado “a toque de caixa” pelo M/A/R/R/S – e que deu título à Pump Up the Volume – veio de uma versão acapella de I Know You Got Soul, cuja versão normal integra o álbum Paid in Full.

9. Sly & Robbie – Rhythm Killers

A lendária dupla dinâmica do reggae, do dub e do dancehall realizou sua mais bem-sucedida incursão no mundo do funk e da música eletrônica e lançou um dos álbuns mais elogiados pela crítica no ano de 1987. Para isso, contaram mais uma vez com a astúcia do produtor Bill Laswell, parceiro também em Language Barrier (de 1985). Baixista extraordinário, o cara já trabalhou com artistas de uma diversidade musical que vai de Mick Jagger e Yoko Ono a PIL e Motorhead, passando por Miles Davis e Herbie Hancock. Até no drum and bass e ambient dub, ele já se aventurou. Com Laswell, os “riddim twins” Sly Dunbar e Robin Shakespeare criaram a boombástica Booper (Here to Go) que, após quase 20 anos, foi devidamente sampleada e remixada para dar vida à Rudebox, do Robbie Williams.

10. Pop Will Eat Itself – Go Box Frenzy

O PWEI estreou com um divertido exercício sonoro de sampleagem, misturando rock, acid house e até o tostão da voz de Nat King Cole, na intro de There´s No Love Between Us Anymore. No ano seguinte, eles lançaram a matadora e super bem-humorada Def Con One. Desce um Big Mac com fritas, ae! E pra viagem!!!

11. JAMS – What the Fuck Is Going On

Antes de queimarem 1 milhão de libras em nome da arte e da independência e assumirem as identidades eletrônicas KLF e The Timelords, o Justified Ancients of Mu Mu, formado pela dupla Bill Drummond (o “bad boy” da indústria fonográfica britânica dos 80s) e Jimmy Cauty (ex-Brilliant) integravam a elite da primeira leva de produtores de acid house na Inglaterra, ou o que ficou conhecido como o “Second Summer of Love”. What the Fuck Is Goin On é o primeiro álbum da dupla e mostra um exercício bem divertido e altamente dançante de sampleagem que, junto com o smiley, se tornou a cara da acid house na Inglaterra.

12.Colonel Abrams – You And Me Equals Us

Como nem tudo é festa, chega uma hora em que o texto assume uma aura solene e um tom de homenagem. E ela é dedicada a um dos “unsung heroes” da house music: Colonel Abrams. Falecido no ano passado em decorrência do agravamento de diabetes, que também levou o eterno Frankie Knuckles, o artista norte-americano encontrava-se na condição de morador de rua e comoveu parte da elite da house music com sua morte, recebendo homenagens de nomes como Marshall Jefferson, Joey Negro e Dave Pearce, entre outros grandes. Numa época em que o estilo ainda era exclusividade nos então chamados “redutos gays” e o formato dos lançamentos era em sua maioria restrito a singles e EPs, o já experiente Abrams lançou o álbum You and Me Equals Us, que trazia o piano-house comercial How Soon We Forget, com seu vozeirão em contraponto a vocais mais agudos, como os do Ten City. O álbum inclui também uma versão repaginada da sensacional You Got Me Running, de 1984, que pode ser considerado um dos primeiros e estupendos registros de protohouse. Vale a pena escutar a homenagem prestada em 2011 pelo Omar S. em Who Wrote the Roots of Love pra entender melhor a dimensão do trabalho dessa verdadeira lenda.

13. Nitzer Ebb – That Total Age

Considerado por muitos como legítimos herdeiros do DAF, o duo britânico entrou para o panteão da electronic body music com seu álbum de estreia. That Total Age tornou-se um clássico e Join in the Chant foi até parar no balaio da flash house, junto com Headhunter, do Front 242. Há penas!

14. Front 242 – Official Version

A prensagem nacional do terceiro álbum do Front 242 veio ainda que atrasadinha pelo selo Stiletto, três anos depois do lançamento oficial. Em 1987, os porões mais antenados do underground brasileiro já tremiam ao som de Master Hit e Quite Unusual. Bigorna sim, mas em grande estilo!

15. Cabaret Voltaire – Code

Menos experimental, cabeçudo e motivo de mágoa entre o fãs da velha-guarda do Cabaret Voltaire, esse trabalho mostra a dupla Richard H Kirk e Stephen Mallinder mais funk do que nunca. Produzido pelo supercultuado Adrian Sherwood (fundador do selo On.U Sound Records, persona influente do dub e remixer de mão cheia), praticamente todo o álbum tem grande potencial para as pistas e serviu de transição entre a sonoridade pós-industrial e houseira da banda.

16. Depeche Mode – Music for the Masses

“Espalhando as novidades ao redor do mundo”. Esse foi o mote do sexto álbum de estúdio do Depeche Mode. Se levarmos em conta o hit Strangelove, os rapazes conseguiram o feito com grande êxito. Não seria exagero afirmar que pelo menos sete entre dez fãs da banda consideram Music for the Masses o disco definitivo do então quarteto pós-industrial, pré-house ou qualquer outro presunçoso rótulo assumido pela imprensa na época.

17. Guns’N’Roses – Appetite for Destruction

Gostando ou não do Guns, fica difícil negar que o riff de guitarra da introdução de Sweet Child O’Mine foi um dos momentos musicais mais emblemáticos (e grudentos) da música pop e do rock na segunda metade dos 80s. A quantidade de tracks de dance music que o incorporou é extensa e resultou numa ponte entre o rock e a música eletrônica das pistas. Isso já é suficiente para garantir o lugar da banda nessa lista.

18. Sisters of Mercy – Floodland

Chegou a hora mais trevosa da seleção. Aquele momento carregado de drama, afetação e grandiosidade, assim como a intro de This Corrosion. Foi com ela que Eldrich obteve o maior índice na escala “pop star” da história do Sisters. Devidamente solo, o pequeno lorde das trevas deu uma de Prince e assumiu o instrumental e grande parte da produção de Floodland. Depois de muito mistério sobre sua participação no álbum, a baixista Patricia Morrison (Gun Club, Fur Bible) acabou fazendo o papel de figurante (na parte musical) e de modelo (no quesito visual). Dr. Avalanche – a bateria eletrônica elevada ao status de membro da banda – foi trocada por outros modelos mais atuais e os ilustres Wayne Hussey e Craig Adams (ambos do The Mission) substituídos por computadores e sequencers.

19. ABC – Alphabet City

Assim como Code, esse álbum também serviu de transição para a dupla, que, posteriormente, foi uma das pioneiras britânicas a flertar com a house music, como também fizeram Style Council, Pet Shop Boys, Cabaret Voltaire e o grupo Blow Monkeys, entre outros. King Without a Crown e The Night You Murdered Love propõem uma sonoridade mais sofisticada e funkeada que o anterior How to Be… (o registro da fase technopop do ABC).

20. Pet Shop Boys – Actually

Como superar o êxito da estreia impecável, inteligente e altamente dançante de West and Girls? Simples! Adicione um toque de soul music na eletrônica, um ícone da “jovem guarda” inglesa (Dusty Springfield) e substitua os takes espertos registrados pelas ruas de Londres por muito glamour, pompa, plumas e um toque de decadência estrategicamente calculada na produção do videoclipe. Eis a majestosa What Have I Done to Deserve It.

21. Eurythmics – Savage

Enquanto o mullet de David Stewart crescia, a partir de Be Yourself Tonight (de 1985), o peso nas guitarras aumentava, culminando com Revenge (de 1986). A retomada do som mais eletrônico da dupla veio com Savage, considerado o predileto pelo casal entre toda a sua discografia. You Have Placed Chill in My Heart, Shame (Dio mio, ma che arpeggio!) e a própria Savage são belíssimas e envelheceram tão bem quanto a dona de suas vozes.

22. Terence Trent D’Arby – Introducing the Hardline According to

Candidato ao trono de James Brown ou quem sabe um sobrinho bastardo de Stevie Wonder? Exageros à parte, Introducing the Hardline According To foi recebido calorosamente pela crítica e figurou todo pimposo nos primeiros lugares das listas de melhores de 1987, quando Sananda Maitrya respondia pelo nome de Terence Trent D’Arby. Coproduzido por Martyn Ware (um dos fundadores do Human League e do Heaven 17), o álbum apresentou uma releitura sensacional de soul, do funk e do r&b e obteve um merecido e estrondoso sucesso ao redor do mundo. E faz um par delicioso com o disco de estreia do Simply Red, lançado dois anos antes.

23. Prince – Sign O’ The Times

“Na França, um cara magrinho morreu de uma grande doença com um nome pequeno.¨ É com essa declaração chocante que começa uma das músicas mais atemporais do pequeno-gigante Prince, abrindo aquele que foi considerado seu álbum mais genial e conturbado até hoje. Tem de tudo um pouco, em se tratando de Prince: electro, funk, electrofunk, new wave, jazz, rock, baladas sensuais com sofisticação e exotismo, rap, psicodelia pop. Só não tem mais a insígnia “& The Revolution”, a banda que também foi responsável pelo megassucesso de Purple Rain. Beeem complicado falar desse discão em poucas linhas.

24. Bryan Ferry – Bête Noire

O sétimo dele, que já foi considerado o “homem mais cool do universo” (isso lá nos idos dos 80), veio mais dançante que o anterior, Boys and Girls, classicão que revelou músicas como Don’t Stop the Dance e Slave to Love (se você tem tipo uns 22 anos, é bem provável que sua mãe tenha engravidado ao som desse hino romântico). Entre os convidados de honra, o destaque vai para Johnny Marr, que praticamente deu de presente o lado B de Bigmouth Strikes Again (a instrumental Money Changes Everything) a Brian Ferry, depois de os Smiths encerrarem as atividades.

25. Swing Out Sister – It’s Better to Travel

Junte um tecladista supercool, e com uma história musical pra lá de interessante (A Certain Ratio, Kalima e até Quando Quango no currículo), com o ex-baterista do Magazine e uma ex-modelo de uma beleza estonteante e capaz de um trinado vocal agudo e digno de uma Mariah Carey. Na época em que foi lançado, o power trio do pop sofisticado conseguiu até desviar a atenção da crítica sobre o Style Council, que acabara de lançar o mediano The Cost of Loving. Até hoje a memória afetiva é imediatamente ativada quando escuto o repique das caixas da intro de Breakout ou quando assisto o clipe de Twilight World.

26. Fleetwood Mac – Tango in the Night

Pratas da casa na programação de rádios como a Eldorado e Apha FM, Everywhere, Little Lies e Seven Wonders são bons exemplos do pop perfeito e maduro produzido por músicos que já foram bem mais da “pá virada” e decidiram dar uma brecada na colocação geral. Referência para alguns dos “bambambãs” da indie dance, como Classixx e Psychemagik, esse é um dos álbuns que garantem um prazer àqueles que curtem soft rock e pop sofisticado – salvo algumas leves derrapadas como a própria faixa-título.

27. George Michael – Faith

É inegável que a parte que diz respeito ao carisma do Wham? era o George Michael. A prova incontestável foi a estreia solo com Faith, que inclui o hit mundial Father Figure, presença onipresente nos karaokês, ao lado de Careles Whispers. Dá pra imaginar um sucesso tão estrondoso vindo do Andrew Ridgeley? Não, né! Tudo bem que foi com Freedom 90 que ele realmente fez uma grande diferença no mundo da música, mas I Want Your Sex já estava quase lá…

28. U2 – Joshua Tree

O contraste visual entre um castelo medieval e seus arredores e um pedaço de deserto é bem grande. Essa disparidade, transportada para o universo sonoro, pode ser constatada entre os álbuns Unforgetable Fire e The Joshua Tree. Ambos produzidos por Brian Eno e Daniel Lanois (credenciais máximas no quesito ambient music), o primeiro veio mais experimental, enquanto o segundo trazia uma influência mais orgânica e americanizada, via folk e blues. Foi com ele que, finalmente, o quarteto irlandês estourou nos Estados Unidos e emplacou mundialmente as messiânicas With or Without e I Still Haven’t Found What I’m Looking For, além da épica Where the Streets Have no Name.

29. INXS – Kick

Partindo do princípio de que cada uma das músicas de Kick deveria ter o potencial de virar um single – e de que estamos falando de INXS -, fica difícil errar o pingo no “i” e chutar para fora do gol. O fato é que o sétimo álbum dos australianos rendeu seis discos de platina e, de tempos em tempos, aparecem edits e remixes bem bacanas e superrespeitosos de Need You Tonight. A valorização do groove e o apelo para as pistas já tinham sido testados em What You Need, do disco anterior (Listen Like Thieves). A partir daí, era só aprimorar a fórmula e conquistar o mundo de vez.

30. Michael Jackson – Bad

Enquanto o INXS cogitava o potencial entre música e single, o rei do pop foi mais avassalador e transformou nada menos que nove entre onze das músicas de Bad em singles. Uhh! Me perdoem o comentário sem noção, mas até a minha avó chacoalhou o esqueleto com o álbum, que ela idolatrava e guardava em sua pequena coleção de discos, entre alguns vinis de ópera. Essa foi a última parceria com o produtor Quincy Jones e recebeu um disco de diamante pela indústria fonográfica americana. R.I.P.